Cineclube Persona – Abril de 2022

Arte retangular de fundo na cor marrom. Ao lado direito da imagem, foi adicionada uma televisão antiga de tubo, com a divisão de quatro telas: a primeira delas mostra um casal deitado em uma toalha na praia, a segunda mostra um homem segurando o rosto de uma mulher e a olhando fixamente, a terceira mostra dois homens negros parados lado a lado, espantados, e a quarta mostra uma mulher posando antes de começar a desfilar. Ao lado da televisão está escrito Cineclube com letras brancas preenchidas e abaixo Persona, com letras brancas vazadas. Ao centro está o logo do persona, um olho com a íris na mesma cor do fundo, e logo abaixo em letras pretas está escrito abril de dois mil e vinte e dois.
Destaques de Abril de 2022: Heartstopper, o fim de Ozark, Medida Provisória e a 14ª temporada de RuPaul’s Drag Race (Foto: Reprodução/Arte: Ana Júlia Trevisan)

Se o mês passado esquentou as telonas com a versão em couro e tesão do Batman de Robert Pattinson, Abril foi marcado pelo verdadeiro estopim de múltiplos lançamentos imperdíveis. Mas, antes de destrinchar o amor perfeito de Heartstopper, as tragédias de Ozark, a potência de Medida Provisória e a resiliência de RuPaul’s Drag Race, é hora de nos despedirmos do Blue Sky Studios, propriedade adquirida pela Disney no ano passado e agora oficialmente extinto. Responsável por sucessos que iam de Rio à Era do Gelo, os animadores da empresa atingiram a jugular do público quando, no tchau, recompensaram o esquilo Scrat com a sonhada noz que movimentou uma saga de filmes jurássicos e gélidos. 

Ainda nos eventos que moldaram o quarto mês de 2022, o Festival de Cannes anunciou a programação de sua 75ª edição, com direito a destaque históricos para as mulheres cineastas, retorno de nomes consagrados da Sétima Arte e até um aceno importantíssimo para o sertão marítimo do Brasil de ontem, com a exibição em qualidade 4K de Deus e o Diabo na Terra do Sol, clássico de Glauber Rocha já exibido em terras francesas mais de 50 anos atrás. 

Banner do 75º Festival de Cannes. O pôster mostra uma cena do filme O Show de Truman, com um homem subindo escadas e tocando na parede, que tem o desenho de um céu azul com nuvens brancas. Nele, está o número 75 e o logo do Festival de Cannes.
O Festival de Cannes homenageou o filme O Show de Truman no pôster da 75ª edição, que acontece entre 17 e 28 de maio (Foto: Festival de Cannes)

De fato em terras nacionais, a vigésima segunda edição do Big Brother Brasil chegou ao fim longe do apelo e da relevância de suas antecessoras. Coroando o ator Arthur Aguiar como o campeão do ano, o reality se escorou no apelo dos fãs do artista nas redes sociais, tudo arquitetado por uma esposa expert no marketing digital e em um elenco que não viveu à altura do legado da turma de Thelma e Juliette. Se quem venceu o prêmio de 1 milhão e meio saiu desgostado pelo público, os eliminados prematuramente sorriram alegres no Carnaval de Abril.

 De Jade Picon a Lucas Bissoli, de Gustavo Beats à Dra. Laís Caldas, passando pelas comadres Naiara Azevedo, Jessilane Alves e Natalia Deodato, o nome máximo do BBB 22 é Lina Pereira. A Linn da Quebrada, que não deixa de ser Linda Quebrada e Linda Que Brada, tomou o Brasil de supetão, conquistando pela simpatia, pelo ar da graça e pela presença nunca antes sentida por entre as quatro paredes da casa mais vigiada. Além da cantora, atriz e agitadora cultural, Pedro Scooby, Douglas Silva e Paulo André ganharam status de queridos da audiência, com direito a desfile de modelitos fashion no Baile da Vogue, que esse ano brindou a brasilidade fantástica. 

Foto de Linn da Quebrada. Ela é uma mulher negra, de tranças compridas e usa um chapéu amarelo. Ela sorri, segurando o chapéu com as mãos, usa uma camiseta larga e comprida branca, com o desenho da escrava Anastácia. O fundo da imagem é cinza.
É ela! (Foto: TV Globo)

Na ficção, após uma leva de projetos menores que sucederam Boyhood (2014), Richard Linklater está de volta à ativa na nova aposta da Netflix, Apollo 10 e Meio. E Linklater não só voltou a boa forma mas também aos campos em que domina: as crônicas da vida comum, principalmente da infância e adolescência e a rotoscopia. O filme, que é uma espécie de semi-autobiografia do diretor, conta a história de Stan, um jovem que, após um erro de cálculo da NASA que faz com que a cabine do futuro Apollo 11 fosse pequena demais para um adulto, é recrutado para a agora Apollo 10 e Meio.

O diretor prefere se abster de uma crítica política mais ácida ao período da época para dar foco em como a Guerra do Vietnã e a contracultura interferiram na visão que o jovem Stan tem do mundo durante seu processo de amadurecimento. Vale ressaltar que, além da técnica de rotoscopia, outros méritos de Apollo 10 ½: A Space Age Adventure vão também para as atuações, incluindo a deliciosa narração do Jack Black; e para a trilha sonora psicodélica dos anos sessenta que casa perfeitamente com o estilo de animação.

