Coringa: Delírio a Dois foi o fiasco que o primeiro filme não merecia

Cena do filme Coringa: Delírio a dois. Joaquim Phoenix, que interpreta Coringa, é um homem branco, com cabelo de cor verde, e maquiagem de palhaço e veste um terno vermelho Ele está ao lado de Lady Gaga, que interpreta Haarlem Quinzel Ela é uma mulher branca, de pele clara, cabelos loiros e um vestido colorido, os dois estão com uma perna levantada cada, aparentemente dançando.
O corte de algumas cenas da versão final gerou descontentamento dos fãs (Foto: Warner Bros. Pictures)

Lucas Barbosa

Cinco anos após o primeiro filme, Coringa: Delírio a dois não correspondeu às altíssimas expectativas que pesavam sobre o longa-metragem que carrega a continuação da história problemática e exotérica de um dos maiores seres vilanescos do universo dos quadrinhos. Sendo a sombra de uma das melhores películas de 2019, garantindo até Oscar de melhor Ator para o Joaquim Phoenix, a continuação deixou lacunas mal resolvidas, questionamentos desnecessários sobre a história e aquele velho pensamento se uma continuação de uma obra amplamente premiada é realmente necessária.

Dentro do longa, a continuação é historicamente correta. Arthur Fleck (Joaquim Phoenix) está preso dentro do Asilo Arkham, esperando seu julgamento que o sentenciará a morte. Com o desenrolar da história, acaba conhecendo dentro do asilo a personagem interpretada pela Lady Gaga, Harleen Lee Quinzel, que é completamente apaixonada pelo protagonista, e assim a história se desenrola entre o amor dos dois.

Um destaque positivo é a Fotografia, Lawrence Sher novamente deixa o ar noir de uma Gotham City devastada pela violência e desigualdade social, que era um ponto positivo do primeiro filme, e consegue ser primoroso nas cenas que Coringa e a Harleen estavam em evidência. A trilha sonora também merece elogios. As canções interpretadas pelos protagonistas e as trilhas, feitas pela compositora Hildur Guðnadóttir, complementam e aliviam a tensão de toda a jornada do casal do filme.

Joaquin Phoenix está vestido como o Coringa. Ele está sentado em frente a uma mesa dentro de um tribunal, atrás dele está o público que assiste a audiência.
Todd Phillips queria distanciar o Coringa do atributo de herói no segundo filme (Foto: Warner Bros. Pictures)

Gaga e Joaquim Phoenix tentam ao máximo trazer bons momentos de atuação dentro do filme, até mesmo nas sequências de musical, onde conseguem explorar de uma ótima forma a história de amor e loucura dos dois personagens. Entretanto, mesmo com todas as qualidades dos atores, o roteiro fica apenas rodeando entre o psicótico amor entre os dois e deixa de explorar outros bons personagens que o filme introduz, como o Harvey Dent (Harry Lawtey) – o Duas Caras –, que é utilizado apenas nas cenas do julgamento do Arthur e poderia ter mais tempo de tela, mesmo em contato com o Coringa. Outra ótima atuação é de Catherine Keener, interpretando a advogada Maryanne Stewart que, acima de tudo, tentou, minimamente, dar humanidade ao protagonista.

Mesmo com a sequência da fuga do julgamento, que foi a melhor, os momentos finais deixam não apenas um sentimento de dúvida para quem assiste, como também criam uma sensação de desconexão entre as cenas desse longa e do primeiro Coringa, que é aflorado ainda com os últimos momentos do filme. É até possível distinguir em algumas partes se é Arthur ou seu alter-ego falando, entretanto, quando discorre o relacionamento com a Harleen e a percepção de que, mesmo com o julgamento, o seu futuro já está praticamente decretado, o real e a ilusão da personalidade do protagonista entram em conflito. 

Todd Phillips, em Outubro de 2024, deu uma declaração dizendo que Arthur Fleck nunca foi realmente o Coringa, ele era apenas um ícone involuntário que não queria mais toda aquela farsa, e esse é um problema que o roteiro não consegue sustentar por completo, principalmente quando o relacionamento do Arthur e da Harleen começa. A força dele é o desejo de Lee pelo vilão e, assim, o alter-ego do protagonista toma conta durante certo tempo. A cena da demissão da advogada é o ápice da imprevisibilidade e insanidade do protagonista, e no momento que ela vai embora do tribunal, é quando a personalidade do Arthur retorna, se tornando um personagem fraco, solitário e dependente de qualquer tipo de amor.

O Coringa está atrás de uma cela, encostando nariz com nariz Haarlem Quinzel.
“Eu vou te dizer o que mudou, eu não estou mais sozinho.” (Foto: Warner Bros. Pictures)

Arthur Fleck se mistura com o seu alter ego psicótico em certos momentos do filme, onde a solidão e a ruptura dos valores morais e sociais entram em colapso. O Coringa está isolado mesmo com o apoio da multidão e Arthur é solitário pelas suas próprias dificuldades que o seu próprio universo impõe. Quando ocorre essas misturas, é exatamente o momento que as necessidades emocionais dele são supridas, e as loucuras do Coringa são exploradas. O amor por Harleen aflora o delírio dele, e os diálogos com a Dra. Stewart, tentam explorar a humanidade e as fraquezas do réu.

O filme chegou às plataformas de streaming norte-americanas menos de um mês depois  de sair dos cinemas. A estimativa de prejuízo foi de US$ 200 milhões de dólares. As notas ruins nos sites de críticas e o destaque dentro do Framboesa de Ouro, com simplesmente 7 indicações, deixam uma triste realidade. Infelizmente, Coringa: Delírio a dois não correspondeu às expectativas e, mesmo com decentes atuações de seu elenco, o roteiro frágil deixa diversas pontas soltas – que devem ser utilizadas para um spin-off dentro deste universo – que nunca terão soluções. Dessa forma, se consagra o longa entre uma das mais fracas continuações do universo DC Comics.

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