Nathalia Tetzner
O que é ser amigo? É brincar depois da escola? Ou ser uma família feliz? Não existe uma única resposta correta para a pergunta. Quando pensamos em amizade, é natural que a nossa mente nos teletransporte para a infância, momento em que os primeiros laços são criados. E não há nada que marque os primeiros anos de vida de alguém na mesma intensidade que um bom programa infantil com um personagem super carismático. Há 30 anos, Barney e Seus Amigos provaram que a amizade pode ser carregada de infinitos significados, pode acontecer de diversas maneiras e pode, até mesmo, ser feita entre crianças e dinossauros.
Magenta, gigante e amigável, o dinossauro Barney fez o possível e o impossível para colocar um sorriso no rosto dos seus companheiros de tela e das diferentes gerações que o assistiram entre 1992 e 2009. Dar vida ao protagonista era uma tarefa tão complexa que desde o seu início ele teve que ser dividido em dois: Bob West, o dono da voz original, e David Joyner, o responsável por carregar a fantasia de trinta quilos e aguentar a temperatura que facilmente passava dos 40 graus dentro da pele do dinossauro. Durante os seus anos de exibição, o programa infantil teve uma série de trocas de elenco que sempre se encaixaram com as expectativas dos novos públicos.
Antes de se tornarem ‘ex-Disney’, Demi Lovato e Selena Gomez foram ‘ex-Barney’. Em 2002, as suas trajetórias se cruzaram pela primeira vez, antecipando os muitos momentos que dividiriam a tela no futuro. Aos 7 anos de idade, elus não sabiam, mas uma legião de fãs passaria a acompanhá-lus. Cantando ao lado de um dinossauro magenta ou enfrentando os apuros do Programa de Proteção para Princesas (2009), elus sempre foram química pura em cena. E nada mais característico do sucesso e relevância de um programa de televisão infantil do que a descoberta e a ascensão dos seus talentos jovens. Cof, cof, O Clube do Mickey (1955-2018)…
Tudo bem, a amizade cultivada por Lovato e Gomez na infância teve o seu apogeu e a sua queda, porém o que é a amizade senão uma eterna montanha-russa de afetos e desafetos? Se o laço é eterno ou não, o importante são as memórias, e a felicidade em assistir um episódio de Barney e Seus Amigos está gravada na mente de muitos adultos que já foram crianças um dia. Além disso, não há culpa em celebrar as lembranças da atração porque o elenco sempre foi repleto de diversidade. Afinal, a amizade é o que une e não o que separa. Barney não ligava para as diferenças e brincou com todos os seus amigos ao longo de quase duas décadas.
O ser jurássico que ressurgiu das cinzas da extinção graças à imaginação fértil das crianças não foi um caso à parte em relação aos seus colegas de espécie. Se os 200 milhões de anos que o separavam de seus amigos humanos nunca foram uma barreira para a diversão, B.J., Baby Bop e Riff também não ficavam para trás. Criados por Sheryl Leach, ao adentrarmos a árvore genealógica dos dinossauros percebemos que a autora não ligou em seguir a lógica da ciência da genética, algo perfeitamente normal para uma decisão criativa e uma visão lúdica sobre o universo. O importante é que ela conseguiu o necessário: a dinâmica entre os personagens gerou aprendizados essenciais e lições duradouras.
Antes da grande criação de Leach ganhar cores na Televisão, uma série em vídeo produzida pelo Lyons Group, chamada Barney and the Backyard Gang, fez sucesso nas locadoras de vídeo estadunidenses ao final dos anos 1980. O projeto propiciou a realização do seu sucessor, o que garantiu a Barney a companhia de outros amigos: B.J., um protoceratops amarelo, impulsivo e irmão mais velho de Baby Bop, uma triceratops verde que adora dançar e não larga o seu cobertor amarelo por nada. Riff, primo dos dois, é um hadrossauro laranja e amante da Música. O programa infantil só poderia receber críticas pelo seu excesso de fofura ou por amar demais.
Ícone pop e referência cultural, Barney e Seus Amigos transitou com facilidade pela Televisão, pela Literatura e pelo Teatro. Onze vezes indicado ao Daytime Emmy Awards e transformado em incontáveis pelúcias, o programa infantil foi aclamado pela crítica e pelo público. Não há como negar a atemporalidade alcançada pela obra que ganhará um live-action para chamar de seu: produzido pela Mattel Films e pelo ator Daniel Kaluuya, figurinha carimbada em filmes de drama e terror, o longa provavelmente adotará um tom mais sombrio para a abordagem do personagem tão querido pelas crianças. Veremos no cinema algo como Scooby-Doo (2002) ou A Casa Monstro (2006)?
Barney foi e ainda é a personificação do conceito de amizade. O gigante amigável fez a alegria acontecer com as brincadeiras mais espontâneas e as músicas mais simples. Ele, B.J., Baby Bop e Riff ensinaram para diferentes gerações o que é ser e ter um amigo, além de conquistarem a amizade de todos que já sentaram no sofá para assisti-los, mesmo que tenha sido nas altas horas da madrugada devido a um sono infantil mal regulado. Se um dinossauro magenta é capaz de criar laços de amizade? Sim. Prova disso? Essa resenha, escrita por uma amiga para comemorar o aniversário de 30 anos da estreia desse ser jurássico e os seus amigos na Televisão.