Mateus Conte
A peça Quem é Quem, protagonizada por Eri Johnson e Viviane Araújo e encenada no dia 22 de setembro no Teatro Municipal de Bauru, representa bem as comédias de relacionamento que vemos frequentemente nos palcos brasileiros.
A peça retrata o encontro de Luciano, ou Lobo Solitário (Eri Johnson), e Luciana, ou Gata Maluca (Viviane Araújo), frequentadores de salas de bate-papo. A presença do jurássico Bate-Papo UOL demonstra, inclusive, o atraso do mainstream teatral em captar as tendências do momento.
A peça apresenta a sua peripécia logo nos primeiros dez ou quinze minutos, o que acaba por transmitir uma surpresa incompleta: de nada adianta reverter as nossas impressões das personagens se elas estão ainda muito precoces para possibilitar um verdadeiro “Ooooh” da plateia.
De início, imaginamos que os personagens são apenas dois solteiros querendo se conhecer; pouco tempo depois, descobrimos que “Lobo Solitário” é um assaltante high-tech que marca encontros para roubar seus parceiros – ou vítimas – e “Gata Maluca” é uma ninfomaníaca, que não respeita nem os laços conjugais de seus pretendentes.
Apesar disso, a peça é bem engraçada, cumprindo o seu propósito e atingindo bem o seu público. O roteiro é um tanto nonsense; todas as falas e o andamento do script não buscam a lógica narrativa, mas objetivam apenas o riso fácil. Isso se pode perceber na repetição ilógica das falas e uso de bordões. Já o cenário, por sua vez, é muito bonito e cumpre o seu papel, apesar de não ser explicitado onde exatamente a história se passa.
A peça se inicia com uma conversa de Eri Johnson com a plateia, falando sobre as diferenças dos tempos antigos para os atuais, especialmente na paquera, com o advento das salas de bate-papo (o uso de apelidos para os personagens é indicativo disso) e aplicativos de namoro. A partir deste momento a produção permite a realização de lives nas redes sociais, mas apenas por poucos minutos.
No meio da peça, Eri trava e diz que o roteirista não terminou o texto. Esta gag metalinguística é o início de uma conversa de Eri Johnson com a plateia, onde contou a história de como o elenco para a peça foi selecionado. Tempo depois, podemos supor que é tudo uma invenção da cabeça do ator.
A exemplo das demais peças do gênero, os diálogos são recheados de referências sexuais (por vezes diretas, por vezes sutis), “guerra dos sexos” e palavrões, especialmente da parte do Eri Johnson. Já um diferencial desta peça para as demais são as referências aos memes populares do momento.
Eri Johnson e Viviane Araújo, voltem sempre!