Conseguir a alcunha de ‘pior do ano’ em 2020 é um feito e tanto. Em meio à pandemia e ao isolamento social, a arte se transformou em confidente e melhor amiga. Assistimos séries repetidas e começamos novas, maratonamos filmes de tudo que é gênero. Foi o momento de reacender a chama da nostalgia, o momento de descobrir novos artistas e se apaixonar por canções inéditas.
Então, se algo conseguiu desagradar nessa hora de tanta empatia e conforto com os clichês, o erro parece ter sido crasso. Antes de fechar o amaldiçoado 2020 com as tradicionais listas de Melhores do Ano, a Editoria do Persona se reuniu para prestar a última condolência, jogar a última pá de terra no que teve de mais assombroso (mas nem sempre descartável) nos 12 meses que, por si só, já merecem o título de tenebrosos.
O Mundo Sombrio de Sabrina (Netflix)
Após uma segunda temporada divisora de opiniões, as expectativas para o terceiro ano de aventuras da jovem bruxa não eram baixas. E, para a surpresa de alguns, não chegaram nem perto de serem atingidas. Não tendo nada de novo sob o sol, vimos, mais uma vez, Sabrina (Kiernan Shipka) fazer besteira para os outros consertarem e se contradizer a cada segundo da narrativa. De quebra, a imensidão de núcleos de personagens serviu só para deixar o espectador confuso e criar conflitos que seriam resolvidos se todos apenas conversassem. O resultado disso tudo foi uma trama caótica, com um roteiro que dá voltas e, no fim, não chega a lugar nenhum. Felizmente, esse pesadelo acaba em breve, com o lançamento da quarta e última parte de O Mundo Sombrio de Sabrina. VS
Run (HBO)
Com Merrit Wever e Domhnall Gleeson no protagonismo e Phoebe Waller-Bridge na produção executiva, Run tinha a receita para o sucesso. É infortúnio que a curta comédia não soube explicitar seu propósito e acabou cancelada pela HBO (um feito raro), mas a série era muito ruim mesmo. VE
How to Get Away with Murder (ABC)
Nem Annalise Keating (Viola Davis) conseguiu salvar o desastre da última temporada de How To Get Away With Murder. Com uma história que já não se sustentava direito há um bom tempo, o sexto ano da série foi a cereja do bolo para encerrar a trama: personagens sem desenvolvimento e carisma, inúmeros furos de roteiro, reviravoltas completamente mal pensadas e um final medíocre. Vai tarde! VS
Westworld (HBO)
Quem diria que o Nolan criativamente bem sucedido em 2020 seria Christopher, com Tenet, e não o consolidado Jonathan, um dos criadores de Westworld. Sem saber que história queria contar, a terceira temporada do drama de robôs da HBO parece estar passando por um terrível, mas esperado, período de transição. A esperança é que daqui a dois anos o quarto ano figure a lista de melhores séries de 2022. VE
Control Z (Netflix)
A produção mexicana da Netflix é um teste de paciência. Com uma protagonista deslocada e solitária, Control Z se escora em diversos clichês para prender o espectador. Quando um hacker começa a soltar os segredos dos populares da escola, Sofi (Ana Valeria Becerril) resolve descobrir quem anda chantageando seus colegas. No entanto, mesmo com uma premissa interessante e atual, a série possui personagens rasos, violência extrema e desnecessária e tenta abordar assuntos importantes, como transfobia e bullying – falhando em todos os assuntos. Beirando a irresponsabilidade, Control Z, que pelo menos fisga a atenção com seu dinamismo, não nos dá algo memorável. CC
Coisa Mais Linda (Netflix)
Poucas foram as vezes que a Netflix conseguiu acertar em suas produções brasileiras, e Coisa Mais Linda com certeza não faz parte desses acertos. Uma série que buscava contar sobre o período da Bossa Nova na perspectiva de um grupo de mulheres parecia promissora, mas teve um segundo ano vergonhoso. Ao dar adeus à uma de suas personagens mais interessantes, a produção desandou completamente: criou um arco narrativo sem pé nem cabeça para Adélia (Pathy DeJesus), manteve discursos feministas completamente rasos na boca de Thereza (Mel Lisboa), e a petulância da protagonista Malú (Maria Casadevall) apenas cresceu (salvo em pouquíssimos momentos). A única coisa boa que se pode esperar de uma terceira temporada é ver o magnífico Ícaro Silva em cena. VS
Reality Z (Netflix)
