Esta é a primeira postagem do Cineclube Persona! Trata-se de uma seleção mensal dos filmes que foram lançados no Brasil no último mês. Porém, diferente da nossa seleção mensal de discos, o Cineclube Persona busca encontrar produções relevantes, mas que não necessariamente agradaram nossos colaboradores.
Para começar, temosas adaptações de Death Note e Valerian para o cinema, a refilmagem do clássico O Estranho que Nós Amávamos e a presença do cinema brasileiro com João, o Maestro e O Filme da Minha Vida.
Confira abaixo nossa seleção.
Death Note
Devido ao sucesso mundial, a adaptação da Netflix do mangá/anime Death Note era uma das mais esperadas para esse ano. Na obra original publicada no Japão entre 2003 e 2006, há um forte embate psicológico entre um detetive e um adolescente portador de um caderno capaz de sentenciar a morte das pessoas.
No entanto, a plataforma de streaming substituiu essa premissa por um romance adolescente com pitadas de investigação policial. É impossível não lembrar da franquia Premonição ao ver as mortes e não rir com a atuação de Natt Wolff ao interpretar Ligh Turner (Kira no original).
Desenvolvimento rápido e sem explicação, personagens mal construídos, dilemas jogados sem discussão – mas com um bom estilo visual – fazem de Death Note um filme mediano de uma obra que tinha tudo para ser um ótimo thriller psicológico.
por Egberto Santana Nunes
João, O Maestro
O protagonista? Um dos músicos mais aclamados do país, cuja última empreitada é um projeto que leva música clássica até crianças carentes. A produção? Com o dedo da emissora Globo, cuja (má) fama dispensa comentários. Uma premissa nada empolgante.
Felizmente, a cinebiografia de João Carlos Martins não se mantém na zona de conforto. O talento e a garra do pianista prodígio são exaltados, assim como sua personalidade boêmia e radical – “futebol, sexo e Bach” seria um subtítulo cabível aqui. Apesar do final decepcionante, o roteiro preza pela precisão, e o longa serve tanto como belo tributo quanto para apresentar a trajetória de Martins a novas gerações.
A aura erudita de João pode inspirar paralelos com o clássico Amadeus (1984), mas a comparação com Whiplash (2013) parece mais cabível: dois filmes sobre a paixão obsessiva de músicos por sua arte. Neste caso, João, O Maestro ganha de lavada ao mostrar que a virtuosidade de um instrumentista tem raízes e relações muito complexas, e estas não se limitam a ambientes como o palco e salas de ensaio. Nem só de glórias vivem os gênios, afinal.
por Nilo Vieira
O Estranho que Nós Amamos
A chegada de um combatente da guerra civil Norte-americana em uma escola sulista de garotas, ambiente tão reprimido quanto os subúrbios de As Virgens Suicidas (1999), destrói o equilíbrio local. Ao mesmo tempo que um homem jovem apresenta perigo brutal a própria integridade das habitantes, o jogo de poder se equilibra pelo fato do soldado estar ferido e sob a constante ameaça de ser entregue às tropas inimigas.
O soldado, interpretado pelo galã moderno Colin Farrell, no papel originalmente do rústico Clint Eastwood, começa a despertar a atenção romântica das mulheres da casa. Essa alteração nas dinâmicas internas causa uma escalada sutil e constante da tensão, em todos seus sentidos, sustentada pelas ótimas personagens de Elle Fanning, Nicole Kidman e Kirsten Dunst, colaboradora recorrente de Coppola.
Em comparação com a versão de Don Siegel, diretor de Dirty Harry (1971), o filme abandona o tom visceral e temas importantes como a escravidão, em favor do ponto de vista feminino. O sensível balanço entre romance, comédia e terror atmosférico, combinado com a estética etérea e atemporal da diretora fazem da releitura uma obra bem sucedida, digna do prêmio de direção em Cannes.
por Matheus Fernandes
O Filme Da Minha Vida
Após o sucesso de O Palhaço (2011), o terceiro filme de Selton Mello como diretor precisava surpreender. O filme da Minha Vida chegou aos cinemas no mês de agosto repleto de contrapontos representados pelos personagens Tony (Johnny Massaro) e Paco (Selton Mello). Os protagonistas dão fôlego aos pulmões líricos da obra cinematográfica, que caminha entre fantasia e brutalidade, sonhos e realidade.
Boa parte da sensibilidade encontrada em O filme da Minha Vida fica por conta do experiente cineasta Walter Carvalho, que assina a fotografia do longa. O lirismo é intensificado pelas escolhas de luz e efeitos de Carvalho, que oscila entre a nostalgia do sépia e a fantasia das cores intensas.
Com pouco espaço nas salas de cinema do país, talvez seja difícil assistir ao filme que não surpreende, mas é um grande representante para o cinema nacional. Os questionamentos e contrapontos trazidos por Selton Mello revisitam os outros dois filmes do diretor e apresentam um cineasta maduro, ainda que com medo de abrir mão do protagonismo e seguir somente atrás das telas.
por Maria Gabriela Zanotti
Valerian e a Cidade dos Mil Planetas
Se você leu a sinopse de Valerian e está super empolgado para assistir, vá com calma. O novo longa do diretor Luc Besson mais parece uma releitura de Pequenos Espiões (2001) misturado com os ET’s de Avatar (2009).
Não há nada de novo no longa. Um casal de jovens apaixonados que saem para lutar em uma missão extraterrestre. Apesar do clichê, é possível destacar pontos positivos. A produção e os efeitos especiais são de tirar o fôlego. Muita cor, movimento e uma boa realidade virtual.
No entanto, esteja bem preparado para não ser vencido pelo cansaço. São mais de duas longas horas de filme em uma história que parece não ter fim.
por Heloísa Manduca