Cena do filme em animação Apollo 10 e Meio. Nela, o personagem Stan, uma criança branca, está dentro de um foguete enquanto lê uma revista Mad. Stan veste uma roupa típica de astronauta americano e ao seu fundo estão algumas ferragens que compõem o banco do foguete.
Richard Linklater nos leva à Lua (Foto: Netflix)

Longe do sucesso crítico do novo trabalho de Linklater, o diretor Judd Apatow decidiu satirizar um set de filmagens em período de pandemia em A Bolha (The Bubble). Ainda na Netflix, misturando a leveza e a pegada despojada, o cineasta Peter Sollett dirigiu o roteiro de D. B. Weiss (um dos produtores de Game of Thrones) e deu vida a Metal Lords, que narra a jornada de três adolescentes deslocados que têm paixão pela Música, especialmente pelo heavy metal, gênero homenageado com as participações de Kirk Hammett (Metallica), Rob Halford (Judas Priest), Scott Ian (Anthrax) e Tom Morello (Rage Against the Machine, que atua como produtor executivo).

O filme possui protagonistas que estão em seu próprio caminho de autodescobrimento e autoaceitação: Kevin (Jaeden Martell), que inicia a trama sem saber muito sobre o gênero musical e sua relação com ele; Hunter (Adrian Greensmith), que tem problemas para lidar com emoções e interações sociais; e Emily (Isis Hainsworth), tímida, mas propensa a ataques de fúria. Juntos, o trio se torna a banda Skull Fucker (posteriormente Skull Flower) e enfrenta a banda pop Mollycoddle, liderada por Clay (Noah Urrea). 

Asa Butterfield pode até estampar o material promocional de Escolha ou Morra (Choose or Die), mas a estrela de Sex Education fica na sombra de Lola Evans, a verdadeira protagonista do terror dirigido por Toby Meakins. Mais catastrófico que ele foi a estreia de 365 Dias: Hoje. Continuando o fracasso de crítica mas sucesso de público 365 dni, o longa romantiza questões problemáticas e se vende com um pornô estiloso demais para os sites gratuitos. 

Cena do filme Crush, mostra duas adolescentes em frente a um auditório cheio de pessoas.
Com romance LGBTQIA+ e até intriga nos bastidores, o filme Crush chegou adocicado ao catálogo americano do Hulu (Foto: Hulu)

Meses depois de hipnotizar o público do Festival de Berlim, Pequena Mamãe (Petite Maman) chegou ao Brasil através do Amazon Prime Video. Munido do realismo fantástico único com o qual Céline Sciamma tem assinado suas últimas obras, o filme mais recente da diretora francesa carrega, desde sua estreia na capital alemã em 2021, a difícil tarefa de suceder o espetáculo de Retrato de Uma Jovem em Chamas – e aqui vai um spoiler amigo: tudo o que a história de Marion (Gabrielle Sanz) e Nelly (Josephine Sanz) deseja e concretiza é existir por si mesma.

Isso é quase uma alegoria para o próprio filme, que trabalha uma narrativa de amadurecimento de forma objetivamente simples e subjetivamente complexa. Ao viver o luto de sua avó, a pequena Marion guarda em seus olhares tímidos e curiosos a necessidade de entender um dos momentos mais delicados da vida de sua família aos oito anos. Na condução gentil e firme de Sciamma, Pequena Mamãe relaciona dimensões emocionais intergeracionais sem qualquer pretensão de extrair uma exaustiva análise psicológica de suas personagens naturalmente encantadoras – definitivamente, a habilidade nata do Cinema de Céline Sciamma.  

Cena do filme Pequena Mamãe. A imagem mostra um quarto sob a luz de um abajur amarelo. Existe uma cama ao centro, onde uma criança está deitada de bruços enquanto lê uma revista. No chão, do lado da cama, existe uma mulher que também lê uma revista. Pelo resto do chão, existem livros espalhados.
Outro destaque de Pequena Mamãe é a direção de fotografia de Claire Mathon, parceira de trabalho de Céline Sciamma desde Retrato de Uma Jovem em Chamas, que em 2021 também foi responsável por capturar Spencer (Foto: Amazon Prime Video)

Enquanto não chegava ao fim da exibição de Cavaleiro da Lua, o streaming do Mickey presenteou os fãs de musicais. Primeiro com Apresentando, Nate (Better Nate Than Ever), que tem Joshua Bassett no elenco. Depois, com Os Simpsons: Quando Billie Eilish Encontra Lisa (The Simpsons: When Billie Met Lisa). A obra narra a busca da filha do meio da família de seres amarelos por um ambiente tranquilo para tocar saxofone, quando acaba se deparando com a cantora. Apesar da duração de quatro minutos, não faltou tempo para a trama fazer piadas com a Disney, com o produtor musical Finneas O’Connell e, até mesmo, com a própria Eilish.

