Marcela Jardim
Blank Space, Shake It Off e Bad Blood são apenas alguns hits de uma das eras mais icônicas da ‘loirinha’. Os clipes, a estética e as músicas do 1989 marcaram a transição de Taylor Swift do country para o pop, que mergulhou de cabeça nesse novo gênero – o que deu muito certo. Red (2012), o antecessor do álbum, já havia mostrado sinais de uma mudança estilística, mas 1989 foi a confirmação dessa transformação, apresentando um som claramente mais synth-pop e inspirado pela década de 1980.
Lançado em 2014, o álbum foi um fenômeno cultural e comercial. Taylor Swift quebrou recordes, vendendo mais de um milhão de cópias na primeira semana nos EUA e ultrapassando dez milhões de exemplares mundialmente. Nove anos depois, a relevância de 1989 foi reafirmada com o lançamento de 1989 (Taylor’s Version), que também atingiu números impressionantes, retificando a artista como uma potência na indústria musical. Swift se tornou a primeira a ter seis álbuns estreando com mais de um milhão de cópias vendidas, um feito que reflete não só sua habilidade como compositora e performer, mas também sua conexão inabalável com os fãs.
O 1989 marcou a revolução do pop na década de 2010, ajudando a consolidá-lo como o gênero dominante da época, com influência de artistas como Madonna, Cyndi Lauper e outros ícones dos meados de 1980. A cidade, o verão, as gaivotas e o ar nostálgico representados na arte do álbum ajudaram a moldar a cultura pop da época. A narrativa de 1989, que o torna um disco autêntico e pessoal, ressoou na forma como os artistas passaram a posicionar seus trabalhos. A busca pelo storytelling que equilibra intimidade e universalidade se tornou uma estratégia comum no pop, exemplificada por álbuns como 25, de Adele, e Melodrama, de Lorde. Musicalmente, o uso de sintetizadores, batidas eletrônicas e uma produção minimalista não só inovaram, mas também influenciaram outros artistas, como Sabrina Carpenter e Olivia Rodrigo, e criaram tendências duradouras no gênero.
O disco é repleto de nostalgia e reflexões pessoais, com letras que lidam com amor, desamor, crescimento pessoal e a busca por identidade. Muitas das músicas do álbum são vistas como autobiográficas, com uma mistura de romance e introspecção. A crítica especializada foi bastante positiva, destacando a maturidade na escrita da artista, que passou a explorar questões de vulnerabilidade e empoderamento de maneira mais complexa. Assim, 1989 venceu em três categorias na edição de 2016 do Grammy Awards, incluindo Álbum do Ano, a principal da premiação.
O impacto de 1989 é visível no sucesso subsequente de Taylor Swift, ao passo que a evolução de sua carreira pode ser analisada à luz do que o disco representou para sua reinvenção artística. A recepção da era, em comparação com outras fases da carreira da ‘loirinha’, foi singular. Além do sucesso do álbum, durante o mesmo período ocorreu os conflitos entre Taylor Swift e Katy Perry, o que resultou na música Bad Blood, faixa em colaboração de Kendrick Lamar. O videoclipe contou com a participação de celebridades e amigas da cantora, como Selena Gomez, Gigi Hadid, Cara Delevingne, Zendaya e Hayley Williams.
O disco foi marcado por videoclipes singulares e hiper produzidos. A produção da faixa de Shake It Off mostra a ‘loirinha’ tentando se encaixar em diversos grupos sociais diferentes, como bailarinas, dançarinos de hip-hop e líderes de torcida. “Ao invés de escrever uma música que estivesse me vitimizando, eu quis escrever uma música alegre, que desse às pessoas uma maneira de aguentar qualquer quantidade de coisas ridículas que a vida está colocando no caminho deles. Mas que também os faça querer dançar”, declarou a artista em entrevista para iHeartRadio, explicando o significado da canção e sua representação visual, que conta com mais de 3.5 bilhões de visualizações no Youtube.
