Agata Bueno
Quem diria que um roteiro bem feito e um elenco de peso teria, mais uma vez, nota máxima no boletim? Após duas temporadas de funcionários que entregam o melhor de si com o pouco que recebem do falho sistema educacional norte-americano, o terceiro ano de filmagens dentro da Abbott Elementary rendeu mais uma excursão para a escola toda no Emmy. Dessa vez, além de terem o apoio do Distrito Escolar, a equipe do instituto chega na premiação com personagens muito mais maduros, humanizados e, claro, com nove chances de levar a estatueta para o colégio… ou melhor, para a casa do time de futebol norte-americano Eagles.
Na trama, foram cinco meses de pausa das gravações após a equipe de filmagem ser roubada ao fim da segunda parte da série. Uma estratégia genial que se adapta às interrupções relacionadas à greve dos roteiristas de 2023. Embora as câmeras estejam de volta, nem tudo continua igual após as férias. Novos cargos, projetos e desafios pelos corredores da Abbott Elementary trazem de volta a loucura de uma das escolas públicas mais caóticas da Filadélfia.
O sucesso acadêmico vai muito além das notas no boletim. Com Barbara Howard (Sheryl Lee Ralph), Melissa Schemmenti (Lisa Ann Walter), Gregory Eddie (Tyler James Williams) e Jacob Hill (Chris Perfetti) sob o comando de uma Ava Coleman (Janelle James) mais focada, a sala dos professores ganha um tom mais familiar, mesmo sem Janine Teagues (Quinta Brunson) ali, o tempo todo. Logo na abertura, com o mega-episódio Career Day Part 1 & 2, percebemos o amadurecimento tanto dos funcionários quanto do próprio show.
Essa é uma temporada em que ultrapassamos os portões da Willard R. Abbott junto com a equipe de filmagem e enxergamos rotinas além do horário das aulas. A comédia se mostra tão espirituosa como sempre e acrescenta, com maestria, temas mais tangíveis ao sistema público de educação. Muito além de mostrar a dura realidade de inúmeras escolas, o roteiro de Quinta Brunson – criadora, roteirista, produtora e protagonista da série – traz o humor junto com a exaustão dentro e fora da sala dos professores.
A lista do Emmy 2024 pôde refletir um pouco do brilhantismo de Abbott Elementary. O seriado acumulou nove indicações – o maior número ao longo do programa –, sendo cinco em categorias principais, desde Melhor Série de Comédia até Melhor Atriz em Comédia para Brunson, ganhadora da categoria na última edição. Sheryl Lee Ralph e Janelle James disputam mais uma vez o troféu de Melhor Atriz Coadjuvante em Comédia, enquanto Tyler James Williams vai em busca do título de Melhor Ator Coadjuvante em Comédia. Walter e Perfetti ficam de fora, assim como William Stanford Davis, o zelador favorito de todos, que, mesmo tendo brilhado na temporada, infelizmente, não conquistou a Academia Internacional das Artes e Ciências Televisivas.
Embora a disputa com outros títulos de sucesso na Televisão seja acirrada, as chances de trazer estatuetas para o lar dos Eagles não é nula. Muito pelo contrário, afinal, nada é tão bom o suficiente que não possa melhorar. O roteiro, mais maduro e pronto para lidar com assuntos que vão além das salas de aula, como as necessidades de diferentes estudantes e a importância da conexão professor-aluno, é absorvido por um elenco mais experiente e confiante. A direção traz, diferente das temporadas anteriores, dinamicidade e conforto, mostrando que a Abbott Elementary não é apenas mais um edifício da Filadélfia.
Os veteranos do colégio que o digam. Enquanto testemunhamos uma Ava um pouco mais responsável e mil vezes atrevida, a dupla imbatível do seriado se mostra autêntica. A Sra. Howard e a Sra. Schemmenti estão, finalmente, longe do pedestal criado por Janine, mais humanas e, com certeza, irreverentes do que nunca. Para agregar ao quadro original de funcionários, temos o Sr. Johnson, que acumulou um potencial absurdo durante o show. O zelador ainda é uma caixa de surpresas, mas a personalidade e o desenvolvimento único do personagem traz a espontaneidade necessária para o ano letivo.
Quanto ao trio Janine, Jacob e Gregory, agora, não tão mais novatos, segurança e independência são peças-chave nesse novo momento. Principalmente para a Senhorita Teagues, que explora novas oportunidades, muito mais confortável com os diferentes olhares do público. Enquanto o Sr. Eddie se mostra confiante e espontâneo, Hill ainda dá ‘passinhos’ de bebê ao quebrar os estereótipos que o cercam – o que nos dá esperança de um caminho promissor. A performance dos atores juntos é a estrela dourada quando o assunto é química; seja pelo happy hour ou o romance eles-vão-eles-não-vão entre Janine e Gregory, o futuro da escola está em boas mãos.
Os novos rostos convivem com a equipe já conhecida dos pais e do público – e com Tariq (Zack Fox), que, aparentemente, nunca deixa o colégio. O título de recém-chegado fica com Manny Rivera (Josh Segarra) e a nova turma do Distrito Educacional, que não correm o risco desnecessário de se tornarem os ‘caras malvados’, mas não deixam de acrescentar emoção aos episódios. Aos poucos, sem pressa, entramos nas vidas pessoais dos professores e funcionários da Abbott Elementary. As famílias de Janine, Gregory, Barbara e, até mesmo, Melissa começaram a mostrar as caras só agora e, definitivamente, ainda há muito mais a caminho. Tanto dentro dos próprios lares, quanto em meio a família que vem se formando dentro do colégio.
Com funcionários mais do que especiais, Abbott Elementary explora as adversidades do sistema educacional com uma maestria que aflora a cada temporada. E o segredo para um boletim nota dez? Um humor implacável, crianças prontas para se divertirem e professores criativos são apenas o começo. Os pontos extras na média ficam com a equipe de filmagem pronta para a ação, uma reunião de pais que se transforma em um festival e as excursões inesquecíveis. Mas quem define a nota final são as horas complementares de amizade e romance, e, claro, o desenvolvimento da relação com a audiência, que mal pode esperar para o próximo ano letivo.