Natália Santos, Vitor Evangelista
A sétima arte entrou de luto no fim de março. A cineasta Agnès Varda morreu na noite do dia 28, em consequência de um câncer, aos 90 anos. Fotógrafa, cineasta, documentarista, e formada em psicologia e literatura, ela é hoje o principal nome a lembrar quando se fala em cinema autoral francês de qualidade, a novelle vague – precursora do movimento e uma das raras figuras femininas a compô-lo.
A diretora de clássicos como Cléo das 5 às 7 (1962) e Os Catadores e eu (1999, um dos seus muitos filmes-ensaios documentários) foi assunto da última edição da nossa newsletter (se não assinou, assine já) e não poderíamos deixar de fora na retomada do cineclube, com os destaques do cinemas brasileiros no último mês.
Sem mais delongas, confira abaixo nossa seleção!
A Cinco Passos de Você (2019, Justin Baldoni)
Longa dirigido por Justin Baldoni é só mais um romance teen que tem o tratamento de doença como o ponto central da trama, mas com um clímax e personagens pouco explorados
A história se concentra no relacionamento de Stella (Haley Lu Richardson) e Will (Cole Sprouse), um casal loucamente apaixonado que possui fibrose cística. Uma das restrições dessa doença é que aos portadores devem manter seis passos de distância de outros pacientes com a doença, evitando o toque, a fim de não agravar o estado clínico com infecções, podendo levar a morte. Sim, eu disse seis passos! Sim, o filme chama ‘a cinco passos’!
O longa não foge da receita de filme teen, mensurando de gota em gota momentos de alegria e de tristeza até atingir os créditos. Até esse ponto, o best-seller de John Green, A Culpa é Das Estrelas, também segue o mesmo formato. Além disso, os dois longas aproveitam a montanha-russa de incertezas que uma doença oferece aos seus pacientes para criarem histórias que são imprevisíveis com momentos pontuais de clímax.
O sucesso adolescente de 2014, protagonizado por Ansel Elgort (Baby Driver) opta por oferecer algumas certezas aos espectadores, já neste aqui, vemos um conjunto de personagens que ousam mais viver intensamente mesmo com as restrições da doença. Dessa forma, apresenta apenas incertezas durante todo o longa, fato que o transforma no preferidinho e ao mesmo tempo no odiado dos fãs do gênero. – Natália Santos
Dumbo (2019, Tim Burton)
Fora de tom, Dumbo só decepciona
Dumbo nunca foi lá essas coisas. E não seria agora a hora de mudar. Mais um dos live-actions da Disney, a trama circense de abandono e libertação foi adaptada pelo bola-murcha Tim Burton. O cineasta também nunca foi lá essas coisas, mas isso já são outros quinhentos.
Servindo-se da versão original de 1941 como um argumento inicial, o diretor usa das figuras infantis do filme para erguer uma lona enorme, que no fim não se sustenta por nada, caindo por terra antes mesmo de tentar se firmar no solo arenoso dos Estados Unidos pós-Primeira Guerra Mundial.
Danny DeVito e Eva Green fazem o possível para não se soarem caretas demais. Colin Farrell sofre com os clichês de superação. Michael Keaton está péssimo. As crianças, tenebrosas. O único membro do elenco que (quase) fez valer os nove reais do ingresso nem ao menos era real. O elefante de computação gráfica é identificável e consegue maravilhar os olhos em sequências separadas.
Quanto ao plano geral, é melhor ver a Capitã Marvel mais uma vez. – Vitor Evangelista
Outros destaques que passaram pelo site
Após o sucesso de Get Out, Jordan Peele e a audiência permaneceram em silêncio durante 2 anos na espera de um lampejo em sua mente criativa. Meses atrás, chegaram os pôsteres, trailers e a trilha sonora e junto deles, a expectativa aumentando. E então, a estréia mundial de Us finalmente aconteceu, quebrando recordes de audiência e novamente reacendeu os debates sobre o gênero do horror no cinema. – Egberto Santana Nunes
Capitã Marvel (2019, Anna Boden, Ryan Fleck)
A Capitã é uma ótima primeira protagonista para as super-heroínas. O filme manteve o ar debochado das histórias em quadrinhos, refinando seu humor sarcástico; nada de piadinhas bobas. A construção da personagem foi esmagando estereótipo a torto e à direito. – Lara Ignezli