Em Blank Space, a cantora contracena com o modelo norte-americano Sean O’Pry, onde há uma sátira em que a namorada é possessiva, carente e dramática e, ao descobrir que está sendo traída, faz a vida do ex um inferno, afirmando que ele logo será substituído. Taylor Swift inspirou sua personagem a partir das críticas e suposições da mídia em relação a sua pessoa, como disse na entrevista para iHeartRadio. “Comecei a pensar em como este personagem é interessante, se ela fosse uma pessoa real com todas estas qualidades e atributos, qual música ela escreveria? E tenho quase certeza que seria assim”, conclui. Já o clipe de Wildest Dreams captura o tom emocional da música, unindo beleza visual e uma narrativa sobre a efemeridade do amor. Com uma estética deslumbrante e cinematográfica, ele evoca romantismo e saudade, apesar de enfrentar críticas por possíveis conotações colonialistas. Ainda assim, destaca-se como um marco visual na carreira de Swift.
Ao comparar as faixas You Are In Love e This Love, revela-se uma narrativa de amadurecimento e introspecção emocional, características do universo lírico de Taylor Swift. Em ambas as músicas, encontramos retratos poéticos do amor; a primeira destaca a serenidade e a cumplicidade de uma relação estável, enquanto a segunda aborda a ideia do amor que vai e volta, sendo moldado pelo tempo e pela aceitação de sua natureza cíclica. Esses temas se conectam à visão mais madura da artista sobre relacionamentos, presente no álbum 1989, onde ela reflete o impacto do tempo nas conexões emocionais.
Porém, já em composições como How You Get the Girl e Wonderland, se oferece visões contrastantes sobre o amor e os desafios que o cercam, refletindo a habilidade de Taylor Swift em explorar nuances emocionais complexas. Em How You Get the Girl, ela adota um tom direto e quase didático, descrevendo como reconquistar um amor perdido, capturando a simplicidade e a vulnerabilidade dos relacionamentos juvenis. Wonderland utiliza a metáfora do clássico de Lewis Carroll, Alice no País das Maravilhas, para representar a sedução e o caos de um romance avassalador, onde a paixão desenfreada leva à perda de controle. Juntas, essas faixas mostram como Swift navega por diferentes dimensões do amor, equilibrando leveza e intensidade, e demonstram sua habilidade para transformar experiências pessoais em histórias que ressoam universalmente.
Abordando outro lado do amor, a música All You Had To Do Was Stay explora diferentes estágios de frustração e nostalgia que emergem em relacionamentos complicados, destacando a habilidade de Taylor Swift em capturar nuances emocionais universais. Há um lamento direto sobre a simplicidade de manter uma conexão que foi quebrada, expressando vulnerabilidade através de um refrão marcante inspirado por um sonho peculiar. Já Welcome To New York é uma das faixas que destacam temas de autodescoberta, liberdade e o impacto da mídia na vida pessoal, compondo uma narrativa coesa sobre como Taylor Swift lida com sua imagem pública e suas experiências pessoais. Há uma celebração da reinvenção, com a cidade simbolizando um espaço de liberdade e possibilidades, a música reflete otimismo e uma visão utópica, mas também pode ser vista como um comentário sobre a busca por autenticidade em meio à pressão da mídia.
Por fim, Clean, última faixa da primeira versão de 1989, foi escolhida pela artista para encerrar o álbum devido ao seu significado pessoal e emocional. Para ela, a canção representa a conclusão de um processo de superação que ela vivenciou nos últimos anos, especialmente em relação à exposição e críticas intensas sobre sua vida pessoal. Durante esse período, Swift sentiu que a atenção sobre sua vida fora da música havia ofuscado suas realizações artísticas, mesmo enquanto fazia shows lotados ao redor do mundo e conquistava sucesso com suas canções. No entanto, ao finalizar o disco, a compositora sentiu que havia recuperado o controle de sua narrativa, com a música novamente no centro das discussões. A música aborda a experiência de enfrentar a dor e, com o tempo, alcançar a superação, refletindo o momento em que Taylor se sentiu renovada e em paz com sua trajetória.
