Mad Max: Estrada da Fúria, o reboot da distopia

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Mariane Arantes

Segundo o próprio diretor George Miller – premiado pela Academia em 2007, por Happy Feet -, não havia necessidade de fazer outro Mad Max. Ele já tinha feito três deles na década de 80: Tina Turner já havia marcado a geração de fãs cantando “We Don’t Need Another Hero” para a trilha sonora, Mel Gibson já tinha dado o seu melhor encarnando Max Rockatansky, guerreiro das estradas de um futuro distante procurando vingança pela assassinato de sua família. Porém, em entrevista concedida ao American Film Institution no ano passado, George Miller conta que a vontade de fazer mais um Mad Max patrulhou seu pensamento por muito tempo, onde quer que estivesse.

Com orçamento de cinquenta milhões de dólares, parceria de longa data com o diretor de efeitos especiais Guy Norris, e roteirizado pelo próprio George Miller, Brendan McCarthy e Nico Lathouris, surge então o novo Mad Max: Fury Road, lançado em 2015, após mais de 15 conturbados anos em produção.

Indicado ao Oscar deste ano na categoria de Melhor Filme, o novo Mad Max tem o que a trilogia anterior não teve: é o primeiro a ser lançado em 3D. Ainda assim, mantém a estética original, com quase nenhuma cena computadorizada, e utilizando-se de uma grande equipe de dublês, o que é, no mínimo, impressionante. Não é para menos que foi aclamado universalmente como melhor filme de ação do ano de 2015.

“Nós quisemos fazer bem real. Carros de verdade, lugares reais, movimentos e façanhas reais”, conta Guy Norris, para Rolling Stone norte-americana, sobre cenas com efeitos não computadorizados (No-CGI).

A locação do filme é o Deserto na Namíbia, a oeste do continente africano, para dar tom ao mundo apocalíptico ambientado na Austrália. Tudo se passa numa  sociedade comandada por Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne), senhor de guerra governante que vive acima das pessoas na Citadel e possui dezenas de escravas sexuais, com a desculpa de buscar filhos perfeitamente saudáveis. O principal antagonista de Mad Max é um vilão complexo; seu título de militar oficial e aparência má são contraditórios quando comparados ao seu corpo morto oxigenado por uma máscara, repleto de tumores e cicatrizes.

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Immortan Joe, interpretado por Hugh Keays-Byrne, ator que em 1979 viveu o motoqueiro Toecutter em Mad Max

Periodicamente, Immortan Joe envia sua máquina de guerra para trazer combustível da Vila do Combustível e munição da Fazenda da Bala. O comboio militar é comandado por Imperatriz Furiosa (Charlize Theron), uma guerreira que tem o braço esquerdo mecânico. Cansada da situação em que as parideiras de Joe vivem, Furiosa  as desvia secretamente do caminho a fim de levá-las ao suposto lugar de seu nascimento, Green Place, onde seu clã original a espera, as Vulvalinis. “Nossos filhos não serão homens de guerra”, encontra Immortan Joe escrito no cativeiro das cinco parideiras. Imediatamente, ele envia todos seus devotos guerreiros de meia-vida em busca de Furiosa pelas estradas de Valhala.

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As cinco noivas de Immortan Joe: Toast, a sábia; Angharad, a esplêndida; Cheedo, a frágil; Capable e The Dag

Tom Hardy dá vida a Max Rockatansky, um anti herói traumatizado, selvagem e instintivo que tem até então só a “companhia” das vozes de sua cabeça. O Max insano e perseguido por fantasmas só se torna mais silábico depois de encontrar Furiosa. Antes do encontro, está sendo usado como “bolsa de sangue” de Nux (Nicholas Hoult), um garoto de meia-vida que também está na perseguição de Furiosa. A partir daí o roteiro se desenrola de maneira simples: Mad Max e Nux se juntam em parceria a Furiosa para chegar ao Green Place e deixar as parideiras a salvo, mas chegando lá o lugar se tornou um pântano tóxico. Num primeiro momento, todos seguirão em caminhos separados em busca de um novo mundo. Porém, Max os convence que derrubar o império de Immortan Joe pode ser mais efetivo e trazer resultados mais imediatos para uma população faminta e escravizada.

O desfecho do filme foi apelidado por Guy Norris como “sequência de dança dos caminhões”. O deserto plano permitiu a produção da cena de uma armada de mais de 75 veículos, algo que nunca tinha sido realizado na história do cinema.

No meio das cenas de guerra, é introduzido um dos personagens mais marcantes do longa: Coma-Duff Warrior. O sinistro músico mascarado acompanha a milícia de Immortan Joe enquanto toca sua guitarra que atira chamas de fogo. O guitarrista é um recurso da trilha sonora para alertar sobre a chegada de Immortan Joe.

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Coma-Duff Warrior e a milícia de Immortan Joe

Mad Max: Fury Road não possui muitos diálogos, já que o diretor George Miller não queria que o filme fosse exportado com legendas. Para ele, tudo o que a audiência precisava saber era quem são os “mocinhos e vilões”.

Logo após lançamento do filme, ativistas americanos pelos “direitos dos homens” polemizaram o filme alegando ser uma propaganda feminista, devido ao protagonismo de uma atriz. George Miller respondeu à polêmica afirmando que “só tinha feito um filme de ação feminista quando o contaram que ele tinha feito um”, e que “sempre foi fascinado por guerreiras femininas de estrada”.

Além de indicado na categoria filme do ano, o Mad Max concorre à direção, fotografia (John Seale), direção de arte, montagem figurino, maquiagem e penteado, edição de som, mixagem de som e efeitos visuais.

Feita pela parceira e colaboradora de longa data Margaret Sixel, a edição chama a atenção. Foram mais de 470 horas de vídeo, em 20 câmeras diferentes, até chegar à versão final de 2 horas. O filme tem mais de 2700 cortes,  uma média de 1 a cada 2.6 segundos, imprimindo um ritmo acelerado à ação.

Na premiação britânica BAFTA realizada este mês, o filme venceu nas categorias de melhor maquiagem e cabelo, melhor edição e melhor figurino, trilhando um caminho promissor para as mesmas categorias no Oscar.

Talvez George Miller não suba no Teatro Dolby em Los Angeles dia 28 de fevereiro para receber a estatueta do Oscar, por concorrer com outros filmes de forte apelo à academia. Mesmo assim, realizou uma explosiva sinfonia visual composta por oitenta por cento de cenas reais. Mad Max: Estrada da Fúria é um sci-fi apocalíptico de perseguição contínua que não será esquecido tão cedo.

 

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