Em Abril, a MUBI foi palco de duas notórias produções estrangeiras. Com a Itália como cenário do longa, O Conto do Caranguejo Rei (The Tale of King Crab), filme dirigido por Alessio Rigo de Righi e Matteo Zoppis, narra uma história de conflitos entre Luciano, um aldeão que vive na Tuscia, e o príncipe da região. Essa intriga resulta no exílio do plebeu, que passa a viver em Tierra del Fuego com escavadores de ouro. 

White Building, o escolhido a representante cambojano na disputa pela vaga de Melhor Filme Internacional no Oscar 2022, também marca a estreia do diretor Neang Kavich em longas. O filme conta a história de Samnang, um aspirante a dançarino de 20 anos que vive com seus dois amigos e familiares em um prédio fadado à demolição na capital Phnom Penh. Para lidar com o estrangulamento que uma cidade em constante mudança causa em um jovem também em mudança, o diretor aposta na contemplação e nos planos longos, fazendo do filme, mais um expoente do slow cinema.

Cena do filme Alice, mostra uma mulher negra atravessando a rua com expressão de preocupação no rosto e olhando para trás.
Direto do Festival de Sundance e prestes a protagonizar o novo filme de Jordan Peele, Keke Palmer brilha no longa Alice (Foto: Steel Springs Pictures)

Entre os grandes lançamentos de terror de 2022, X tinha um lugar especial no pódio das expectativas. O slasher distribuído pela A24 é dirigido por Ti West (A Casa do Demônio) e acompanha uma equipe que decide fazer um filme adulto na região rural do Texas, no final da década de 1970. Quando seus anfitriões reclusos os pegam no flagra, o grupo passa a lutar desesperadamente por suas vidas. Aguardado pelos fãs de filmes do gênero, X tem um ritmo lento, utilizado para estabelecer bem a dinâmica entre os personagens e o ambiente rural inóspito. 

No entanto, a demora para que a violência exploda de vez e a repetição excessiva de temas ligados à religião mostram que o filme não aproveita todo o potencial para o terror que estabelece na maior parte de sua duração. É fato que o longa entrega uma dose considerável de sangue nos últimos 20 minutos, mas poderia ter ido mais fundo na luta pela sobrevivência que os personagens estavam experienciando. O grande destaque vai para Mia Goth (Emma.) e Jenna Ortega (Pânico), que se entregam completamente aos seus respectivos papéis e exibem atuações viscerais perfeitas para o gênero no qual estão inseridas. 

Cena do filme X, mostra uma mulher branca flutuando deitada num rio, com apenas a cabeça para fora da água.
O filme foi gravado ao mesmo tempo que Pearl, um prelúdio que mostra a vida da personagem de X quando ainda era jovem (Foto: A24)

Algumas semanas antes de comemorar os 20 anos de Homem-Aranha e mergulhar na loucura de Doutor Estranho 2, o diretor Sam Raimi produziu outro terror de Abril: Umma. Estrelado por Sandra Oh, a obra narra a história de Amanda e sua filha, que vivem uma vida pacata em uma fazenda americana. Quando os restos mortais da mãe ausente da primeira chegam da Coreia do Sul, ela passa a ser assombrada pelas memórias e pelo medo de se transformar na própria mãe. Apesar da premissa promissora, Umma não caiu no gosto da audiência, marcando o quarto mês de 2022 de maneira negativa para Oh, que também deu adeus a uma nada inspirada temporada final de Killing Eve.

Se a ex-médica de Grey’s Anatomy se encontra numa maré de azar, Nicolas Cage deu um cavalo de pau na carreira e agora surfa na aclamação. Após uma série de projetos extremamente duvidosos, surgiu a piada em Hollywood de que Cage aceitava qualquer papel por 1 milhão de dólares, tanto que, ele virou a personificação de ator com boleto para pagar (ou com dívida de jogo, como já diria Isabela Boscov). É justamente a partir dessa premissa que O Peso do Talento se desenvolve. 

Mesmo sendo uma comédia baseada em uma piada, The Unbearable Weight of Massive Talent é uma ode a um dos atores mais excêntricos, carismáticos e adorados do Cinema. Ele aqui abraça a piada e desenvolve uma química fenomenal com Pedro Pascal ao longo da história, que propositalmente é desenvolvida como se fosse um dos filmes mais mirabolantes do qual o ator aceitou participar. O longa é muito consciente ao misturar a comédia encarnada na carreira do vencedor do Oscar ao mesmo tempo que o homenageia com seus momentos de ternura, dando a Cage o que é de Cage.

Cena do filme o Peso do Talento. Nela, Nicolas Cage, um homem de meia idade com cabelo e barba preto e olhos verdes, interpretando a si mesmo, segura uma colher de pau com a mão direita enquanto olha para o canto direito. Cage veste uma camisa com listras verticais verdes e brancas e ao fundo é possível ver o mar e algumas montanhas
Apenas Cage poderia interpretar Cage (Foto: Lionsgate)

Mais movimentadas do que nunca, as salas de cinema receberam grandes nomes de Hollywood e do Brasil no mês. A começar por Medida Provisória, primeiro longa dirigido por Lázaro Ramos, que nos apresenta a um futuro distópico em que um governo tirano promove medidas para deportar os cidadãos brasileiros negros para o continente africano. A ideia absurda desencadeia uma série de protestos e movimentos de resistência pelo território nacional. O filme, que apresenta um tom crítico semelhante ao de Bacurau, escalou grandes nomes para compor o elenco, como Taís Araújo, Adriana Esteves, Seu Jorge, Emicida, Renata Sorrah e Alfred Enoch.

