Luiza Lopes Gomez
Reflexões na madrugada, nostalgia de inquietudes antigas e diálogos internos marcam as composições do décimo álbum de estúdio de Taylor Swift que reafirma seu posto como artista flexível e inovadora, capaz de movimentar multidões e quebrar recordes. Com o anúncio do disco em meio ao seu discurso de agradecimento no VMA 2022, Swift introduziu ao público uma nova era. Permeado por mistérios e noites sem dormir, Midnights foi apresentado de forma instigante e milimetricamente arquitetada antes mesmo do seu lançamento, partindo de uma coleção de vídeos postados nas redes sociais, revelando os nomes das composições e recheados de easter eggs, referências já tão próprias da artista.
Como uma mescla de toda a trajetória de Taylor Swift na Música, o álbum, com 13 faixas em sua primeira versão e 20 composições na edição 3 am, é introduzido na carreira da cantora norte-americana de forma a recapitular sua história e, paralelamente, revelar facetas não expostas anteriormente ou aprofundá-las após mais de dez anos de atividade. Com tom irônico, a compositora explora a melancolia e o amargo de momentos que cercam sua sensibilidade e confusão interna. Ao fazer isso, porém, Swift não segue uma linha delicada e nebulosa a fim de ressaltar seu medo, mas sim apresenta uma atmosfera dançante e imersiva, com toques de sensualidade e mistério.
A mistura entre o íntimo e a descontração tornam o álbum uma união de opostos, revelando trajetórias não lineares na vida da cantora que quebram expectativas e conquistam a adoração de seus fãs e da crítica. Desse modo, o disco coleciona recordes de acesso em plataformas musicais, consagrando Taylor Swift como “a indústria musical”. A combinação da batida pop com composições mais densas demonstra a superação de barreiras temáticas e sonoras da artista, desvinculando-se de qualquer rigidez e imobilidade lírica. Assim, ela promove uma viagem ao passado que, por outro lado, possui uma visão nova, madura e sofisticada sobre questões complexas acerca de crescimento, perda e pertencimento.
A jornada para a composição de certas faixas passa por um grande processo de imersão na sua juventude. Would´ve, Could´ve, Should´ve, presente na versão deluxe, é uma das músicas mais intensas e vulneráveis criada pela artista. Com a apresentação de canções tão potentes e dilacerantes, Taylor Swift emociona ao detalhar os arrependimentos antigos que a assombram até hoje, retomando relacionamentos tóxicos vivenciados e cicatrizes ainda abertas em seu coração. Além de transmitir seus sentimentos de forma esplêndida e comovente, Swift é capaz de aproximar o ouvinte de suas feridas mais profundas e marcantes através de letras que, pela sua voz, mostram sua potência, sendo responsáveis por influenciar a forma de ver o mundo e receber o amor.
O que também chama a atenção dos fãs mediante a liberação de faixas do disco são as relações diretas traçadas com outra obra da cantora, seu segundo álbum, Speak Now. No ano de 2022, novas citações sobre o sofrimento em uma relação dual e dilacerante, apresentada anteriormente de forma menos profunda em Dear John (2010), constituem momentos comoventes no que diz respeito à destruição de sua inocência e do abuso emocional suportado, apresentando reflexos em sua personalidade e autoconfiança. De tal forma, Taylor Swift transmite toda sua genialidade e sensibilidade, ressaltando seu extenso talento à medida em que transpõe todo seu medo e remorso em versos incomparáveis.
Em um processo de imersão no seu ‘eu’ mais particular, Taylor Swift, como compositora árdua e experiente no ramo musical, passa por sonhos e pesadelos para construir uma ponte entre seu passado e presente, reconhecendo seus pontos fracos e destacando-os em uma perspectiva que beira a autodepreciação, às vezes perdida entre batidas dançantes que superam os vocais reflexivos. O lead single do décimo disco da cantora, a faixa Anti-Hero, representa justamente este conflito entre o caos interno e a sua visão perante uma sociedade maniqueísta que oprime a expressão individual resultante da instabilidade interior.
A forma como diversas crises e a falta de confiança são expostas, tão próxima do público no quesito relacionável, remonta a situação de exaustão mediante dilemas morais de madrugadas que condenam. Por outro lado, tanto na faixa principal como em outras que flertam com o lado sensível do ser, suas questões morais e de cunho emocional, é a versatilidade de suas músicas que se manifesta. Para tal, percebe-se a grandiosidade da cantora a partir da construção de um ambiente efervescente para o público, funcionando como uma espécie de teatro vicentino de teor musical, em que os ouvintes se envolvem com a produção e musicalidade atrativas mas, ao mesmo tempo, refletem sobre as realidades complexas e identificáveis presentes em seu âmago.
Além do single de Midnights, outras composições do álbum dialogam com o tema dos arrependimentos e da aceitação, se perdendo em lembranças e, posteriormente, entendendo seus resultados em quesitos de personalidade e ação na vida adulta. Uma das canções que segue tal temática e atraiu os olhares do público e da mídia foi a faixa You’re on Your Own, Kid. Solidão, perda e transformação se entrelaçam e dão vida a um cenário nostálgico da jornada de Taylor Swift, que desenvolve a música a partir de inseguranças de seu passado, dificuldades de aceitação e de reconhecimento da independência como algo positivo.
