Júlia Paes de Arruda
Consagrado como um dos gêneros mais ouvidos do Brasil, o sertanejo não poderia deixar de referenciar Jorge & Mateus como umas de suas bases sólidas para a disseminação do estilo pelo país. Seria até injusto deixá-los de lado, já que consagram 15 anos de carreira no meio musical. Depois de muito sucesso, Como Sempre Feito Nunca chegou em fevereiro de 2016 como um exemplo de transição, amadurecimento e mudança para os goianos que, após 5 anos, ainda perpetuam nessa nova era de sertanejo universitário.
Há quem diga que a obra destoa dos grandes marcos de Jorge & Mateus. Porém, como todo artista, sempre chega o momento em que prezam por uma sofisticação instrumental. É o caso de Como Sempre Feito Nunca, buscando equilibrar esse novo mergulho em sons mais comerciais com a tradicionalidade que os impulsionaram nessa carreira. Pra Sempre Com Você é a que mais marca essa passagem. A sanfona, tão ligada ao meio sertanejo clássico, entrelaça a pegada nova do pop. Os dois músicos se dedicam ao vocal enquanto a banda alcança a melodia, na construção de uma harmonia que contagie o público. Por causa disso, é a que promove mais interação com os fãs.
Devido a essa mudança, apenas algumas músicas são notórias do álbum. Grande parte do repertório é desconhecida ou simplesmente “esquecida do churrasco”. É o caso de Dias de Sol e O Amor Não é Paixão, as quais, coincidentemente, são regravações de canções emplacadas nas vozes da banda Cheiro de Amor e da dupla Chrystian & Ralf, respectivamente. As letras não são ruins e, muito menos, fogem do romantismo pregado pela dupla. Nesse caso, Jorge & Mateus não souberam desenvolver as faixas de forma adequada para prestar uma homenagem espantosa.
Neste disco, as aparições de Mateus são mais frequentes que nos anteriores, as quais são mais destacadas em em Cilada e Vestígios (2010). Dessa vez, além de Pra Sempre Com Você, o músico dá vida a Vou Voando. De cara, ele envolve uma guitarra com um beat mais eletrônico, mostrando seu talento com as cordas com excelência. Nessa, em especial, as raízes clássicas dão lugar a uma experimentação brilhante.
O clímax do álbum, que explode amor, paixão e cumplicidade, infelizmente é a menos conhecida, apesar de manter os mesmos princípios que conquistaram o sucesso da dupla. Em Aí Já Era, nos deparamos com a perfeita Pra Ter o Seu Amor, impossível de não se emocionar e aconchegar o coração mais apaixonado. Em 2016, Jorge & Mateus poderiam ter dado espaço para que Preocupa Não fosse o novo apego dos fãs, ainda que ela não chegue aos pés da beleza da primeira música. Porém, devido às batidas mais comerciais presente em outras faixas, a canção acaba passando despercebida dos ouvidos do público.
A imersão em compassos não deixa de lado a essência do que é a dupla sertaneja. Com suas letras poéticas e certeiras, não há quem não derreta o coração. O desejo e a emoção percorrem a serenidade acústica de Sosseguei, atravessa a melancolia de Louca de Saudade e aterrissa na enérgica Problema. Todos os arranjos se divergem entre si, mas é possível sentir o aconchego transmitido pelos versos. Pessoalmente, não consigo definir uma frase em específico que traduza esse sentimento. Ouça o disco e tire suas próprias conclusões.
Essa adição de gêneros ao sertanejo universitário conquistou o coração da dupla. O álbum de 2018, Terra Sem Cep, é o exemplo nítido e seguro de que a junção de estilos é magnífica na voz marcante dos músicos. A obra-prima aqui é Anjo Moderno, que cumpriu com todos os requisitos não atendidos em Preocupa Não. A experimentação em Como Sempre Feito Nunca valeu a pena e já deu resultados, provas de que não há como se desapontar com o que Jorge & Mateus produzem. Tudo sempre tem um propósito.
Com 15 anos de carreira, é impossível negar o valioso talento dos amigos. Com uma legião de fãs, que os acompanham ao longo de toda a sua trajetória, Como Sempre Feito Nunca poderia realmente desestabilizar a carreira que Jorge & Mateus alcançaram. Contudo, o trabalho dos artistas falou mais alto e engrandeceu ainda mais o amor dos seus seguidores. Por fim, eu termino esse texto com aquela declaração clichê enaltecida nos shows, que não passa de um desejo inevitável: Pelo amor de Deus, Jorge & Mateus!