Jho Brunhara e Vitor Evangelista
Produzir um live action não é uma tarefa simples, como muitos casos que não terminaram tão bem. Embora aconchegante, Cinderela (2015) é imemorável, Dumbo (2019) é um fracasso e Christopher Robin (2018) não atinge seu verdadeiro potencial. Mesmo que imperfeito, Aladdin (2019) reinventa a animação original e mostra um mundo ideal a ser seguido.
O diretor Guy Ritchie, familiarizado com filmes de ladrão e câmera ágil (como Sherlock Holmes e Rei Arthur: A Lenda da Espada), toma a decisão complicada de reler a animação de 92, guiando os perrengues enfrentados por Aladdin das vielas empoeiradas até o chão lustroso do palácio do Sultão.
Ainda que não tão carismático quanto o ladrão da versão 2D, o Aladdin de Mena Massoud dá a guinada necessária para iniciar o conto, mas os holofotes aqui caem todos sobre o Gênio, a princesa Jasmine, e o tapete mágico – que, mesmo sem rosto, tem mais personalidade que o vilão Jafar.
Vamos por partes. Enquanto a performance polvorosa de Will Smith lufa vida ao musical da Disney, seu Gênio reconhece o legado de Robin Williams mas modela a aura do espetáculo visual que se desdobra nas duas horas seguintes. O exagero do macaco de chapéu, a paleta de cores, a textura alhambra, tapetes mágicos voadores e elefantes que transitam de tela a tela.
De todas as princesas live action, Jasmine é a que mais tem a dizer como produto do mercado atual. Comparada a todas as outras, que se mantêm no status quo dos originais, a filha do Sultão de Agrabah não aceita o final clássico e reescreve seu desfecho como bem quer. Naomi Scott brilha. Cheia de nuances, a atriz pavimenta a fragilidade de Jasmine nivelada a seu desejo de trazer o melhor ao povo que governa.
Jafar (Marwan Kenzari) é um erro. Completamente distante da personagem da animação de 1992, um vilão debochado e imponente, se torna caricato, chocho e ofuscado até mesmo pelo macaco Abu. O roteiro de John August e Guy Ritchie opta por rejuvenescer o antagonista, aproximando-o do próprio Aladdin. Essa escolha empobrece sua figura, que não bota medo nem no papagaio, agora arara, Iago.
Aladdin cai como uma luva para Ritchie. A tara do diretor por cortes rápidos e secos, longos planos sequência e a truncagem das ruas une o útil ao agradável. Mas, como nem tudo são lâmpadas mágicas, as escolhas musicais do longa pecam na construção maior da obra.
Certas adaptações, como Arabian Nights (A Noite da Arábia) e Friend Like Me (Nunca Teve Um Amigo Assim) – que inclui um trecho inédito de rap, funcionam tão bem quanto no desenho. Porém One Jump Ahead (Correr Para Viver) e a doce A Whole New World (Um Mundo Ideal) decepcionam de certa forma por parecer uma versão arábica de High School Musical. A inédita Speechless (Ninguém Me Cala), por mais pop que seja, carrega a força de todas as personagens femininas reprimidas desde que o Mickey começou a fazer filmes.
Aladdin é um filme sobre segundas impressões. Como bem diz o Gênio, não importa a quantidade de magia, o seu verdadeiro eu sempre aparece. À primeira vista apenas outro remake do rato multimilionário, o longa de 2019 é um abraço no coração, discute o amor e as promessas, os sonhos cantados e a mágica de uma terra distante.
Live actions são arriscados, e não precisam ser cópias diretas de suas respectivas animações, contanto que a magia original seja preservada. E o mundo ideal de Aladdin continua tão encantador quanto o de 27 anos atrás.