Manu Lima
Conhecido principalmente por suas músicas românticas, o cantor e compositor Ed Sheeran sempre escreveu e cantou sobre sua vida, origens e relacionamentos. Lançado no primeiro semestre de 2023, Subtract é o sexto álbum de estúdio do músico. Depois de perder o melhor amigo, o empresário e youtuber Jamal Edwards, e do diagnóstico de câncer sua esposa Cherry Seaborn, na época grávida da segunda filha do casal, Sheeran decide usar a Música como terapia e contar sobre o luto, o medo e a esperança de um 2022 conturbado.
O quinto disco com nome de uma série de álbuns com nomes de operação matemática – depois Plus, Multiply, Equals, e agora, Subtract – é também o último da produção audiovisual que vem sendo pensada pelo britânico desde o início da carreira. Em A Soma de Tudo, série documental sobre a carreira do artista que estreou no Disney+ pouco antes do lançamento do álbum, ele conta que vem pensando no projeto há pelo menos dez anos: “a ideia para o Subtract era gravar o álbum acústico perfeito” e, portanto, fazer um disco que, como o próprio nome sugere, subtrai instrumentos da música pop mainstream que o cantor vinha fazendo”.
Uma década depois, o que vemos no Subtract é, sim, uma mudança na sonoridade de Sheeran e, em algumas faixas, há realmente a predominância do violão e piano acústico. Entretanto, o que se subtraiu foram as barreiras emocionais entre o compositor e seu público. Agora, o produto que recebemos revela um artista, já tão intimista, muito mais vulnerável.
A faixa que abre o álbum marca um retorno do cantor à sonoridade do início da carreira. Demonstrando a grande contribuição de Aaron Dessner para despir o músico dos exageros da música pop e trazê-lo para uma sonoridade que flerta com o folk, assim como já havia feito em sua parceria com Taylor Swift, enquanto apresenta o argumento lírico das composições da nova era.
Presentes nas 14 músicas estão alusões aos quatro elementos que são metáforas das fortes emoções aqui colocadas. Como podemos ver na faixa Salt Water, na qual o mar é mais uma vez evocado para falar sobre a perspectiva de um suicida que sente alívio ao se imaginar pulando na água. Algumas metáforas são mais sucintas, como a de Curtains que, segundo Ed Sheeran, fala sobre um amigo que escondia cicatrizes sob as mangas.
Ainda assim, o primeiro single do Subtract retoma a batida eletrônica de músicas como Shape of you e Bad Habits, mas sem deixar de lado a letra forte e cheia de intensidade. Talvez por ter sido pensada pela primeira vez em 2018, durante a criação do quarto álbum matemático, Equals, a faixa se pareça com o que já vimos, mas há algo de diferente: a música fala sobre o luto, enquanto soa como um pop quase dançante.
Além do luto, podemos acrescentar à soma de sentimentos que motivam o Subtract, o medo e a esperança resultantes do diagnóstico de câncer recebido por Cherry Seaborn, esposa do cantor, aos seis meses de gravidez. Dessa experiência, surgem sete canções em pouco mais de duas horas e meia, como conta Sheeran no documentário.
Entre as músicas que tratam de seu relacionamento está Vega, que traz a preocupação com a saúde de Seaborn enquanto cria uma alegoria sobre estrelas. “Vega” é a estrela mais brilhante da constelação de Lira, em inglês Lyra, que é o nome da primeira filha do casal. “Queima como o inferno ser Vega”, fala sobre como ter um grande amor, um amor brilhante, pode machucar, especialmente quando se pode perdê-lo.
Em meio a erros e acertos, tentativas de mudança e autorreferências, há certa ousadia em fazer um álbum tão melancólico, especialmente depois de flertar por tanto tempo com o R&B; e tudo isso pode ser questionado de um ponto de vista mercadológico. O que não se pode questionar é a força vulnerável que se ouve em Subtract e como isso faz com que possamos ver o quanto Ed Sheeran cresceu como artista.