Melhores discos de Maio/2017

kid vinil

Adriano Arrigo, Gabriel Leite Ferreira, Matheus Fernandes e Nilo Vieira

O ícone grunge Chris Cornell cometeu suicídio, e dois dias depois o lendário Kid Vinil (fotografado acima) faleceu. A chuva veio forte em Bauru, e o céu escureceu. É, maio foi mesmo um mês cinzento, e isso se refletiu até nas capas de nossa seleção mensal. Felizmente, o conteúdo é variado e abrangente o suficiente pra ninguém se deixar abater com essa nuvem negra. Aqui vão as nossas escolhas:

alex g

(Sandy) Alex G – Rocket

indie rock / lo-fi

Expoente do pop intimista da Orchid Tapes e colaborador de Frank Ocean, Alex G é o músico mais influente que você ainda não conhece. Rocket, seu novo disco lançado pela gigante indie Domino, oferece o ponto de entrada perfeito em sua prolífica discografia.

Em suas 14 faixas, espalhados em pouco mais de 40min, o músico, parte de uma geração de compositores de quarto, experimenta com o country e o indie folk em múltiplas variações, sem nunca perder a sensibilidade que definiu sua sonoridade. (MF)


burial

Burial – Subtemple / Beachfires

música eletrônica triste

O misterioso William Emmanuel Bevan se basta. Extremamente recluso, o produtor conhecido pelo pseudônimo Burial nunca se apresentou ao vivo ou participou de uma sessão de fotos promocionais. Nos últimos anos, o comportamento antissocial chegou a ponto de afetar sua carreira: Bevan literalmente trocou a música pelo game Dark Souls 2 em 2014.

Mas eis que no presente ano o lendário Burial finalmente volta à cena no formato que o consagrou. Ou quase. Subtemple / Beachfires segue o padrão da maioria de seus lançamentos, isto é, um EP de capa discreta com duas ou três faixas. O dez polegadas segue o rastro do single Young Death / Nightmarket (2016), mas decompõe totalmente os samples desoladores dos protótipos de batidas. O resultado é um ambient extremamente abstrato até mesmo para os padrões do estilo, baseado apenas em ecos de vozes, passos e demais parafernálias que Bevan lança mão. A recepção morna do material só fez aumentar a aura estranha do objeto. Veremos o que Burial nos reserva no futuro próximo. (GL)


do make say think

Do Make Say Think – Stubborn Persistent Illusions

post-rock

Após exatamente 10 anos, a banda canadense Do Make Say Think volta em Stubborn Persistent Illusions para manter o ritmo consistente de seus últimos álbuns.

Sob a vigia da já consagrada Constellation Records, o disco tem grandes momentos como ouvimos em “Bound” que mostra a incrível capacidade da banda em criar muito em pouco espaço de tempo. Sua continuidade em “And Boundless” funciona circularmente e complementa o melhor momento do disco.

“Her Eyes on Orizon” entra silenciosa e experimenta em leves toques de free jazz que segue para uma ambientação de solo para “Shlomo’s Son” que, no disco, serve como um excelente interlúdio, como já esperamos em grandes discos de post-rock.

Obviamente Stubborn Persistent Illusions não é um marco do post-rock, mas é um lançamento coerente na seca que o gênero passa nos últimos anos. (AA)


ellen allien nost

Ellen Allien – Nost

techno

A intrínseca ligação entre Ellen Allien e as noites de Berlim estão de volta em Nost, o oitavo disco da sua carreira. Em suas 8 faixas, o disco está fortemente enraizado ao techno, tema esse que correu pelos cantos em suas últimas produções.

A abertura “Mind Journey” é um exemplo dos bons momentos do disco. Ritmos sólidos, repetições e vozes extra-humanas vão se amarrando até se desconstruírem ao final, onde somente as batidas são ecoadas. O mesmo se faz em “Call me”, o destaque do disco, que desponta com um vocal frio atrás de sexo, uma brincadeira que Allien faz com aplicativos de relacionamento. “Electric Eye” adiciona leves sintetizadores a trilha principal e “Physical” pisa no solo do onírico sem sair da linha rígida de repetições do disco.

