Vitória Silva
Sábado, dia 24 de março, 1984
Há pouco mais de 36 anos, cinco adolescentes foram convocados para um sábado de detenção na escola. Entre eles, uma patricinha, um atleta, um nerd, uma esquisitona e um rebelde. Cinco jovens com cinco personalidades totalmente distintas, e mais coisas em comum do que eles poderiam imaginar.
O filme que conta essa história foi lançado somente em 1985, 35 anos atrás, e assinado pelo diretor e roteirista John Hughes. Dono de outras grandes produções oitentistas, como Gatinhas e Gatões e Curtindo a Vida Adoidado, o legado do cineasta se consolidou, de fato, com O Clube dos Cinco, que se tornou um clássico cult anos depois.
Claire (Molly Ringwald), Andrew (Emilio Estevez), Brian (Anthony Michael Hall), Allison (Ally Sheedy) e John (Judd Nelson). Todos destinados a cumprir um castigo escolar devido às suas atitudes. Além de passar o sábado na biblioteca da escola, eles tinham como principal punição escrever uma redação que refletisse sobre seus comportamentos individuais, com o tema: quem vocês pensam que são? E esse é o gancho que amarra The Breakfast Club do início ao final.
As personalidades e trejeitos de cada um dos cinco não foram escolhidos à toa, já que representam os estereótipos mais presentes em tramas adolescentes, e bem característicos da época. Ao colocar estudantes totalmente distintos em um filme de quase um cenário só, Hughes não buscou criar nenhuma narrativa extraordinária, e sim, uma produção baseada no diálogo e interações entre os personagens. O resultado disso é uma série de reflexões existenciais acerca da juventude.
A trama é ambientada majoritariamente na biblioteca do colégio, onde eles tem que passar as horas de sua detenção em silêncio, apenas escrevendo a redação. A presença de John Bender é a grande responsável por movimentar a história. As provocações do valentão com cada um dos personagens instiga o diálogo entre eles e, aos poucos, vemos suas carcaças se desfazendo. Ao final do filme, o nerd e o atleta não possuem muitas diferenças para além de suas roupas e acessórios.
O ambiente escolar é como uma selva. Ao adentrar aquele espaço, você já tem seu destino traçado apenas pela forma que anda, fala ou se veste. As famosas tribos se formam a partir de pessoas que encontram gostos em comum, ou que se forçam a encontrar. E é assim que a selvageria se inicia. De um lado, as patricinhas e os atletas, com boas condições financeiras, boas roupas e muitas festas. Do outro, os nerds e os esquisitões, aqueles que se recusam a entrar nos padrões estabelecidos, ou apenas não se encaixam mesmo, e acabam sendo deixados de lado.
O roteiro de Hughes estoura todas essas bolhas. De nada adiantam as aparências de cada um nos corredores da escola se, em suas casas, os problemas paternais que sofrem são os mesmos. A pressão para ignorar suas questões pessoais, a fim de não fugir do personagem a que eles mesmos se destinaram, cria jovens superficiais, em que a única preocupação é manter a sua reputação.
O comportamento do Sr. Vernon (Paul Gleason), responsável por fiscalizar a detenção, é símbolo da dificuldade de se romper com os padrões que lhes são impostos. Como Brian Johnson afirma na redação “Você nos vê como você nos quer ver”. E essa máxima influencia não só o comportamento dos estudantes, mas também o de diversas autoridades no meio escolar, que tem como única resposta a punição para aqueles que não se enquadram no sistema estabelecido.
O Clube dos Cinco é uma narrativa sobre as pessoas que mostramos ser, para esconder quem realmente somos. Assim é colocado em uma de suas frases mais memoráveis “Somos todos bem bizarros, alguns de nós são apenas melhores em esconder isso”. Por mais que falar sobre reputação escolar pareça um pouco batido nos dias atuais, é um roteiro que se encaixa perfeitamente quando vamos para o mundo das redes sociais. Hoje, os corredores da escola se ampliaram para o feed do Instagram. Talvez seja isso que o faça ser um filme tão aclamado e querido até mesmo pelos millennials, que se enxergam nas fraquezas de cada um dos membros do clube.
No entanto, a trama não se mantém com um teor tão atemporal assim. Uma narrativa que tem como enfoque apenas dizer como os populares sofrem os mesmos problemas que os esquisitões acabou se tornando um tanto rasa, ainda mais em uma realidade que olha cada vez com mais seriedade para os problemas da juventude. Produções como Euphoria e Sex Education tem uma abordagem muito mais profunda e precisa quando se trata das questões adolescentes nos dias atuais, envolvendo não só as pressões escolares mas também as psicológicas. E, com todo respeito, dão uma aula em qualquer filme do Hughes.
E este é somente um dos motivos para se dizer que O Clube dos Cinco envelheceu como leite. O comportamento completamente abusivo de John com Claire, que rendeu uma cena quase explícita de assédio, é algo que não cabe hoje em dia. Convenhamos, a temática do bad boy que vive às custas de perturbar os outros, e ainda consegue conquistar a mocinha, já se tornou mais que ultrapassada.
O filme também possui uma contradição irreparável. Após uma longa narrativa que trata sobre a importância de ser quem você é, o destino da personagem Allison é, nada mais nada menos, que mudar toda a sua aparência para conquistar o atleta Andrew Clark. Algo que apenas evidencia um pensamento machista da época, que não foi possível de ser ofuscado nas entrelinhas do roteiro.
Não fosse por isso, O Clube dos Cinco talvez ainda se mantivesse como um clássico intocável, digno de atravessar gerações com seus ensinamentos. Nesse caso específico, um remake do filme pode ser algo bem defensável, a fim de adequar a obra para as questões da atualidade.
Talvez O Clube dos Cinco tenha ficado pequeno demais para a diversidade que nos abrange nos dias atuais. Mas, de certa forma, John Hughes precisou andar para que muitas tramas adolescentes pudessem correr. De nada seriam os filmes e séries que buscam se aprofundar no interior dos adolescentes se esses cinco jovens não tivessem se reunido naquele sábado de detenção. Cada um de nós continua sendo um nerd, um atleta, uma esquisitona, uma patricinha e um rebelde.
Essas ideias de remake para consertar “problemas” da trama é a coisa mais besta, mas infelizmente comum, hoje em dia!
Assistam os originais, nada de remake!!
Dizer que uma personagem que se livra de uma casca que a mantém isolada e se abre para o amor é algo machista é uma completa bobagem e se preocupar com isso mascara o verdadeiro machismo existente.
Filme bom, com uma ótima mensagem.