Em alta por seu papel na majestosa Pantanal, Dira Paes protagoniza Pureza. O filme estreou no 52º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, fez campanha para o Oscar 2021 e percorreu várias premiações até chegar aos cinemas, após dois anos de pandemia. A história, como esperado, é dolorosa e nada fácil de encarar: no começo da década de 90, uma mãe dava início a busca por seu filho, que havia saído de casa para tentar a vida nos garimpos da Amazônia.

Cena do filme Pureza. A imagem composta por um filtro amarelado mostra Dira Paes no papel de protagonista. Ela, uma mulher de cabelos e olhos escuros, aparece segurando um retrato de seu filho no filme. O enquadramento da cena é focado na altura do rosto de Paes.
Protagonizada por Dira Paes, a narrativa acabou significando algo ainda maior: a denúncia de trabalho escravo no país (Foto: Downtown Filmes)

Munida apenas da roupa do corpo e do amor de mãe, Pureza Lopes Loiola descobriu que ele provavelmente estaria trabalhando em condições análogas a escravidão. Até resgatá-lo, ela mergulhou na realidade brasileira que ainda possui raízes no trabalho escravo. Responsável direta pela criação do Grupo Especial de Fiscalização Móvel, Pureza deu o nome e a história para o longa de Renato Barbieri, cineasta de Atlântico Negro – Na Rota dos Orixás (1998) e Cora Coralina – Todas as Vidas (2015), que toma uma certa liberdade criativa para sustentar o drama biográfico. 

Com passagem pela 44ª Mostra de SP, outro título que passou por festivais antes de chegar às salas comerciais foi Mar de Dentro. Daiana Toffoli, a diretora de Manhãs de Setembro (2021) e De Volta Aos 15 (2022) assina um longa-metragem pela primeira vez na carreira, mergulhando Monica Iozzi nas profundezas de uma gravidez não planejada. Na pele de Manuela, uma publicitária bem sucedida, a atriz encara e escancara a complexidade de uma gestação.

Cena do filme Mar de Dentro. Na imagem, Monica Iozzi interpreta Manuela, uma mulher branca de cabelos e olhos escuros. Ela amamenta uma criança de colo enquanto tenta se alimentar. A sua expressão é de cansaço. O cenário é uma mesa de jantar com um copo de água e um prato de comida.
Longe da comédia, gênero onde se consolidou, Monica iozzi explora o drama em Mar de Dentro (Foto: Elástica Filmes)

Grande título internacional do mês, e após quatro anos de jejum da saga, Animais Fantásticos retorna para o seu terceiro filme, dessa vez com uma história centrada entre a Alemanha e o Butão. Os Segredos de Dumbledore apresenta uma história muito mais política do que mágica, com as eleições para a Confederação Internacional dos Bruxos como holofote da narrativa, o que deixa os segredos do diretor de Hogwarts de lado.

The Secrets of Dumbledore conta com o retorno de David Yates na cadeira de direção, com um roteiro assinado por J. K. Rowling e Steve Kloves (chamado às pressas depois do fracasso colossal do volume anterior). Também reprisam seus papéis Eddie Redmayne, Jude Law e Dan Fogler, com alguns atores novos adicionados à franquia, como William Nadylam e a incrível Maria Fernando Cândido. Importante ressaltar a presença quase nula de Katherine Waterson, atriz que bateu de frente aos comentários transfóbicos de Rowling e, mesmo sendo o par do protagonista, mal aparece no filme.

Não tem jeito, não importa o charme de Jude Law ou os números pífios de bilheteria que podem acabar com a chance da série ganhar mais filmes, todas as manchetes se voltam para o elenco problemático da franquia. Em julgamento por abuso e violência doméstica, Johnny Depp foi demitido e substituído por Mads Mikkelsen no papel do vilão Grindelwald. A escolha, acertada em gênero, número e grau, denota o talento do norueguês, que não tenta imitar o americano, dando ao bruxo suas próprias características e nuances. 

Cena do filme Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore, mostra Ezra Miller, uma pessoa branca de cabelos compridos pretos, usando terno escuro e com uma expressão de raiva em uma rua cinzenta.
Outra das estrelas da saga, Ezra Miller chamou atenção por suas consecutivas detenções no Havaí depois de agredir cidadãos locais (Foto: Warner Bros.)

Figurinha carimbada das comédias românticas, Sandra Bullock revisita o seu passado pela direção dos irmãos Aaron e Adam Nee em Cidade Perdida, o novo longa de aventura da Paramount Pictures para o Cinema. Bullock interpreta Loretta Sage, uma autora que é raptada durante a turnê de divulgação do seu mais novo romance. Ao lado de Channing Tatum na pele de Alan, o modelo de capa do livro, a satirização de clichês tenta a todo custo tirar a risada de quem assiste.