A The 1989 World Tour, que aconteceu em 2015 para promover o álbum, foi cuidadosamente elaborada para criar uma experiência imersiva. O palco principal possuía uma passarela extensa que aproximava a cantora do público, complementado por plataformas móveis, telões gigantes e um sistema de iluminação sincronizado com cada música. Os figurinos glamourosos e futuristas refletiam a estética arrojada e sofisticada do disco. Além das coreografias elaboradas e energizantes, um dos elementos mais inovadores foi a distribuição de pulseiras LED aos fãs, que piscavam em sincronia com a música, transformando a plateia em parte do espetáculo.
A mensagem central da turnê foi o empoderamento feminino e a celebração da auto-descoberta. Em discursos entre as músicas, a cantora frequentemente compartilhava reflexões sobre sua jornada pessoal, destacando temas de força, superação e independência. Um dos aspectos mais comentados da turnê foi a presença de convidados especiais em quase todas as apresentações, como Mick Jagger, Justin Timberlake, Lorde e Serena Williams. Essas participações tornaram cada show único, adicionando um elemento de imprevisibilidade e encanto ao espetáculo. Considerada como a turnê mais lucrativa de 2015, a grandiosidade do espetáculo fez com que a The 1989 World Tour se tornasse um marco cultural e artístico, elevando os padrões para turnês pop.
Da mesma forma, o ato de 1989 na The Eras Tour é uma celebração vibrante e nostálgica de uma das eras mais transformadoras da carreira de Taylor Swift. Durante os shows, a cantora revive os hits como Blank Space, Shake It Off e Style, mas agora com uma energia renovada, que reflete não apenas seu crescimento como artista, mas também a ressignificação emocional dessas músicas uma década depois. Enquanto a era original de 1989 foi moldada pela estética clean e moderna, inspirada na década de 1980, com referências sutis à moda vintage e aos sintetizadores pulsantes que definiram o som do álbum, na The Eras Tour o ato se destaca por uma produção visual grandiosa. As roupas usadas por Taylor no palco são brilhantes e glamourosas, evocando um senso de espetáculo que ultrapassa a sofisticação discreta do passado. Os telões e cenografias utilizam tons vibrantes e luzes dinâmicas, complementando a energia contagiante das músicas e recriando o ambiente pop otimista que o disco trouxe ao cenário musical na época.
A regravação do álbum foi tão bem recebida pelos fãs da artista quanto a primeira versão. A produção do Taylor’s Version é fiel ao som cristalino e moderno da discografia original, com toques atualizados que refletem o amadurecimento vocal e técnico da cantora. Suas interpretações agora soam mais maduras, mas sem perder a energia e o frescor que tornaram 1989 tão impactante. As ‘faixas do cofre’, como Is It Over Now? e Now That We Don’t Talk complementam perfeitamente o restante do álbum, explorando temáticas de amor, saudade e superação com a profundidade lírica característica da compositora. Essas adições não apenas enriquecem a discografia, assim como também dão aos fãs novos vislumbres das histórias e emoções da era 1989. Assim como as regravações anteriores, 1989 (Taylor’s Version) reafirma a posição de Taylor como uma artista que luta pela autonomia e pelos direitos criativos, enquanto celebra sua própria evolução e relação com os fãs.
Uma década após seu lançamento, 1989 consolidou-se como um marco na história da música pop, redefinindo a trajetória de Taylor Swift e ampliando seu alcance artístico. O álbum apresenta letras que capturam com precisão as emoções e os dilemas de uma jovem adulta. Com hits atemporais, o disco não apenas dominou as paradas, mas também trouxe uma nova estética visual, minimalista e moderna, que influenciou profundamente a cultura popular. O sucesso de 1989 se refletiu em sua recepção crítica e comercial, incluindo múltiplos Grammys, além de recordes impressionantes de vendas e streaming. 1989 transcende o tempo e, mais do que apenas uma coletânea de músicas, o disco é um testemunho atemporal de reinvenção, relevância cultural e da capacidade da Arte em refletir e moldar uma geração.