Jho Brunhara
Quase completando dois anos de lançamento do single Strangers, que alavancou sua carreira, Sigrid finalmente nos apresenta seu debut, Sucker Punch. Apesar da expressão remeter a um soco repentino no inglês, o álbum não soa tão inesperado assim, mas no melhor dos sentidos. Em 12 faixas, a cantora norueguesa de 22 anos não surpreende, e sim confirma seu potencial em ser ótima no que faz.
Desde seu primeiro sucesso entre a comunidade de garimpeiros do pop distante do mainstream, a artista sempre se mostrou como uma força no gênero e alguém para ficar de olho. Realmente, seu debut mostra que a cantora honra o prêmio Sound of 2018 que recebeu da BBC Music, assim como o prestígio por seus dois EPs, Don’t Kill My Vibe e Raw – ambos excelentes.
Reza a lenda que o pop pós-2012 entrou em crise, e desde então nada tão relevante quanto os anos de ouro 2009 e 2010 foi lançado. Por partes, é uma afirmação que faz sentido. As músicas que bombardearam as rádios naquela época eram extremamente memoráveis e icônicas, e por mais que seguissem a mais nova fórmula do dance-pop, soavam como únicas por si só. Talvez em consequência da saturação, os anos seguinte foram como uma ladeira para o gênero.
O pop puro desapareceu, o EDM dominou as produções, e vimos a volta das influências do hip hop, como o trap; e as variações de house. Mas o que tudo isso tem a ver com a Sigrid? Desde 2015, uma nova leva de artistas vieram com um propósito: resgatar o pop, mas elevar o conceito associado a ele. Veteranas e veteranos também tentaram embasar melhor seus trabalhos, para que pudessem desenvolver uma mensagem por trás do que estava sendo produzido.
Sigrid aceita um compromisso em seu conceito: ser 100% pop, em todas as suas fibras musicais. Sucker Punch pode não ser revolucionário, mas sem dúvidas é um grande exemplo para alguém que pergunta: o que é pop perfection? Em um cenário que o gênero se mistura cada vez mais com outros criando subgêneros, a cantora sabe exatamente o que faz, sem se tornar genérica ou soar datada.
Cantando sobre paixões, impressões da vida pós-fama, e tropeços da juventude em passos para se tornar adulta, seu disco transparece as agonias efêmeras – porém importantes – de ser um millennial. Sigrid também é especialista em músicas com letras que beiram o triste, porém continuam dançantes, como Don’t Feel Like Crying e In Vain.
Ainda sobre as preocupações de relacionamento, a cantora traduz para suas letras como buscamos romances perfeitos o tempo todo, e como isso nos frustra. Em Mine Right Now, há a redenção sobre expectativas, e a aceitação que na maior parte das vezes é melhor apenas vivermos o presente, sem atropelar os sentimentos com o que pode vir a acontecer no futuro. Quase um álbum de autoajuda para nossa geração.
“Acho que é um símbolo da nossa cultura de sempre querer que as coisas sejam perfeitas e que elas pareçam como nos filmes, porque estamos acostumados com eles. Estamos tão acostumados com essa hiper realidade que vemos na internet e nas redes sociais que isso transparece nas nossas vidas.“ — Sigrid para o Genius
É muito interessante como a artista absorve dramas diários dessa geração, que também são seus, e consegue colocá-los em produções upbeat. Never Mine é um ótimo exemplo, tratando sobre a possessividade que desenvolvemos em relacionamentos, e a dificuldade em aceitar que o amor ou interesse acabam.
Ainda que suas letras não sejam carregadas de metáforas e uma poesia rebuscada – e nem precisam ser –, elas são composições pop excelentes, que cumprem seu papel e evidenciam o talento da cantora. Apenas o futuro reserva o que o amadurecimento da artista trará em suas músicas, mas sem dúvidas boas surpresas nos aguardam.
Entre paixonites, romances e dilemas da vida adulta ainda em processo de descoberta, se constrói o refrescante Sucker Punch. Mais que expressão artística da cantora, é aquele álbum que você pode ouvir no último volume enquanto organiza a casa, no transporte público em momentos bons e ruins, ou enquanto reflete sobre o motivo daquela pessoa estar online mas ainda não ter te respondido. E é exatamente isso que Sigrid quer.
O conceito do disco é ser alegre, enérgico, e comprometido com a própria vibe. É ser como uma explosão, da mente de uma jovem de 22 anos que ainda está processando tudo que o mundo tem a oferecer. E encerrar um álbum tão vibrante com a calma Dynamite também é inteligente. Todos precisamos de uma pausa para descansar a aceitar um pouco da tristeza, até mesmo Sigrid. Mas o recado é claro: a pausa é válida, mas esteja pronto para dar play na primeira faixa e começar tudo de novo.