Justin Bieber lava a alma em Justice

Capa do álbum Justice, de Justin Bieber. O artista é um homem branco, de cabelos loiros, e está com uma roupa inteira preta, dentro de um túnel. O cantor está agachado no meio da rua, de olho fechado e com uma das mãos em seu rosto. Em seu pescoço ele tem uma tatuagem de rosa. Na parte inferior da foto, está o nome Justice, em um tom de verde claro e logo abaixo está escrito Justin Bieber, em letras menores.
O responsável pelas fotos do álbum é Rory Kramer, amigo e fotógrafo de Justin, o qual dirigiu o clipe de “I’ll Show You”, na era Purpose (Foto: Def Jam)

Giovana Guarizo

A injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à justiça em todo lugar”. É com as palavras poderosas de Martin Luther King Jr. que Justin Bieber dá início ao seu álbum mais recente. Um disco que transmite paz, mas também desabafa sobre tudo o que está entalado na garganta do canadense. O álbum é exatamente aquilo que você precisa ouvir em um banho quente, com meia luz e depois de um dia difícil. Ele fala de amor, fé, ansiedade e inseguranças reconfortantes, as quais você consegue se identificar. Justice é um respiro em meio a momentos caóticos. 

Já de início, é preciso destacar que o CD é um dos melhores feitos de Justin, porém, não é coeso. O nome Justice e os fragmentos do discurso do ativista Martin Luther King Jr. deixam o ouvinte com expectativas distorcidas do que ele realmente irá ouvir. As falas de Luther King são potentes e democráticas e não se encaixam no conteúdo do canadense: sua vida pessoal. Mas, por incrível que pareça, isso não diminuiu a qualidade do disco, que recebeu nada mais, nada menos, do que 8 indicações ao Grammy Awards de 2022, incluindo a tríplice de maior expressão: Álbum do Ano, Gravação do Ano e Canção do Ano.

Justin Bieber está posando para uma foto, segurando sua estatueta dourada do Grammy. Ele usa um boné preto e uma jaqueta com estampa de onça.
Bieber levou seu primeiro Grammy em 2015, pela música “Where Are U Now”, parceria com Diplo e Skrillex (Foto: Danny Clinch)

Geralmente, é difícil se identificar logo de cara com as primeiras canções de um álbum, aquelas que não são singles e nem foram pensadas para serem tão amadas assim. Mas 2 Much, Deserve You e As I Am conseguem fazer isso com maestria. As três faixas são muito serenas e relaxantes, com destaque para a terceira, que é uma das mais aclamadas pelos fãs e público em geral. As I Am é um feat bem pensado com o cantor Khalid, em que ambos entregam muito vocal. E particularmente falando, não tem como errar com Khalid.

É impossível não comentar o quanto o loirinho se supera nas performances. A era Justice proporcionou aos fãs muita divulgação ao vivo, entre elas, uma live de 5 músicas, em um hotel de Paris, incluindo o single badalado Hold On. E já que falamos de single, o álbum de 16 faixas foi bem aproveitado por Bieber, rendendo músicas que ficaram no topo das paradas e dos streamings. Dos maiores, podemos citar Peaches, Anyone e o desabafo doloroso Lonely. Na parceria com benny blanco, Justin explica como foi difícil e solitário crescer com o mundo o julgando por atitudes infantis: “Talvez, quando eu for mais velho, tudo se acalme/Mas isso está me matando agora”, desabafa.

O foco principal do álbum é amor e fé, dois tópicos extremamente importantes na vida de Justin. O cantor passou por momentos muito conturbados nos últimos anos, e assim como Kanye West, decidiu dedicar seu trabalho a Jesus. Bieber assumiu, em uma entrevista, que era viciado em sexo e drogas. Chegou, até mesmo, a chocar os fãs quando disse que houve uma época em que seus seguranças precisavam checar seu pulso todas as noites, para se certificar de que ele não havia sofrido uma overdose. O caminho do canadense foi muito difícil até aqui, porém, é visível que ele está em sua melhor fase, trabalhando com o que acredita e o que lhe faz bem.

E foi nesse caminho que ele acabou reencontrando Hailey Baldwin (agora Hailey Bieber), a maior inspiração para as músicas do Justice. Os dois foram amigos por muitos anos e tiveram um romance em 2016, mas, por questões pessoais e da vida conturbada do artista, acabaram se distanciando. Em 2018, os dois se reencontraram e não demorou muito para que Justin pedisse Hailey em casamento. O mundo todo entrou em colapso, pois meses antes, Bieber foi visto com Selena Gomez, a qual todos acreditavam ser o amor de sua vida. Entretanto, os dois nunca tiveram culpa pelas expectativas dos fãs. 