Destaca-se a fórmula de sucesso de Taylor Swift em seus lançamentos como resultado de uma entrega impecável para o público, criando ambientes de identificação do ouvinte com as faixas, o que garante ainda que ela acerte em cheio no teor emotivo de suas obras. Ao trocar experiências e expor trajetórias tortuosas até atingir seu momento de estima, a cantora cumpre com uma visão engrandecedora em suas canções, provando a capacidade de superação em relação a dilemas tão próprios do mundo moderno e da juventude, alarmados em madrugadas ruidosas. Torna-se evidente, ainda na continuação do álbum, a forma majestosa com que a artista abre o seu universo, abraçando o sentimento de conforto e afabilidade nas faixas mais lentas e pessoais do disco.
No quesito musicalidade, a credibilidade dos projetos de Taylor Swift mostra-se ainda maior a partir da percepção de sua forma de criação na indústria ao inserir o seu clássico pop, como o do inesquecível 1989, em conjunto com a delicadeza e complexidade de composições próximas das músicas atemporais de seu oitavo álbum, folklore. A unicidade de Midnights parte justamente do relacionamento diferenciado entre suas batalhas psicológicas e sua incapacidade de negar a tentativa pela perfeição, satirizando suas dores e revelando novas emoções que tomam espaço a partir de decepções como vingança, indiferença e karma.
A partir da produção de planos não tão polarizados e distantes entre tristeza e ânimo, presente nas batidas do disco, Swift concebe ao público canções com toques mais poderosos e que expressam o tom sensual e amargo da norte-americana, distanciando-se de composições somente românticas. Com isso, a artista amplia seus horizontes e expressa sua capacidade em permear diferentes territórios de forma avançada e impecável, construindo um ambiente comum de envolvimento e atração contínua.
Primeiro álbum realizado totalmente em parceria com Jack Antonoff, o disco une vocais incríveis de duas parceiras de longa data do produtor musical: Taylor Swift e Lana del Rey. As artistas se juntam em uma das canções mais metafóricas de Midnights, combinando seus toques românticos e paradoxais em Snow On The Beach. Considerando toda a ansiedade envolvida no feature, a faixa deixa a desejar no que diz respeito à participação de del Rey. A composição bela e estranha, que mistura emoção e desilusão constantemente, tem sua potencialidade exaltada em decorrência da maestria na condução de versos e estrofes dramáticas, porém, não capazes de esconder a ausência da voz da cantora convidada nos ápices da faixa.
Assim como a parceria com Lana del Rey e os outros dez álbuns de Taylor Swift, o romance está presente em Midnights de diferentes formas, transpondo desde a sensação de arrependimento até a conquista de um amor guerreiro e vencedor. No disco, o sentimento modela-se de maneiras distintas, traçando um percurso não linear que começa na negação da paixão em Labyrinth até a conquista da tranquilidade e transparência em um relacionamento, como detalhado em Sweet Nothing. Esse processo, no entanto, envolve possíveis mudanças no caminho até chegar ao ponto de destino do conforto.
A intensidade e o mistério de certas canções da obra de Taylor Swift são intensificados através de mecanismos de sobreposição e modulação de vozes, como nas faixas Midnight Rain e Maroon, que abordam jornadas frustradas da cantora e inserem o ouvinte em um meio sensível e imersivo que clama pela potência e força de tal experiência. O álbum configura-se de tal forma como uma companhia para todos os momentos, caminhando desde a vulnerabilidade até o poder de se sentir livre e brilhante. Característica obviamente planejada por Swift, Midnights oferece de tudo um pouco, sendo capaz de te acompanhar nas madrugadas e se mostrar compatível com diferentes dores, incentivando, porém, a expressão do brilho interno de cada um, assim como preciosos diamantes.
O lançamento de Midnights não foi a única surpresa de Swift em sua mais nova era. Meses após o debut de seu décimo álbum, a cantora retornou aos holofotes com o anúncio de sua turnê mundial, a The Eras Tour. Narrando toda sua trajetória na Música através de diferentes composições, cenários, figurinos e uma produção impecável e esplêndida, Taylor Swift comove multidões com shows de mais de três horas que não perdem a intensidade e emoção por um minuto sequer.
Recebendo ainda o reconhecimento do Grammy como a “turnê mais lendária desta geração”, a cantora norte-americana reafirma através do espetáculo toda sua genialidade e talento em uma carreira que já supera 17 anos. A energia do evento é capaz de ultrapassar quaisquer barreiras de diferentes estádios e transparecer todo o empenho, excelência e comprometimento de Swift com seu público.
Sua jornada de sucesso na indústria tem como base todo seu magnetismo e dedicação no que se propõe a fazer e inovar na Música. Traçando uma linda caminhada desde suas primeiras aparições em 2006 com o primeiro álbum Taylor Swift, até a consagração de seu legado através de Midnights. Nenhuma porta encontra-se inteiramente fechada para ela, uma compositora em ascensão há anos e extremamente criativa e ambiciosa em todas as suas produções, emplacando hits e marcando vidas a cada momento.