Leticia Stradiotto
No ano de 2012, dentro de uma garagem em Frankenmuth, cidadezinha alemã de Michigan, o som mais esperado pelos apreciadores do bom e velho rock’n’roll nasceu com a banda Greta Van Fleet. Em seu primeiro trabalho, o EP Black Smoke Rising, o grupo rebateu – com impulso – a polêmica e extremamente cansativa frase “Não se faz mais o rock como antigamente”, o êxito da banda disparou talento e reviveu a intimada e almejada melodia dos anos 70.
Os integrantes fecharam seu primeiro contrato com a gravadora Republic Records para estrearem sua carreira em 2017: o EP Black Smoke Rising foi criado por jovens de pouco mais de 18 anos de idade. Em 2022, completam-se 5 anos de lançamento do primeiro trabalho. É quase inacreditável pensar que o quarteto estava se despedindo da adolescência, considerando a voz potente de Josh e a enorme habilidade nos instrumentos hard rock dos irmãos Kiszka e Danny. Pois então, quando menos esperávamos, Greta Van Fleet nos apresentou uma oportunidade perfeita para a volta do estilo old-school, acionado pela guitarra e por um bom heavy blues.
Extremamente comparados ao Led Zeppelin e às semelhanças da voz de Robert Plant, a mídia aprofundou opiniões. Ao ser questionado em uma entrevista, Plant, o líder do Led Zeppelin, afirmou que Josh é um jovem cantor de bela voz e comentou, em tom de brincadeira: “Eles são o Led Zeppelin. Eu odeio ele (Josh Kiszka), o cara pegou emprestado a voz de alguém que eu conheço muito bem, mas o que pode ser feito?”. É justo ressaltar que a maioria dos artistas especializados em hard rock e blues dos anos 60 e 70 trazem as características principais do estilo, sendo assemelhados também à estrela Jimi Hendrix. O que não é algo ruim, por si só, mas o interessante é utilizar esses recursos para construir uma identidade própria. Em Black Smoke Rising, Greta Van Fleet faz exatamente isso.
A primeira faixa do EP de estreia, a destaque Highway Tune, teve um resultado gigantesco a ponto de permanecer na lista da Billboard por semanas. A música foi muito bem-vinda no mundo musical do rock: ela prende e não solta, como um vício longo e contagiante. Além disso, o primeiro contato aponta o incessante questionamento de ‘caraca, de onde esses caras surgiram?’, em forma de sensação e nostalgia. Os vocais de Josh Kiszka são, de fato, parentes dos de Robert Plant, mas seu dom de equilibrar o caos e a melodia são impressionantes e extremamente difíceis de encontrar.
Já Safari Song inicia com um riff espetacular e um grito estrondoso do vocalista, e se faz o maior pontapé do EP para dentro do tradicional rock’n’roll, com direito a agudos e graves tempestuosos. A faixa soa como um acolhimento para quem suplicava por um novo som de bater cabelo. O baixista, Sam Kiszka, traz a influência do jazz nas suas dedilhadas e a música tem uma incrível quebra no meio, fator imprescindível para a retomada, com força, do pesado estalo.
Em seguida, Flower Power demonstra a maturidade do grupo em suas composições – afinal, Greta Van Fleet está aqui para inovar e experimentar novos tipos de combinações musicais. Dessa forma, o guitarrista Jake Kiszka abre mão de alguns segundos no instrumento e entra com um violão minucioso, em uma pegada de bandolim, que torna o som aconchegante. A dinâmica da canção é resultado de riscos e misturas, até então com pouca frequência no gênero musical, e a faixa se fecha misteriosamente com um órgão de igreja tocando ao fundo.
Black Smoke Rising, composição que dá nome ao EP, é de longe a identidade da banda em sua forma mais íntegra. A guitarra, baixo e bateria estão presos em um groove moderado, que sobe e desce suavemente. Enquanto isso, Josh oferece seu enorme desempenho nos vocais, principalmente durante os refrões, em uma música contagiante e comunicativa, assim como todo o disco. Mesmo após 5 anos, o match com o estilo adormecido há tempos finalmente tem um resultado incrível, que, com muito esforço, agrada os ouvintes de longa data do rock’n’roll.
O EP de estreia de Greta Van Fleet é o primeiro de três CDs. Entre o trio, está From the Fires, álbum duplo composto por oito canções; quatro do trabalho de estreia e quatro faixas novas, que incluem um cover magnífico e super adaptado ao rock da clássica A Change Is Gonna Come, de Sam Cooke. Na época, a banda optou por lançar pequenos EPs ao invés de um disco completo – atualmente, porém, já possui deles, com 12 faixas. O mais recente dos trabalhos, The Battle at Garden’s Gate, revela os principais caminhos para o crescimento e amadurecimento do grupo.
Em Black Smoke Rising, a música tentadora soa como uma homenagem refrescante ao rock clássico e alcança uma abordagem impressionante. Com o destaque em alta, a banda preenche as expectativas e aposta em mostrar ao mundo o que tem a oferecer: o quarteto constrói sua persona de forma vitoriosa. Para os amantes do bom e velho, acompanhar o crescimento de grupos que o revivam nunca foi tão fácil, e o EP inova o gênero, com nostalgia ao mesmo tempo que personalidade. Estamos no tempo perfeito para acompanhar a trajetória de Greta Van Fleet, que segue na ativa, produzindo cada vez mais álbuns e adaptando sua personalidade à cena do rock atual.