Cineclube Persona – Dezembro/2017

Luke Skywalker e Johnny, de The Room: uma boa metáfora do que foi 2017

Apesar de tenso, o ano de 2017 encerrou com saldo positivo na sétima arte. Para iniciarmos 2018 com o pé direito, nada mais justo do que prosseguir com o Cineclube Persona no mesmo tom, atento ao que acontece de mais impactante no mainstream e também no underground. Estes foram as alternativas escolhidas para quem não quis passar o fim de ano na praia:

Assassinato no Expresso do Oriente

A adaptação de Assassinato no expresso do Oriente, célebre romance de Agatha Christie, ao cinema trouxe grandes expectativas para seus leitores e fãs. E boa parte delas foram atendidas. A sequência de acontecimentos do filme é bem fiel ao livro, ressaltando detalhes simbólicos como o horário em que Ratchett (Johnny Depp) é assassinado. Além disso, a construção minuciosa do cenário é algo que chama a atenção do espectador.

Outro fator importante é a trilha sonora, assinada por Patrick Doyle (Thor, Cinderela). Com músicas que variam entre pianos, instrumentos de cordas e metais, bem como sonoridades orientais, as melodias passam a atmosfera de aventura, suspense e tristeza que o filme pretende transmitir de acordo com o seu desenrolar.

Porém, nem tudo é perfeito. Alguns personagens são descaracterizados no longa e a descoberta dos fatos que respondem ao mistério da obra é feita de forma muito rápida, o que pode dificultar o entendimento de quem não leu o livro. Apesar disso, o universo misterioso de Christie foi retratado de maneira eficiente no cinema, graças à boa direção de Kenneth Branagh e também muito bem como o detetive Hercule Poirot. – Guilherme Hansen


Extraordinário

Um dos filmes mais aguardados do mês, a história de Extraordinário foi baeada no best-seller de R.J. Palacio (2012) que traz uma discussão morna sobre o bullying sofrido por Auggie Pullman (Jacob Tremblay), um garoto que nasceu com a Síndrome de Teacher Collins, a qual ocasiona uma deficiência facial. Suas cicatrizes após cirurgias são o maior desafio para poder se socializar na escola.

De uma forma geral, o roteiro do longa foi muito fiel ao livro e é leve, extrovertida e consegue manter o público entretido. Porém, algumas falas do personagem principal parecem artificiais: em alguns momentos, fica difícil acreditar que um menino de pouca idade possa se expressar de forma tão elaborada. No entanto, o destaque do filme fica a cargo também do ator mirim. Sua interpretação afetuosa consegue externar muito bem seus sentimentos e atingir diretamente o expectador. — Heloisa Manduca


Lucky

Como Blackstar (2016), canto do cisne de David Bowie, é difícil separar Lucky da persona real de seu protagonista, por mais metafórico que o filme seja. O último filme estrelado pelo lendário Harry Dean Stanton, falecido ano passado, acompanha a rotina pacata de um senhor de 90 anos em uma cidade pequena no interior dos EUA.

O longa-metragem parece ter sido escrito na medida para o ator. As referências internas à sua carreira (incluindo a ótima participação de David Lynch, parceiro profissional e amigo de longa data) se fundem com o peso que a idade avançada impõe em seu corpo, e o resultado é praticamente Stanton interpretando a si mesmo. A aura serena do poeta Leonard Cohen, aceitando que estava pronto para partir deste mundo, vem à mente assim como o personagem de Harry Dean no clipe de “Dreaming of You”, de Bob Dylan, e sua trajetória incerta em terrenos áridos.

Mas Lucky passa longe de um exercício ególatra. Os diálogos espirituosos realçam todas as facetas do personagem homônimo, cujo niilismo ácido não o impede de ser, também, um velhinho bem humorado. A iminência da morte e o peso das memórias são discutidas em um roteiro que preza pela naturalidade, em um dos grandes filmes de 2017 – bem como das despedidas mais sublimes registradas na arte contemporânea. – Nilo Vieira


O Rei do Show

Dirigido pelo novato Michael Gracey, O Rei do Show é uma cinebiografia musical que conta a história de P.T. Barnum (Hugh Jackman), um empreendedor e showman que, em pleno séc. XIX, tenta montar um espetáculo formado por indivíduos excêntricos e alienados pela sociedade.

O filme conta com um elenco de astros, como Zac Efron, Zendaya e Rebecca Ferguson. Além disso, com cenários fantasiosos, coreografias envolventes e músicas emocionantes, a história passa uma mensagem atemporal sobre sonhos e aceitação. Vale à pena reservar um pouco de seu tempo para desfrutar dessa obra. — Pedro Fonseca E. Silva


The Square – A Arte da Discórdia

O filme sueco de Ruben Östlund, que levou o cobiçado Palma de Ouro no último festival de Cannes, circulou no Brasil somente em pequenao festivais e  estreará apenas em janeiro por aqui.  Talvez seja mesmo um filme direcionado para o público de mostras de cinema, já que trata da aflição de um grupo específico de estetas: o que é a arte contemporânea hoje?

Östlund cria em seu enredo uma luta na tela que permeiam aspectos bastante interessantes, como a curadoria de museus contemporâneos, a suposta perfeição das sociedades nórdicas e as relações liquidas nos dias de hoje.  Mas nessa sopa crítica, pouco se salva.

The Square cai no laço do típico filme europeu esquecível que preza excessivamente pelo seu aspecto crítico, mas é pouco atrativo em sua narrativa. Direto e explícito, Östlund dá carta branca para tocar nas polêmicas que envolvem a arte contemporânea (e quem cuida dela), mas infelizmente não leva em consideração a sutileza de uma narrativa, tornando seu longa seco e pouco atrativo de se ver. — Adriano Arrigo


Star Wars: Os Últimos Jedi

Os Últimos Jedi entrega justamente o que O Despertar da Força ficou devendo em 2015: a experiência cinematográfica – no sentido físico, grupal – que marcou Star Wars como a maior franquia de filmes. Como escreveu o crítico Richard Brody, da New Yorker, a obra é milimetricamente calculada para que fiquemos tais quais ratos de laboratório no cinema, reagindo coletivamente à montanha russa de emoções.

Embora o crítico norte-americano avalie nossa condição de experimentos como algo negativo, existe algo de singular e até bonito quando um filme consegue esses feitos. Enquanto o episódio 7 foi, para mim, sonolento por ser praticamente uma reimaginação de Uma Nova Esperança (1977), o episódio 8 me proporcionou em diversos momentos uma empolgação infantil. Os Últimos Jedi trouxe mudanças no cânone da série que não agradaram muitos fãs, porém o mais relevante está lá: as pessoas, seja de 8, 20 ou 50 anos de idade, novamente se importam com guerreiros(as) Jedi, naves e o eterno conflito entre bem e mal. -Lucas Marques

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