Justin Bieber está beijando sua noiva, Hailey Bieber, uma mulher loira e branca. Ela usa um longo véu e um vestido também longo e branco, com uma grande abertura nas costas. Já Bieber está de terno preto, segurando as mãos de Hailey.
“Amo você há tanto tempo e não me vejo com mais ninguém. Quero passar o resto da vida com você. Casa comigo?”, foram as palavras de Justin para Hailey (Foto: Corey Tenold)

Isso fica claro em Lifetime, faixa que faz parte da versão Deluxe. A música é a mais romântica entre todas e dá até vontade de viver um amor. Nela, Justin declara: “Tudo o que aprendi foi que não era a minha vez/Não era a hora certa/Algumas pessoas entram na sua vida por uma razão/Outras vem na sua vida por uma época/Mas, amor, você é para a vida inteira”, declara. Lifetime veio para não restar mais dúvidas de que Hailey é a certeza que ele tanto buscava.

Segundo Justin, foi assim que ele conseguiu se conectar mais com sua fé e se livrar de seus tormentos. Hailey o ajudou muito no processo de sobriedade, além de ser o maior suporte do cantor quando ele foi diagnosticado com a doença de Lyme, em 2020. Todas essas etapas o motivaram a ser uma pessoa melhor e a buscar ajuda no amor e em Deus. É o que ele clama em Holy, mais um single ovacionado. A parceria com Chance The Rapper faz jus perfeitamente à sua fé, com o instrumental inicial, que alude um coral de igreja, porém, o feat não deixa de lado o eterno R&B de Justin. É o combo perfeito de sua nova fase.

A foto está em preto e branco. Nela, o cantor Justin Bieber aparece de costas em um estúdio de música, usando um fone preto e vestindo um moletom escrito “Jesus rose from the dead”.
Um mês após o lançamento de Justice, Bieber liberou um EP chamado Freedom, com 6 faixas que declaram sua fé em Deus (Foto: Rory Kramer)

E não pense que vai parar por aí, porque a era Justice ainda não acabou e você ainda vai ter que ouvir muito Peaches em seus stories do Instagram. Sem contar que Stay não quer descer das paradas e segue batendo recordes nas mais diversas plataformas. A música já vendeu mais de 4,5 milhões de cópias nos Estados Unidos e ultrapassou Mood, de 24kGoldn e Iann Dior, tornando-se a canção mais transmitida da década. É impressionante como o loirinho consegue emplacar qualquer música, em qualquer ano.

Acredito que, quando você faz um trabalho autêntico e de coração aberto, você, de alguma maneira, é recompensado por isso. Justin nunca teve 8 indicações ao Grammy Awards, nem mesmo com o álbum Purpose, julgado por muitos como o melhor dele. Purpose é um álbum gigantesco, mas até o hit Love Yourself, com Ed Sheeran, foi para casa de mãos abanando em 2017. E nem se fala de Changes, o maior fiasco de Justin, mas que acabou rendendo indicações hilárias aka Yummy como Melhor Performance Pop Solo

Além da estatueta dourada por Where Are U Now, o canadense também venceu em 2021, com 10,000 Hours, na categoria Melhor Performance de Dupla/Grupo Country, pelo feat com Dan + Shay. Dentre o que ele apresentou na última era, 10,000 Hours foi, com certeza, uma das melhores produções. A música e o clipe são extremamente fofos e, pra variar um pouco, ele exalta a amada Hailey Bieber. A voz do canadense veste como uma luva no country, ritmo, até então, nunca explorado. Esse gramofone realmente o pertencia.

E nesse ano, Bieber vai com tudo para disputar as 8 categorias em que foi indicado. Peaches tem chance de levar Canção do Ano e Melhor Clipe e Anyone é uma das fortes candidatas a Melhor Performance Pop Solo. Além das já ditas, o cantor ainda foi indicado em Melhor Performance de Dupla/Grupo Pop, Melhor Álbum Pop Vocal e Melhor Performance de R&B. O que resta é saber se Billie Eilish não vai embora com todos eles, mais uma vez. Há dois anos, a declarada fã de Justin Bieber, não sabe o que é ir embora para casa com menos de 3 Grammy em mãos. Mas, as indicações de Bieber foram mais do que merecidas. Resta saber se a Academia vai, de fato, recompensá-lo.

Entre a falta de coesão de suas falidas referências a Luther King e momentos conturbados de sua vida pessoal, Justin conseguiu espantar seus fantasmas e entregar um ótimo trabalho. Ele tirou a visão que Changes o impôs e mostrou que sabe fazer muito melhor. Justice é um trabalho diferenciado e que vai além de hits. É um desabafo pessoal de alguém que sofreu muito internamente para estar em pé fazendo música. Bieber expõe Deus, seu relacionamento e suas inseguranças, de uma forma genuína. Em Justice, ele está completamente limpo.

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