
Marcela Jardim
O gênero das sitcoms policiais ganhou um novo fôlego com Brooklyn Nine-Nine, série criada por Michael Schur e Dan Goor, que conquistou o público ao mesclar humor afiado e críticas sociais relevantes. Estreando sua sétima temporada há cinco anos, em 2020, a produção já havia passado por momentos turbulentos, como o cancelamento pela Fox e o subsequente resgate pela NBC. Esse novo ciclo veio em um momento de transição, trazendo desafios narrativos e estruturais para o seriado, que precisava manter sua identidade ao mesmo tempo em que lidava com mudanças significativas.
Com menos episódios, a sétima fase buscou equilibrar sua comédia característica com um desenvolvimento mais maduro de seus personagens e relações. Tais transformações já podem ser percebidas nos capítulos iniciais, que abordam a luta de Holt (Andre Braugher) para recuperar sua posição como capitão e a adaptação do time a essa nova dinâmica. Além disso, Jake (Andy Samberg) e Amy (Melissa Fumero) iniciam um novo momento da vida de casados: a tentativa de ter filhos.

A etapa, até então inédita, teve um começo movimentado com Manhunter, no qual o esquadrão lida com um atentado, enquanto Holt enfrenta desafios como oficial de patrulha e tem dificuldade de não estar em uma posição de liderança. Para mais, Amy desconfia que está grávida e pede a ajuda de Rosa (Stephanie Beatriz). Em seguida, Captain Kim apresenta uma nova comandante que tenta ganhar a confiança do time, mas Peralta e o capitão desconfiam da sua real intenção, enquanto Santiago faz de tudo para que ela se sinta bem vinda à delegacia. O humor caótico volta com força em Pimemento, trazendo um antigo amigo de Jake e Charles (Joe Lo Truglio) com amnésia e mergulhando em situações absurdas e perigosas.
Nessa nova fase, a série retoma elementos clássicos que marcaram o esquadrão, equilibrando humor com doses de emoção e desenvolvimento pessoal, como em The Jimmy Jab Games II e The Takeback, com a volta de Doug Judy (Craig Robinson). As competições internas e as dinâmicas entre personagens trazem um senso de continuidade e nostalgia, ao mesmo tempo em que exploram as transformações dos protagonistas diante de novas responsabilidades, como o amadurecimento do protagonista ao construir uma família com a esposa abordado em Trying. Ainda que alguns conflitos pareçam reciclados, a temporada se sustenta ao misturar bem a leveza das interações cômicas com momentos mais sensíveis, como dilemas pessoais e reviravoltas inesperadas dentro da delegacia.

Na segunda metade da sequência, a série tentou diversificar suas narrativas. Dillman trouxe um novo personagem, que já trabalhou com Holt anteriormente, para desvendar quem foi o responsável por uma pegadinha que danificou a evidência de um caso importante. Além disso, essa etapa também trouxe episódios mais emocionantes, como Admiral Peralta, que aprofunda a relação conturbada de Jake com seu pai, que teve os mesmos problemas com o avô, isso tudo enquanto tentam preparar o chá de bebe do primeiro filho do casal principal.
Obviamente teve a volta do Roubo de Halloween em Valloweaster, que, desta vez, foi transformado em um Roubo de Dia dos Namorados e Páscoa, mantendo a essência da competição entre os detetives. Ransom trouxe uma trama mais inusitada ao colocar Cheddar, o amado cachorro do capitão, no centro de um sequestro desesperador para os pais do cãozinho. Ao mesmo tempo, Rosa entra numa competição contra o ex-namorado entediante e chato de Amy. Por fim, Lights Out encerra a temporada com um apagão caótico no Brooklyn, culminando no aguardado nascimento do filho de Peralta e Santiago. Apesar de algumas tramas parecerem menos inovadoras, a etapa conseguiu equilibrar humor e desenvolvimento dos personagens, consolidando sua transição para um tom mais maduro.

Cinco anos depois, a sétima temporada permanece como um ponto de inflexão na trajetória da trama, marcando sua reta final e preparando o terreno para os desafios da oitava e última parte. A necessidade de adaptação foi evidente, mas nem todas as escolhas narrativas agradaram ao público, que esperava uma estabilidade maior entre novidades e continuidade. Apesar disso, a série conseguiu preservar seu espírito original, garantindo momentos marcantes e reforçando a importância de seus personagens para a cultura pop televisiva.
O legado de Brooklyn Nine-Nine segue vivo, consolidando a produção como uma das mais relevantes do gênero nos últimos anos. Seu impacto vai além da comédia, abordando temas como diversidade, justiça e relações interpessoais com sensibilidade e sagacidade. Mesmo com altos e baixos, a sétima etapa do seriado contribuiu para a tradição da trama, reforçando seu lugar na história das sitcoms contemporâneas. Ao revisitar esse período, fica claro que ‘B99’ não foi apenas uma sátira policial, é também uma obra que soube equilibrar riso e reflexão de forma única.