Vinícius Santos
“Hello. How Are You?” – ok, é um tremendo clichê, você está certo. Porém, um texto que fale sobre a era 25 de Adele não poderia começar de outro jeito. Considerado um dos álbuns mais aguardados do ano de 2015, 25 completa, nesse novembro de 2020, cinco anos. Data que poderia não ser comemorada, pois, constantemente, a cantora pensa em interromper sua carreira na indústria musical. Bem, todos nós temos delírios, e com Adele não poderia ser diferente.
Por meio de reflexos da vida e do espírito da compositora, o álbum trouxe uma fase mais adulta da recordista de vendas, e rendeu críticas bem divergentes. Há quem diga que, em 25, Adele segue construindo sua ótima discografia, enquanto outros se arriscam em afirmar que o disco é uma tentativa falha de repetir o sucesso do passado.
De certa forma, ambos acertaram. Afinal, a cantora entregou um trabalho esplêndido, mas que não se tornou um marco para o cenário da música. E isso não quer dizer que 25 não apresentou ótimas composições, o problema é que ele não trouxe faixas implacáveis, como Set Fire to the Rain, Someone Like You ou a ganhadora do Oscar, Skyfall.
Adele participou da escrita de todas as canções do disco, sem exceção, mas teve a colaboração de alguns compositores como Greg Kurstin, Paul Epworth e, por incrível que pareça, Bruno Mars. Além de ser produzido por uma equipe eclética com nomes bem diversos, como Ryan Tedder, mais conhecido por ser vocalista da banda OneRepublic, e o DJ Danger Mouse, responsável por um dos álbuns da banda irlandesa U2.
O disco rendeu indicações importantes para Adele. Só no Grammy, o álbum levou os prêmios de Álbum do Ano e Melhor Álbum Pop Vocal. Além de muitos outros como: Melhor Álbum Internacional (Juno Award); Top Billboard 200 Álbum (Prêmio Billboard); Álbum Britânico do Ano (Brit Award); Álbum do Ano (BBC Music Award); Melhor Álbum Vendido (Emma Award).
Com isso, o disco teve uma repercussão muito boa dentro do meio artístico. Em Send My Love, Adele nos traz uma tradição clássica do pop de transformar uma traição numa grande reviravolta. A cada melodia que a britânica canta, milhares de corações quebrados, agora, sentem a auto independência. “Nós dois sabemos que não somos mais crianças”, ela entoa. “Eu perdoo tudo – você me libertou”.
Como a própria disse, esse é um disco para fazer as pazes. Muito além disso, 25 não só acalentou os sentimentos de milhares de fãs, como também incorporou muito de diferentes gêneros. I Miss You – uma das músicas mais impressionantes do álbum e que garante o repeat – é um bom exemplo. A faixa corta, confortavelmente, para um soul retrô e sustenta um ponto alto para o disco. Poderia facilmente ter sido, ao menos, pensada como um possível single para o álbum.
Como em um piloto automático, When We Were Young vem como uma forma da cantora trazer mais ritmo para seu disco. “Você parece um filme, você soa como uma canção”, grita Adele, no primeiro dos muitos momentos de piano animadores. Já em Remedy, mesmo que o significado, na essência, continue o mesmo, ela mostra sua expressão mais séria de devoção até hoje. Em meio a uma entrega vocal de arrepiar, Adele promete ser o remédio (em tradução literal) de seu amante, para a maioria das desgraças do mundo – é a partir de agora que temos um arrastar de ritmo lento e melódico.
E é no melodrama que você pode encontrar Adele, mas não a mesma do lançamento e produção de 25. Em Water Under the Bridge, a cantora ainda parece estar batendo na mesma tecla do ex que alimentou o 21. Infelizmente, mesmo depois de 5 anos, Adkins continua a reverberar esse assunto, que inclusive, é retomado na amargurada Love in the Dark. Podemos concluir que nem o tempo pode curar tudo.
Meio que como uma ‘puxada de orelha’, a dramática River Lea vem para acalmar esse clima pesado das antigas paixões e diz ser preciso esquecer o passado – quase que como um pedido de desculpas. Esse é um grande passo para a popstar. Ver ela seguindo em frente e encerrando uma fase de sua vida é gratificante. Mesmo os traços eletrônicos, e nada satisfatórios, na composição, não são capazes de estragar esse momento. “Todo mundo me diz que é hora de seguir, preciso aprender a clarear e aprender a ser jovem”, começa Adele, em uma confissão que lembra uma introdução meio falada dos álbuns de Marvin Gaye, como em What’s Going On.
Depois de tantos desencantos, restam em 25 três faixas perfeitas e totalmente aclamadas. Embora a calorosa All I Ask não soe como Adele, a faixa entrega uma vibe que mistura Celine Dion, Whitney Houston e vários outros cantores da década de 90. Como mágica, do nada um violão começa a embalar, em uma sequência de acordes puxados para o jazz, e a loira passa a oferecer uma produção íntima em Million Years Ago. “Eu não sou a única que se arrepende das coisas que fiz – eu gostaria de poder viver um pouco mais”, ela chora. E eu acredito nela.
Hello não é para 25 o que Rolling In The Deep foi para o 21. O single de abertura ficou na cabeça de muitos e se consagrou como a marca do álbum, e é uma boa canção. Mas, infelizmente, o crédito para todo esse reconhecimento é, sem sombra de dúvidas, a voz de Adele e seu alcance de notas impressionantes. Tecnicamente falando, o single foi uma grande decepção: o arranjo não atende à energia vocal da cantora. As notas que se estendem por toda a música, muitas vezes, mantêm o básico e não dão estrelato à Adkins. Sem sua voz, só nos restaria dizer Goodbye.
Deixando o melhor para o final, depois de apenas um único verso de Sweetest Devotion, nós podemos perceber a verdadeira mistura dos gêneros musicais que consagraram esse álbum. A melodia entra em uma erupção com um refrão gospel, que depois se torna um ritmo country, e, a partir de então, temos um ataque sutil do rock que já te deixa preparado para um próximo estágio. Aqui Adele encontra a Adele que vem procurando pelo álbum todo. 5 anos depois do lançamento de 25, ela soa como Adele Adkins e ninguém mais.