Maria Gabriela Zanotti
E em sua melhor versão. Representatividade, de fato, pode movimentar um público há muito adormecido e desinteressado por mais do mesmo – para quem nunca simpatizou com filmes de super-heróis, as duas horas e vinte minutos de Mulher Maravilha podem assustar.
A fórmula não mudou. Entretanto, um elemento x apresentado em Mulher Maravilha faz com que super-heróis sejam mais interessantes: o protagonismo feminino. A personagem central é uma mulher, a direção é assinada por outra e o enredo trata da história de mulheres independentes, que lideram sua própria ilha.
Antes tarde do que nunca, meninas ocuparão salas de cinema para aclamar o poderio feminino. Esse impacto vai além das telas, com a maior arrecadação na estreia de um filme dirigido por uma mulher – os números mostram que o público esperava pelo estrelato da Mulher Maravilha há tempos.
Patty Jenkins precisava de mais uma chance. Pouco se escutou sobre a diretora desde o último trabalho renomado a frente da direção de Monster – Desejo Assassino, que rendeu o Oscar de melhor atriz para Charlize Theron. Neste trabalho, Jenkins já apresentava um olhar diferente, que caminhou na contramão da sociedade da época que massacrava a serial killer Aileen Wuornos, prostituta que matou sete homens. A diretora humanizou Aileen e tratou a mulher como fruto da sua condição social. Como resultado, uma chuva de críticas que condenaram a diretora por “excessos” e um mercado que fechou as portas para ela.
Já era de se esperar, portanto, que Mulher Maravilha apresentasse um roteiro polêmico. A certeira escolha de diretora garantiu que o longa servisse como uma injeção de empoderamento feminino. A protagonista, alter ego da princesa Diana, é criada por mulheres na ilha fictícia de Themyscira, terra das amazonas. Integrantes de uma antiga nação de mulheres guerreiras da mitologia grega, a relação entre as amazonas retrata a independência feminina, o poder da sororidade e a grandiosidade das personagens, que lutam e governam a ilha.
Na concepção do longa, Themyscira apresenta-se como uma comunidade matriarcal que abstrai totalmente a presença masculina. O filme mostra a determinação e força da protagonista, que treina e estuda a vida inteira para se tornar uma guerreira. Para tanto, Diana não se contenta em ficar na calmaria da ilha e vai para o olho do furacão tomando as rédeas da travessia para encontrar Ares, o deus da guerra. Acompanhada por três homens coadjuvantes, a personagem os surpreende com tantas habilidades, e estes que acreditavam servir de proteção para a princesa, se veem atrás da muralha super-heroína.
Muitos dizem que a protagonista teria sido representada pelo estereótipo de ingenuidade pregado às mulheres. Entretanto, ela se desenvolve de forma independente e cresce na tela do cinema com uma forte presença no enredo. Além disso, as relações mostram-se mais importantes do que os efeitos especiais e explosões. A diretora explora o vínculo afetivo entre Diana e a humanidade, que é apresentada como corrompida e deturpada. Diferentemente do que acreditam, ao final da guerra não é o amor de seu par romântico que a faz seguir em frente, mas, sim, a esperança de que esta humanidade não é de toda ruim.
Após 76 anos de espera para um filme solo da personagem, é lastimável imaginar que há tão pouca representatividade nas telas. Um alvoroçado mercado que busca atingir o público com a crescente ideologia feminista possibilitou que o longa fosse, finalmente, produzido. Apesar do vislumbre financeiro por trás da produção, a importância do filme não diminui.
Mesmo que a representatividade ainda esteja distante de muitas mulheres – a protagonista, vivida por Gal Gadot, traz consigo a pele clara, os cabelos lisos e o corpo perfeito -, conquistar grande sucesso com um filme liderado por mulheres no mundo dos super-heróis após um longo período é louvável. Em tentativas passadas, como em Mulher-Gato (2004, estrelado por Halle Berry) e Elektra (2005, com Jennifer Garner), as bilheterias foram consideradas fracassos comerciais e receberam duros comentários da crítica. Isso serviu por muito tempo como justificativa para que não se fizessem filmes sobre super-heroínas.
O problema até então estava na dificuldade das mulheres de contarem suas próprias histórias. Em Hollywood, escritoras, roteiristas e diretoras não estão à frente de filmes de super-heróis, que sempre estiveram sob a ótica masculina, tanto na direção, quanto nas próprias tramas dessas produções.
Talvez o público de doze anos atrás não estivesse preparado para o girl power crescente nos últimos anos. Mulheres vêm preparando o terreno há muito tempo para que filmes como este tenham o merecido reconhecimento. Elas não estão somente nas telas como coadjuvantes de protagonistas masculinos, como foi o caso da própria Mulher Maravilha em Liga da Justiça; elas estão levantando a voz no mundo real, exigindo representatividade.
Desde os primórdios da produção cinematográfica, somente agora estes títulos estão sendo alcançados. Apesar de importante, não é suficiente. Entretanto, Mulher Maravilha abre espaço para o que há muito se espera: mulheres sendo representadas.
Não gostei de nenhum filme da DC. O filme da Wonder Woman foi o pior. No canal do “Think before you sleep” há um vídeo no qual é falado sobre esse filme.