Após o excelente pop de Dust (2008), o minimalista Sool (2010) e o conceitual Lism (2013), Nost chega sem muitas experimentações e vertentes afloradas. Porém, sua solidez reside no clássico techno que Allien estava nos devendo. (AA)


forestForest Swords – Compassion

ambient dub

Em Engravings, um dos discos eletrônicos mais únicos da década, o britânico Forest Swords compôs uma intricada e hipnótica parede de sons de inspiração tribal, transmitindo a sensação do interior de uma floresta densa. No seu sucessor, Compassion, o músico tenta expandir essa sonoridade, apostando na organicidade provinda de uma instrumentação mais variada e do uso de samples vocais, quase sempre abstratos. Mais humano, sem perder os pontos fortes da mistura entre o dub jamaicano e o downtempo. (MF)


jlin

Jlin – Black Origami

footwork

Ex-funcionária de uma metalúrgica, relembrando as origens trabalhadoras da música eletrônica a produtora Jlin surpreendeu a crítica com sua estréia Dark Energy, uma mistura brutal entre industrial, IDM e o footwork de chicago.

Em Black Origami, Jlin leva aos limites a percussão do gênero, conciliando o eletrônico de vanguarda com as origens de dança do ritmo, provando-se uma sucessora digna para DJ Rashad, falecido em 2014. (MF)


mc bin laden

Mc Bin Laden – É Grau EP

funk carioca, avant-garde

Elevado ao posto de meme no último Carnaval com o hit “Tá Tranquilo Tá Favorável”, MC Bin Laden agora quer invadir definitivamente o mercado norte-americano. O mais experimental dos funkeiros, ele começou a fazer barulho na cena paulista por conta das letras e samples fora da caixinha e da proposta teatral de seus shows: cercado por dançarinos trajados como árabes, Bin Laden enunciava versos sobre rolês de motopassinhos esquizofrênicos e incidentes banais motivados por drogas.

Com a exposição midiática, vieram algumas modificações: menos lança, mais interjeições e conteúdos palatáveis para o mainstream. O carisma do MC, porém, segue intacto. É Grau, lançado pelo selo True Panther Sounds (Ty Segall, Cloud Nothings), é um aperitivo da irreverência do paulistano e arrancou elogios de sites conceituados no meio alternativo, como Resident Advisor e Pitchfork. Nada mais justo. A estética minimalista tão valorizada pelos hipsters, que inclui drones e música concreta, está aqui. E se nem todas as seis faixas chegam ao nível da clássica “Bololo Haha” (melhor flow que você respeita), ao menos a originalidade dos beats esqueléticos de Bin Laden se mantém. Tá tranquilo, tá favorável. (GL)


slowdive

Slowdive – Slowdive

dream pop, shoegaze

É um disco de retorno apenas confortável, mas quantos não o são? Neste aguardado play, os britânicos do Slowdive basicamente reafirmam que estão vivos e ativos, com composições competentes e um produto final fechado.

Se as canções não se aventuram além dos parâmetros estabelecidos por eles há 25 anos atrás, também mostram que eles ainda estão em plena forma – tanto que, ao vivo, o negócio funciona melhor – e não ostentam o posto de medalhões do shoegaze à toa. Tudo aqui soa levemente familiar, e a intenção (realçada pelo título homônimo) era exatamente essa: eles são pioneiros do gênero, este ainda é o som deles. A bem da verdade, a função deste disco era oficializar o começo de uma nova caminhada para a banda e, felizmente, o primeiro passo foi dado com o pé direito. (NV)


the ruins of beverast

The Ruins of Beverast – Exuvia

death doom metal

Já na década passada, a grande obra do estilo primava mais por uma execução afiada que por experimentalismos. Como o gênero é caracterizado por composições longas e cadenciadas, os menos pacientes acabam tendo pouca disposição ou, pior ainda, ouvindo novos discos de death doom com má vontade.

Uma pena, pois essa preguiça deixa por passar também as pepitas que vez ou outra surgem em meio à neblina. A bola da vez é o quinto álbum desta banda alemã, que alia longos trechos meditativos a um peso sonoro quase punitivo. A temática mitológica guia as letras e transparece em partes do instrumental, com instrumentos fora do eixo tradicional metálico e ritmos tribais, mas a gravação exala frescor. Pra coroar, disponível de graça no Bandcamp: uma morte lenta, épica e deliciosa. (NV)

 

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