Em uma participação especial que faz o público pedir bis, Brad Pitt não tem medo do ridículo e encara a melhor versão do agente desastrado Jack Trainer. O cargo de vilão é trabalho para Daniel Radcliffe, o sequestrador Abigail Fairfax. The Lost City é despretensiosa na mesma medida que genial. Com um elenco de peso, o blockbuster deve arrecadar o suficiente em bilheteria para cobrir o seu custo de 68 milhões de dólares.

Outro sucesso do mês pascoal foi o ouriço azul mais veloz do planeta. Em Sonic 2 – O Filme, as aventuras do personagem titular, dublado por Ben Schwartz, mais uma vez se cruzam com o super vilão Dr Robotnik (Jim Carrey) e recebem a benção de Knuckles (Idris Elba) e Tails (Colleen O’Shaughnessey). Aqui está o escolhido do mês como o filme-para-toda-a-família: inspirando o revival do ícone dos anos 90 no imaginário da geração Z, a sequência entrega o carisma que promete com o seu elenco e faz a saga caminhar em direção à superação dos percalços passados. 

No campo das animações, uma das maiores bilheterias na história dos animes e dono de um selo Fresh no Rotten Tomatoes, Jujutsu Kaisen 0 é o filme inspirado no mangá de mesmo nome que antecede o quadrinho de sucesso Jujutsu Kaisen. O Volume 0 narra as aventuras sobrenaturais de Yuta Okkotsu, um jovem assombrado pela sua amiga de infância e paixão platônica Rika Orimoto. Ambientado em Tóquio, o desenvolvimento da trama toma forma quando Okkotsu acaba se matriculando em um Colégio Técnico de Jujutsu repleto de mistérios. 

Para fechar os filmes prestigiados nas salas, a coprodução ítalo-brasileira, O Traidor recebeu aplausos e elogios desde sua estreia no Festival de Cannes em 2019, se tornando um dos mais premiados filmes do Cinema italiano recente. Anos depois, o público geral finalmente poderá assistir Marco Bellocchio em toda a sua glória.

Do mesmo diretor de De Punhos Cerrados (1965) e Vincere (2009), não é de se estranhar o cunho crítico com o qual O Traidor trata a política italiana. O filme é baseado na vida de Tommaso Buscetta, mafioso da Cosa Nostra que posteriormente colaborou com a justiça para delatar o esquema de corrupção. A atriz brasileira Maria Fernanda Cândido, em dose dupla nos cartazes do Cinema em abril, interpreta a esposa de Buscetta, Maria Cristina de Almeida Guimarães.

Cena da série Boneca Russa, mostra duas mulheres fumando na rua. Uma delas é ruiva e a outra é loira, ambas usam óculos escuros e vestem casacos escuros. O cenário é uma rua de Nova York a luz do dia.
Haja peruca e cigarro para essa dupla (Foto: Netflix)

A Televisão de Abril pode muito bem ser dividida entre estreias empolgantes e conclusões aguardadas. Na Netflix, Ozark se despediu menos emaranhada do que de costume. Depois de respirar à beira do precipício com o sétimo episódio, a parcela final da quarta temporada movimenta os personagens entre o cartel, o FBI e a ascensão política. Marty (Jason Bateman) solta a embreagem e permite pequenas explosões, ao passo que Ruth (Julia Garner) tem material suficiente para marcar a História das telinhas.

Melhor e mais destemida do que antes, Wendy (Laura Linney) usa a loucura como carta magna nos momentos de escrever seu futuro. Depois de 44 episódios recheados de tensão, filtro azul e muitos sotaques caipiras, o veículo mais sóbrio da Netflix desata seus nós versando sobre o legado, o amor familiar e a falta de consequências para os abastados. O mundo é dos privilegiados, mas isso Ozark já havia nos dito desde 2017. Meia década depois, a lembrança é amarga, mas nunca surpreendente. 

Três anos depois de dobrar o tempo com a primeira temporada de Boneca Russa, Natasha Lyonne retorna. O ano dois, que dessa vez se envereda para viagens no tempo e um bocado de trauma familiar, é ainda mais inventivo que a estreia, por mais que a ideia de dar continuidade a algo tão único e singular como Russian Doll possa soar profano. E para quem ainda bate o pé sem vontade de mergulhar em 7 novos capítulos, a participação hiper-especial de Annie Murphy é o bastante para o convencimento. 

Cena da série Elite, mostra dois homens brancos deitados num gramado, sorrindo e se olhando. Eles usam camisas brancas, calças vermelhas e gravatas brancas e vermelhas. A grama é verde e está de dia.
Livre de amarras narrativas convencionais, a quinta temporada de Elite se regozija no homoerotismo (Foto: Netflix)

Grace and Frankie acabou na 7ª temporada, se tornando a produção original da Netflix com o maior número de episódios lançados. Ainda no tudum, David E. Kelley pulou da HBO para criar e escrever Anatomia de um Escândalo (Anatomy of a Scandal), um mistério que toma de base o livro de Sarah Vaughan. E se os assinantes do streaming esperavam melhorias para a quinta temporada de Elite, eles se decepcionaram mais uma vez. O quinto ano da série continua se apoiando em um plot reciclado, que alterrna entre um caso de assassinato e muitas cenas de sexo apelativas. 

