Spotlight: Segredos Revelados é uma empolgante história sobre jornalismo

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Lucas Marques dos Santos

Em uma análise comparativa, Spotlight: Segredos Revelados se assemelha a sua temática, o processo de reportagem clássico e ideal: para a mensagem ser clara e objetiva, o texto segue formas funcionais, mas que não limam a subjetividade de um bom repórter.

Dirigido por Tom McCarthy (O Visitante, Ganhar ou Ganhar – A Vida é um Jogo), o filme narra a história real da equipe Spotlight do jornal Boston Globe, designada para histórias que necessitam de mais tempo de apuração, na produção da série de reportagens que deflagraram casos de pedofilia cometidos por padres católicos e acobertados durante anos pela Igreja.

O filme inicia com a chegada do novo editor-chefe, Marty Baron (Liev Schreiber), ao jornal bostoniano, que, apesar dos trejeitos e voz calmos, balança a primeira reunião de redação ao mostrar que o caso de assédio de um padre relatado em uma simples crônica, que logo seria esquecido, merecia uma cobertura maior. A inserção do editor denota que foi preciso um elemento de fora para revelar um problema de dentro.

Assim, Baron e o outro editor Ben Bradlee Jr. (John Slattery), que representa a convalescência antiga do jornal, encarrega a Spotlight para cobrir o caso. Chefiados por Walter Robinson (Michael Keaton), a equipe formada por Mike Rezendes (Mark Ruffalo), Sacha Pfeiffer (Rachel McAdams) e Matt Carroll (Brian d’Arcy James) adentram em uma história que se aprofunda cada vez mais. Não só a Igreja se encontra corrompida, mas o sistema social.

Já na mencionada cena da reunião da redação é possível perceber a estrutura de cena que vai nortear a película inteira: o plano geral, que estabelece o ambiente e as personagens, seguido por cortes um pouco mais próximos das personagens, nos quais os diálogos situam as participantes e seus interesses, e culmina no plano fechado, no qual as tensões se acentuam. Tal escolha pode parecer ortodoxa, mas encaixa muito bem na relação entre jornalista e fonte e na questão dos conflitos de interesse, presente até entre os mesmos profissionais.

Assim também como manda a cartilha do jornalismo, o diretor permanece “invisível” na narrativa ao destacar apenas o que julga importante, porém não deixando de criar expectativa para os novos enlaces da história.

Spotlight
Filme resgata o romantismo pelo jornalismo dos filmes e séries dos anos 70 e 80.

Um dos grandes destaques do filme é a criação das personagens, promovido tanto pelo desempenho do elenco como das escolhas de figurino e cenário, que exaltam e identificam cada personalidade, mas com cuidado para não cair em estereotipações rasas. A figura máxima da Igreja em Boston, o cardeal Law, exibe uma cruz enorme no peito. O terno desalinhado e o escritório bagunçado do advogado (interpretado excelentemente por Stanley Tucci), que revelam o desencantamento de sua personalidade, contrastam com o falso profissionalismo do desafeto de profissão Eric Macleish (Billy Crudup).

Já em relação aos membros da Spotlight, o jornalista de Mark Ruffalo, o que mais trabalha na rua e exibe um comportamento impaciente, utiliza camisetas polo, o que difere das camisas dos outros membros da redação, principalmente d’Arcy James, quase sempre preso ao escritório. A personagem de Michael Keaton é a que mais alterna estilos, justamente por transitar entre círculos sociais. A jornalista de Rachel McAdams possui um interessante arco ao conflitar profissão e religião.

Por se situar entre os anos 2000 e 2002, o filme toca brevemente nos impactos dos atentado de 11 de setembro e no começo da relação da internet com o jornalismo. A repetição da estrutura pode incomodar em alguns momentos, mas Spotlight: Segredos Revelados, assim como uma boa reportagem, apresenta uma narrativa que flui bem e é relevante.

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