Gabriel Oliveira F. Arruda
Desde o seu primeiro trailer, a sequência da aclamada animação de 2013 da Disney, Frozen: Uma Aventura Congelante já parecia interessante, de um ponto de vista narrativo. Com uma atmosfera misteriosa e sombria, o teaser de quase 2 minutos contava com vocais da cantora norueguesa Aurora ao fundo, e pouco antes do título aparecer sob um fundo negro, a sucessão de clipes terminava com as protagonistas encarando um novo horizonte, distante da conhecida Arendelle, prometendo uma nova aventura fantástica. Será que o estúdio que não é exatamente conhecido por sequências fortes seria capaz de entregar algo tão ambicioso?
Frozen II não é uma sequência especialmente corajosa no que se diz respeito ao caminho que faz seus diversos protagonistas trilharem, optando por direções seguras, mas inegavelmente bem guiadas e que abrem espaço para ainda mais narrativas no incrível mundo criado pela dupla de diretores Jennifer Lee e Chris Buck. As personagens do primeiro filme amadurecem ao longo de sua jornada de maneira palpável, e é através desse amadurecimento que o longa espera tocar emocionalmente a audiência, extraindo o máximo do excelente elenco regular e de suas novas adições.
A começar por Elsa (interpretada novamente por Idina Menzel), a então rainha de Arendelle, que é obrigada a lidar com um chamado misterioso de uma voz distante, que a chama para longe do reino pelo qual ela é responsável. Sua irmã, Anna (Kristen Bell), continua sendo a mesma protagonista energética, mas agora sob a pressão de ser também responsável pela segurança de Elsa, que se dispõe cada vez mais a enfrentar os perigos que cercam Arendelle sozinha.
Já no elenco coadjuvante, Kristoff (Jonathan Groff) é forçado a lidar com sentimentos conflitantes com relação à Anna, de modo que grande parte de seu arco emocional no filme se passa separado das irmãs, deixando sua trama um pouco afastada da principal também. O sempre bem-vindo Olaf (Josh Gad) continua hilário como sempre, mas o amigável boneco de neve é forçado a lidar com novos sentimentos trazidos pela idade que o deixam curioso e animado pelo que virá pela frente.
Como adições notáveis, temos Evan Rachel Wood como a voz de Iduna, a mãe de Elsa e Anna, que protagoniza uma das sequências musicais mais emocionantes da trama, cantando uma canção para suas filhas. Sterling K. Brown interpreta Mattias, um antigo soldado de Arendelle que serviu ao avô de Elsa, forçado a confrontar duras verdades sobre o passado de seu rei e do seu papel nele, mesmo que apenas por um breve momento.
Num primeiro olhar, a trama de Frozen II começa com o potencial de desbravar novos territórios narrativos da Disney: ao se debruçar sobre o passado de Arendelle e da família de Elsa, o longa tem uma chance única de reexaminar toda a narrativa do primeiro filme. No entanto, esse ângulo é logo deixado de lado em favor de uma sequência mais convencional, mesmo que sabiamente executada. Não é que o longa não tenha coisas importantes a dizer, mas sim que ele não tem confiança o suficiente neles para realmente os desenvolver: o seu arco emocional entra na frente de qualquer outra coisa, fazendo pouco uso da estrutura a seu dispor.
O filme expande maravilhosamente bem a mitologia do primeiro, nos oferecendo novas perspectivas da terra e das ações das personagens, criando diversas oportunidades para futuros filmes se aprofundarem nos temas apresentados neste. Tanto no que se refere à mitologia tangível, explorando mais sobre o povo e a cultura de Arendelle, quanto à intangível, representando de maneira visualmente vibrante e inventiva facetas e mistérios que haviam ficado vagos no primeiro filme, puxando e costurando elementos de outras narrativas e as apresentando com o frescor único de uma animação da Disney.
Todos os personagens do filme são bem realizados, mesmo que alguns sofram de uma terrível falta de tempo em tela. Uma das jogadas mais espertas é a de separar os três protagonistas em certo ponto da narrativa, forçando com que cada um deles vá numa jornada introspectiva e precise lidar com as dúvidas que vão se acumulando ao longo da jornada. A de Kristoff, por mais que seja a mais afastada da trama principal, é também uma das mais divertidas graças a interpretação perfeita de Groff no papel e da lição que a história passa sobre relacionamentos.
Elsa é forçada a reexaminar seus passos anteriores e reavaliar o seu papel no mundo, partindo do final do primeiro filme e construindo ainda mais o seu protagonismo. Porém, é a jornada de Anna que atinge mais profundamente, numa das performances musicais mais emocionalmente carregadas dos últimos anos e que vai atingir qualquer um que tenha se sentido perdido durante um momento ou uma fase da vida e que tenha precisado de algo, qualquer coisa, para se levantar.
As músicas acompanham a mudança no tom do filme, soando maiores e mais carregadas do que as do original, mas sem abandonar a sensibilidade que conquistou audiências em 2013. São poucas as músicas que não ficam grudadas na cabeça assim que você sai do cinema. Todas elas articulam a trama e as personagens, com apenas uma delas servindo para fazer volume ao invés de adicionar algo à história.
A animação é, como de costume, do mais alto nível, chegando num ponto que é quase estranho ver os personagens animados em certos ambientes devido ao realismo almejado pelo estúdio em suas animações. Há certas cenas que a animação se torna quase indistinguíveis da vida real, em que todos os mínimos detalhes que compõem os planos são evidentes na sua execução e no seu perfeccionismo. Por mais que animações como Homem-Aranha no Aranhaverso tenham quebrado com a o padrão de animações cada vez mais realistas, o nível de detalhe em Frozen II continua sendo assombroso, e também merece destaque.
Frozen II é, em poucas palavras, um ótimo filme. Poderia explorar um terreno narrativo mais fresco ou ir por direções mais interessantes, mas isso não significa que sua execução seja sem mérito, já que é uma animação muito bem dirigida e roteirizada, que guia suas personagens com graça e segurança, forçando-as a amadurecer e a encarar um novo horizonte.