Entre os personagens originais, ficaram apenas Samuel (Itzan Escamilla) e Omar (Omar Ayuoso), que aparecem com personalidades e uma amizade que nada têm a ver com o início da produção. Já entre rostinhos novos estão Isadora (Valentina Zenere), Iván (o brasileiro André Lamoglia), Bilal (Adam Nouru) e Cruz (Carloto Cotta), mas nem mesmo a adição deles conseguiu movimentar a história maçante. Toda a trama se desenvolve de forma superficial e repetitiva, e, apesar de abordar assuntos importantes (como discussões que perpassam os tabus do estupro, pedofilia, abuso psicológico e vício), a maioria é tratada de forma irresponsável e irreal. Uma sexta temporada já foi confirmada, e só o que resta para os fãs é rezar por uma luz no fim do túnel. 

Cena da série Ruptura. Nela vemos um ambiente de escritório composto por 4 lugares e separados por divisórias verdes de modo que um fique de frente para o sucessor e de lado para o antecessor. O lugar mais próximo a câmera está vazio e é possível ver uma mesa de escritório branco e um computador branco e azul em modelo bem antigo, além de uma cadeira verde. De frente para essa parte da divisória está o canto de trabalho do personagem de Adam Scott, um homem branco e de cabelos pretos. Ele está de costas mas olhando em direção a câmera e usa um terno cinza e um band-aid azul no lado esquerdo da testa. A frente dele está o personagem de John Turturro, um homem de meia idade, cabelos brancos e bigode escuro, ele também olha para a câmera mas só é possível ver sua cabeça através do espaço das divisórias. A frente dele está o personagem de Zach Cherry, um homem branco de cabelos e barbas pretas. A divisória está o tampando, de modo que só dá pra ver seus óculos e sua testa
Com destaque para o trabalho de Brit Lower na pele de Helly R., Severance bota para quebrar (Foto: Apple TV+)

Para os românticos de plantão, Abril findou a espera pela adaptação de Heartstopper. Com o envolvimento da autora Alice Oseman, a saga de Charlie e Nick foi levada às telinhas com a leveza das HQs, incrementada pelas performances deliciosas de Joe Locke, Kit Connor e companhia. Ainda sem confirmação de uma bem-vinda temporada dois, a história do encontro entre dois garotos borbulha nas redes sociais e fumega para além das telas, dando à comunidade queer um amor idealizado, perfeito e impossível de largar.

Na contramão das borboletas no estômago da paixão juvenil, a Apple TV+ chegou com duas pedradas. Depois de desbancar gigantes do streaming no último Oscar, a produtora resolveu iniciar a temporada com os dois pés na porta com a postulante a melhor série do ano, Ruptura (Severance). Com um elenco que tem nomes como Adam Scott, Christopher Walken, John Turturro e a queridinha da Televisão Patricia Arquette, a produção é um deleite de ficção científica. Seu roteiro, que mistura toques de Black Mirror, O Show de Truman e David Lynch, foi milimetricamente escrito e faz com que os mistérios da trama e seus vislumbres de surrealismo se desenvolvam de forma muito engenhosa e cativante. 

A isso junta-se um primor técnico, desde sua direção concisa, cargo dividido entre Ben Stiller e Aoife McArdle, até outros aspectos como uma montagem e design de produção e som agonizantes, que dão o tom daquele ambiente de trabalho nada ortodoxo (mas que faria muito sucesso no LinkedIn). Diferentemente da premissa, onde se é possível separar seu “eu” do trabalho de sua vida pessoal e esquecer esses ambientes num piscar de olhos, é impossível tirar Ruptura da cabeça.

Cena da série Pachinko, mostra uma senhora idosa asiática sentada à mesa, usando roupas claras e de cabelos presos.
A outra investida de ouro da maçã foi Pachinko, que se baseia no livro de Min Jin Lee para narrar um drama geracional, amparado pela direção de Justin Chon e Kogonada, e pelas performances de Lee Min-Ho e Yuh-Jung Youn (Foto: Apple TV+)

O HBO Max viu a consagração de Queen Stars, reality que envolve drag e cantoria, com a apresentação de Pabllo Vittar e Luisa Sonza. Além disso, Minx: Uma Para Elas fez barulho o suficiente para ter uma segunda temporada anunciada. A comédia criada por Ellen Rapoport acompanha Joyce (Ophelia Lovibond), uma jovem feminista que une forças com o editor Doug Renetti (Jake Johnson) para criar a primeira revista erótica voltada ao público feminino. A série, que possui 10 episódios com duração de aproximadamente meia hora, tem Paul Feig (Missão Madrinha de Casamento, Caça Fantasmas) como um dos produtores, e um elenco que esbanja os nomes de Michael Angarano (Quase Famosos), Sofia Gonzalez (Grace and Frankie) e Amy Landecker (Transparent). 