Big Brother e zumbis, são essas as temáticas retratadas na série brasileira original da Netflix. Tão ruim a ponto de ser viciante e facilmente terminada em um dia, Reality Z perde a mão na hora de misturar os gêneros terror e comédia. O excesso de sangue e piadas tiram a seriedade de cenas importantes, tornando hilárias atuações em cenas que precisavam ter um teor dramático. O roteiro raso ainda se junta com a falta de ação dos humanos que tornam-se alvo fácil dos mortos-vivos, o mal aproveitamento de bons atores como Guilherme Weber e a trilha sonora desconexa apesar de ser nacional. AJT
A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes – Suzanne Collins
Com tantas edições dos Jogos Vorazes para explorar, Suzanne Collins deu um tiro no pé escolhendo a décima, coincidentemente uma ‘história de origem’ para o misterioso e desgastado Presidente Snow. A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes tenta ser 3 livros em 1, é longo demais, enrolado demais e até suas poucas qualidades viram pó no estafante produto final. Não estrague sua memória afetiva da saga de Katniss com esse enrosco literário. VE
Rebecca – A Mulher Inesquecível
O grande erro de Rebecca – A Mulher Inesquecível (2020) foi construir expectativas irreais, ficando claro que apesar da tentativa, o longa não consegue sair da sombra do clássico de 1940, dirigido por Hitchcock. Em outubro deste ano, a trama de suspense psicológico teve uma nova tentativa, contudo, é certo dizer que a palavra mediocridade e a expressão encheção de saco são certeiras para definir a produção da Netflix. IS
Casa de Antiguidades
Casa de Antiguidades é um amontoado de ideias boas, mas com pouco ou nenhum tato na hora de transformá-las em filme. A obra não dialoga com o público nem com a crítica, criando situações desconfortáveis e de má fé. Ainda bem que o Brasil selecionou Babenco para representação no Oscar 2021. VE
Estou Pensando em Acabar com Tudo
Depois de dirigir o desconfortável (mas consolador) Anomalisa, em 2015, Charlie Kaufman adapta o livro de Iain Reid com a mão mais molenga do mundo. Estou Pensando em Acabar com Tudo dá mal estar, dor de barriga e enjoo. Filme para ver uma vez pra nunca mais. VE
Katy Perry – Smile
Você vai realmente fazer isso com uma mulher com bebê de colo? Katy Perry é uma das artistas pop mais memoráveis da nossa geração. Isso é fato. Mas Smile custa em botar um sorriso no rosto dos seus fãs novos e também nos dos seus antigos. Depois de trezentos singles avulsos (testes de mercado da Capitol Records), finalmente veio à luz o sexto álbum da estadunidense, e, bom… Apesar de sua ambição um pouco cega, Witness ainda foi um CD com muito aproveitamento. Alguns tiros no pé, mas impacto e canções que valeram a pena a bagunça da era. Já em Smile, não há ambição, não há resgate de sonoridade, não há muita coisa, na verdade. É ótimo que Katy esteja feliz e que queira cantar sobre isso, mas precisava ser através de músicas tão água de salsicha e coach de resiliência? Prego que se destaca leva martelada, mas as vezes é melhor uma pancada do que rolar para debaixo da prateleira. Ainda assim, destaque para Champagne Problems e Not the End of the World, a segunda salvando o mundo e também o álbum. JB
Shawn Mendes – Wonder
A experiência de ouvir o quarto álbum do canadense é deliciosa como abrir o congelador atrás de sorvete e encontrar feijão velho. Como bom defensor do subestimado Romance, de Camila Cabello, eu não esperava algo tão inóspito como Wonder, disco da cara metade da cubana. São 40 minutos de desespero e galantia, quase nada se sobressai pois tudo é demasiadamente ruim. VE
Justin Bieber – Changes
É tarde demais agora para pedir desculpas? JB
Niall Horan – Heartbreak Weather
Vamos deixar combinado que só o Harry e o Zayn podem lançar álbuns daqui pra frente, pode ser? VE
Halsey – Manic
Eu gosto da Halsey. Mas o que fazer quando um artista anuncia um álbum extremamente pessoal que é na verdade um amontoado de referências vazias da cultura pop, e tenta vender isso como íntimo e vulnerável? O icônico vídeo dela cantando blink-182 diz mais sobre quem é Ashley do que esse disco. E entre a lambança pop, country (?), wannabe alternativo e trap, ela não pôde encaixar a perfeita Nightmare porque ‘não combinava com o resto do CD’? O que combinava? Referências à Garota Infernal? É Na Sola da Bota but make it sad? Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças? Without Me? Alanis Morissette? BTS? Estamos todos vendo que você está tentando Halsey, e tentando muito há um bom tempo. Mas talvez você deva tentar um pouquinho menos. Pode relaxar os ombros, vai ficar tudo bem. JB