Júlia Paes de Arruda
Como você reagiria se soubesse que a internet chegou na sua casa? Talvez não muito animado, afinal, estar conectado é algo banal nos dias de hoje. Mas é exatamente a chegada da internet o ponto de partida para a nova aventura de Ralph, protagonista da animação da Disney Detona Ralph, lançada em 2016, que se passa em um universo de jogos de fliperama, e cuja sequência chegou nos cinemas no dia 3 de janeiro.
Após um problema no fliperama envolvendo um dos jogos, Vanellope e Ralph mergulham no universo virtual para encontrar uma solução. Por lá, eles encontram um novo jogo de corrida que fará com que Vanellope mude suas percepções de vida.
O filme estreou ficou na liderança nas bilheterias brasileiras, ultrapassando o longa do herói da DC, Aquaman. O elenco de vozes conta com a voz de Gal Gadot, a Mulher Maravilha, interpretando Shank, uma piloto de corridas durona que surge como uma espécie de inspiração e apoio para Vanellope.
Um dos principais aspectos abordados no longa é a relação de Ralph e Vanellope, que se mostra abusiva e tóxica. No primeiro filme, Ralph é programado para ser o vilão de um jogo de fliperama. Cansado dessa vida, ele tenta provar para seus companheiros de jogo e para os outros vilões que ele pode sim se tornar o “mocinho”. Para isso, o vilão arrisca sua vida no Missão de Herói, um jogo capaz de lhe dar uma medalha de herói. Entretanto, sua ida a um jogo diferente afeta não só sua vida, mas também a de todo o fliperama.
No meio de tantos problemas, Ralph constrói uma relação de amizade com Vanellope Von Schweetz, uma personagem do jogo Corrida Doce, que, no decorrer da trama, mostra ao vilão que não é necessário uma medalha para que alguém seja considerado bom. Suas atitudes já mostram isso.
Já no segundo filme, o vilão se vê como um protetor da corredora e, quando ela faz novos amigos – entre eles, Shank -, ele começa a sentir ciúmes. A cena mais reveladora disso é a que vários clones de Ralph começam a perseguir Vanellope para que ela demonstre afeto e supra sua carência. É possível perceber então que relacionamentos abusivos não se aplicam apenas a casais, mas também a amigos e familiares.
Um tema importante tocado na trama da animação é o feminismo. A cena mais reveladora nesse aspecto foi a que mais chamou a atenção para o lançamento do filme nas redes sociais, a qual mostra as princesas clássicas da Disney que, em contato com Vanellope, questionam que tipo de princesa ela é, apresentando suas relações com seus príncipes encantados – que na realidade, são relações horríveis. A reação de Vanellope é a que mais revela essa situação. Num certo ponto, ela cogita em chamar a polícia para verificar se está tudo bem com elas. Além disso, ela questiona o posicionamento da sociedade em pensar que a vida de mulheres teriam se resolvido apenas com a aparição de um homem. Qual é a dessa gente?
Nesses últimos anos, a Disney anda inovando e apresentando esses temas em seus filmes. Na questão de feminismo, pode-se citar os filmes Valente, Frozen: Uma aventura congelante e Moana: Um Mar de Aventuras. Em ambos, mostra-se a figura das mulheres como únicas e responsáveis por suas vitórias. A figura do heroísmo masculino é deixada de lado, apenas como segundo plano. Além disso, o ato de amor verdadeiro não é um objeto necessário para trama. No caso de Frozen, o ato de amor envolve as irmãs Elsa e Ana. Já no caso de Moana, o ato de amor é simbolizado na luta da protagonista salvar seu povo da escassez de água e de comida, enfrentando desafios que sua própria família condena. Ainda bem que nosso girl power está atingindo o público infantil e mostrando a nossas futuras mulheres que elas são responsáveis por suas realizações e que nenhum homem deve tirar isso delas.
A direção do filme conta com Phil Johnston e Rich Moore, vencedor do Oscar por Zootopia, outro filme da Disney abordando questões sociais: o racismo. Na trama, apesar dos animais terem evoluídos e deixados seus instintos para trás, os animais considerados presas sentem receio de conviver com os predadores, ainda mais depois de que certos ataques envolvendo esses animais começam a atingir a cidade.
Como a maioria das animações da Disney, o filme é cheio de easter eggs. Além das referências da Disney, o filme ainda mostra elementos do cinema e da internet conhecidos pelo expectador. Sites como Facebook, Twitter, Google e eBay compõem alguns dos logos apresentados. Há também referências a Marvel, Star Wars e até uma homenagem a Stan Lee, falecido no ano passado.
Wi-fi Ralph: Quebrando a Internet nos mostra que um filme infantil pode sim ser empoderador e questionar as questões sociais para as crianças, sem perder o espírito de aventura e suas piadas. Nesse sentido, a indústria cinematográfica está se aproximando cada vez mais do público e cada vez mais da realidade ao invés de ser apenas entretenimento e ficção.