Ainda no aplicativo roxinho, e inspirada no livro reportagem Tóquio Proibida, de Jake Adelstein, a série Tokyo Vice se consolida como um envolvente drama policial, nos mostrando o submundo da cidade de Tóquio no final dos anos 1990 e o funcionamento da Yakuza – vista de perto pelo autor do livro . Em 2013, a produção foi concebida como um filme, e Daniel Radcliffe chegou a ser contratado para dar vida ao protagonista Jake. No entanto, seis anos depois, o projeto foi reformulado para uma série em 8 episódios, e o ator Ansel Elgort (Baby Driver, A Culpa é das Estrelas) assumiu o lugar de Radcliffe, dando vida ao primeiro jornalista estrangeiro a ser contratado no prestigioso jornal The Yomiuri Shimbun

Cena da série Tokyo Vice. Na imagem, vemos os atores Ansel Elgort à esquerda e Ken Watanabe à direita. Elgort é um homem branco, com cabelos lisos e loiros, veste um terno preto, camisa branca e gravata. Ele está com uma mochila de cor preta e com as duas mãos segurando uma câmera preta. Watanabe é um ator japonês, e está encostado em uma viatura policial japonesa. Ele possui cabelos pretos e levemente grisalhos, está usando um terno preto, camisa branca e gravata, e está com a cabeça virada para a sua esquerda. Ao fundo é possível ver um ônibus de cor azul.
Tokyo Vice acompanha um jovem jornalista do Missouri tentando se descobrir na imensidão de Tóquio, desvendando aos poucos o funcionamento da metrópole (Foto: HBO Max)

A Tóquio Proibida de Jake Adelstein é capturada por alguns takes que fazem lembrar Encontros e Desencontros (Lost in Translation) – talvez pelo jogo de luz e pelo próprio cenário de Tóquio –, mas em alguns trechos parecem haver referências à Miami Vice, e isso não é por acaso. Embora a maioria dos episódios tenham sido dirigidos por Josef Kubota Wladyka, é Michael Mann quem dirige o piloto – o diretor do filme de 2006. 

Sua ambientação é tão poderosa que quase podemos sentir o cheiro de nicotina invadir nosso quarto enquanto tentamos desvendar os rostos escuros que perambulam pelas ruas obscurecidas de Tóquio. O desenvolvimento da série é lento, e foca no amadurecimento pessoal dos personagens. Além disso, a produção mostra a força que a máfia japonesa detinha no Japão, mantendo uma censura não declarada nos jornais locais, em que não se podia noticiar nenhum homicídio. “Não existe homicídio no Japão se nenhum policial falar que foi homicídio”, Jake ouve após tentar noticiar um assassinato visto com seus próprios olhos.

Cena da série Roar, mostra uma mulher branca assustada em uma boate com luzes roxas. Ela tem as mãos na testa, com expressão de surpresa.
A Apple TV+ também foi lar de Roar, antologia que tece oito contos feministas sombriamente cômicos; no elenco, brilham Nicole Kidman, Betty Gilpin, Alison Brie e Issa Rae (Foto: Apple TV+)

Streaming mais adulto do grupo Disney, o Star+ recebeu a megalomania de The Dropout, minissérie com fome de Emmy que coloca Amanda Seyfried numa sinuca de bico. A história, que se baseia em eventos reais, mostra a tentativa da fundadora da Theranos, Elizabeth Holmes, de revolucionar o setor de saúde após abandonar a faculdade e iniciar uma empresa de tecnologia. Entre fraudes, performances memoráveis e reviravoltas de arrepiar os cabelos, a produção do Hulu tem tudo para crescer ao longo dos próximos meses. 

Enquanto alguns emergem, The Walking Dead caminha para o fim. A série de Televisão da AMC voltou a ser exibida no começo de 2022 e, agora, com a segunda parte da última temporada finalizada, o gran finale deverá acontecer em outubro. Prometendo entregar uma despedida digna para os fãs, os episódios da parte 2 da 11ª temporada tiveram como o principal evento a dominação de Alexandria, Hilltop e Oceanside pela Commonwealth, elevando as expectativas para uma guerra liderada por Daryl (Norman Reedus) e Maggie (Lauren Cohan) contra o Império.

Cena da série The Walking Dead, mostra 3 pessoas apontando armas para baixo. Eles estão em uma plataforma elevada, está de dia e o fundo mostra árvores verdes.
Dividida em três atos, restam apenas 8 episódios para o 11º ano de TWD; até lá, em meio aos rumores do retorno de Andrew Lincoln, o teaser da terceira parte fez alusão ao protagonista original, Rick Grimes (Foto: AMC)

Também no bonde da despedida, e após 176 episódios exibidos, chegou o momento de black-ish dar adeus aos fãs. Estrelada por Anthony Anderson e Tracee Ellis Ross, a sitcom do casal de protagonistas, Dre e Bow, tem a felicidade de ser encerrada com o sentimento de dever cumprido: a família Johnson conseguiu manter e fazer presente a sua identidade cultural negra, mesmo vivendo em um bairro branco de classe média alta.

Em 2022, os últimos episódios contaram com muito humor e emoção, além das participações especiais do ex-jogador de basquete Magic Johnson e da ginasta Simone Biles. A série exibida pela ABC possui incontáveis indicações aos principais prêmios da Televisão estadunidense. Entre eles, o BET Awards, o SAG e o Emmy Awards, o último segue devendo duas estatuetas de Melhor Ator e Atriz em Série de Comédia para Anderson e Ross. Com o fim, fica a dúvida: a 8ª temporada irá quebrar esse jejum?

