Laryssa Gonçalves de Lima
“Se eu fosse uma menina em um livro, isso tudo seria mais fácil.’’ A reflexão de Jo March (Saoirse Ronan), diante de suas angústias e a idealização de vida construída sob os livros durante sua formação, molda as percepções de vida da personagem e, também, do espectador. É realmente fácil sonhar com uma vida que pode não agradar as expectativas impostas socialmente sobre uma mulher? Apesar de ser uma obra historicamente um tanto quanto defensiva aos valores morais e civismo, na direção de Greta Gerwig, a mais nova adaptação de ‘Adoráveis Mulheres’, leva as personagens de Louisa May Alcott traçarem os caminhos que sempre sonharam e deixam questionamentos pontuais, contrariando a posição das mulheres da época.
As quatro irmãs Jo, Amy (Florence Pugh) Beth (Eliza Scanlen), e Meg (Emma Watson), juntamente com a mãe Marmee (Laura Dern), lidam com a falta do pai, as dificuldades, sonhos e desilusões de serem mulheres em plena Guerra Civil no interior dos Estados Unidos. No meio de celebrações, companheirismos e performances teatrais as irmãs fortalecem um laço de amizade (e secretas paixões), com o jovem vizinho Laurie (Timothée Chalamet).
Para qualquer um que já esteja familiarizado com os projetos de Greta, é fácil reconhecê-la neste filme por conta de seus discursos femininos emancipatórios. Lady Bird, também protagonizado por Saoirse Ronan, foi o aval da aptidão de Gerwig para lidar com um clássico deste peso, o livro de Louisa May Alcott já passou por mais de 7 adaptações tanto para TV quanto para o cinema desde sua publicação em 1868 e mesmo assim a adaptação não ficou entediante.
Com personalidades únicas e completamente diferentes uma das outras, as garotas se complementam das mais diversas formas. Jo, a protagonista, vive sob os papéis e a escritas e as mão sujas de caneta. Amy é fascinada pelas artes, demonstrando até ser um tanto quanto ingênua nas aparências, mas segundo a tia March (Meryl Streep), é a salvação da família. Meg, a mais velha, deseja uma vida muito diferente da realidade vivenciada pelas meninas. E, por fim mas não menos importante, Beth, introvertida e com poucas aparições, é uma das personagens mais essenciais pairando sob desenrolar da história.
Apesar de grande parte do elenco ser de uma geração mais nova, para além de Emma Watson, a diretora apostou em atores que recentemente estão provando seu merecido lugar no cinema. A dinâmica funciona bem e chega até mesmo ser revelador o quanto o carisma de atrizes tão jovens como Florence Pugh e Saoirse Ronan se destaca, trazendo o melhor e pior de suas personagens, até mesmo perto de outras mais maduras como Meryl Streep e Laura Dern. A performance de Timothée Chalamet não fica para trás, mas não difere muito de outros trabalhos do ator.
Ainda, para quem não está familiarizado com a história original, a narrativa perde-se parcialmente. É possível se ver diante de cortes mal editados e uma linha do tempo livre mas, também, confusa. A mistura inesperada e sem aviso prévio de presente e passado – exceto uma única vez – na vida das irmãs pode não ser muito fácil de acompanhar pelo ritmo rápido que o filme mantém. As inquietudes e aflições das personagens resolvem-se sem muitas delongas ou dramaticidade demasiada, tudo pela busca do momento terno e acolhedor o tempo todo.
As estações do ano se alternam sutilmente durante o longa, com o esmero cuidado de manter a fotografia em cores vívidas, é possível se aquecer até mesmo no inverno das irmãs March. Exceto, quando as irmãs estão separadas ou em momentos de solidão, logo é perceptível a presença de tons mais frios. No mais, a obra percorre por uma fotografia natural, pendente entre o quente e frio e digna dos cenários.
Com a estreia oficial marcada para o dia de natal, Greta Gerwig entrega de mãos cheias todos os sentimentos à flor da pele nas irmãs March: a angústia, felicidade, paixão e perda. Em duas horas é possível derrubar tanto lágrimas de felicidade, quanto de tristeza. Compreender e torcer para cada personagem. E, ao fim, sentir acolhimento na simplicidade da diretora de representar laços ternos e dar toques modernos de independência em uma obra de época.
Agora fiquei cativada e pretendo assistir ao filme, pena que ainda não está disponível nos cinemas. 🙁
Muito bom Laryssa! Sucesso!
Obrigada, Luana! Dá uma conferida nas datas de estreias dos cinemas da sua cidade, garanto que ficará mais cativada ainda pelo filme 🙂