O remake de Um Maluco no Pedaço, batizado apenas de Bel-Air, encerrou sua jornada inicial na TV, levantando elogios pelo tom mais dramático e pela acertada escalação de Jabari Banks no papel que deu o estrelato ao vencedor do Oscar Will Smith. Também amparada pelo apoio crítico e do público, na Itália, a HBO deu fim ao terceiro ano de A Amiga Genial, drama de amadurecimento que se baseia na obra mais famosa de Elena Ferrante. 

Cena do seriado Black-ish. Na imagem, Dre e Bow se entreolham durante uma conversa. Ele é um homem negro de olhos e cabelos escuros. Ela é uma mulher negra de olhos e cabelos escuros. Os dois estão sentados em um sofá branco. Dre veste uma jaqueta bege por cima de uma camiseta marrom e uma calça preta. Bow veste uma camisa de manga longa branca e uma calça preta. O ambiente é uma casa aconchegante.
Com os retornos de Barry, The Marvelous Mrs. Maisel e Atlanta, e novas temporadas de Ted Lasso e Hacks, é pouco provável que o casal de black-ish suba ao palco do Emmy, mas a esperança é a última que morre (Foto: ABC)

Em Abril de 2022, o público queer comeu o pão que o diabo amassou com a temporada final de Killing Eve. Apressada, nada concisa ou mesmo certa da história que gostaria de detalhar antes de encerrar o jogo de gato e rato, a produção demorou a engatar e, quando encontrou a marcha ideal para os sacrifícios de Eve (Sandra Oh) e Villanelle (Jodie Comer), já era tarde demais. Isso, e claro, a conclusão cretina que além de matar o amor menos saudável da atualidade, também assassinou a esperança dos fãs.

E para os que sobreviveram à amargura que o drama impregnou no paladar, foi vez de limpar a garganta com a 14ª temporada de RuPaul’s Drag Race. Ela foi longa, e dos 14 episódios competitivos, 7 deles não encontraram eliminação alguma. O senso de estagnação na Corrida das Loucas foi eclipsado pelo melhor elenco de drags desde os tempos de ouro de Sasha e Shea, além de diversificar suas competidoras. Pela primeira vez na histórias, 5 mulheres trans foram escaladas (e três delas se revelaram ao mundo como parte da comunidade trans durante a exibição do programa).

Entre o primeiro competidor homem cis hétero, o truque das barras de ouro, uma eliminação precoce e o pior Snatch Game em quase quinze anos, a temporada 14 coroou Willow Pill, drag queen que se identifica como pessoa trans feminina, filha/irmã de Yvie Oddly e uma das figuras mais marcantes da mitologia do show. Ao lado dela, que impressionou desde o Show de Talentos dadaísta até se tornar a primeira trans a vencer o programa principal, subiu ao trono Kornbread “The Snack” Jeté, a primeira Miss Simpatia trans de Drag Race. No fim, 16 extensos capítulos foram a quantia certa para a história ser mudada, graças aos deuses drag e ao talento de Pill, Jeté, Bosco, Lady Camden, Daya Betty, Angeria e companhia. 

Cena da série RuPaul's Drag Race, mostra uma drag queen negra usando uma roupa inspirada na Bela e a Fera. Ela é uma mulher gorda, veste um vestido amarelo, segura uma rosa gigante e tem maquiagem com traços de besta, com chifres, nariz de fera e uma peruca que imita chifres.
Na Final, Kornbread se inspirou em A Bela e a Fera para demonstrar que não há “maneira correta” de transIcionar ou de “ser” trans (Foto: VH1)

Foi difícil compilar o melhor e o pior de Abril de 2022 entre as telonas e as telinhas, o que parece se tornar rotina, considerando que, com a volta ao novo normal, o Cinema e a TV se rearranjam, tiram o atraso da pandemia e despejam lançamentos semanalmente. É tanto filme e série que fica difícil para qualquer um acompanhar os movimentos do mundo cultural. Mas, para os que procuram um seriado com garra e audácia cômica, a dica da vez é Abott Elementary. A trama segue um grupo de professores reunidos numa das piores escolas públicas do país, simplesmente porque adoram ensinar, e tem no elenco a criadora do show Quinta Brunson, que se destaca junto de Tyler James Williams, Janelle James e Sheryl Lee Ralph.

Para Maio, resta um Multiverso da Loucura, um Homem do Norte, um Cavaleiro da Lua e muito, mas muito mais. No aquecimento para a tempestuosa e movimentada corrida do Emmy 2022, acontece também o 75º Festival de Cannes. No Persona, você acompanha os pormenores e as engrenagens do audiovisual, sempre banhado pelas dicas mais deliciosas e suculentas do mercado. Até lá! 


Texto: Vitor Evangelista

Pesquisa e Pauta: Bruno Andrade, Caio Machado, Gabriel Gatti, Gabrielli Natividade da Silva, Guilherme Veiga, Nathalia Tetzner e Raquel Dutra

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