Gustavo Alexandreli
Após o sucesso da produtora Temple Hill em parceria com a FOX na adaptação do best-seller A culpa é das estrelas (2014), rendendo uma bilheteria de 307,2 milhões de dólares, as produtoras apostaram em mais uma adaptação da obra de John Green, desta vez em 2015. O best-seller Cidades de papel (Paper Towns) virou filme, dirigido pelo americano Jake Schreier. Em 9 de julho de 2020 a trama romântica completa cinco anos de lançamento e mantém temáticas atuais acerca de assuntos importantes, como a amizade, o amor na juventude e as transformações causadas pela chegada da vida adulta.
John Green trabalhou como produtor executivo e teve grande colaboração na adaptação para o cinema, e deixou uma interpretação mais livre, que se torna muito perceptível para aqueles que leram o livro e assistiram ao filme. Para os fãs da escrita de Green, essas mudanças podem causar estranheza, por não parecerem totalmente autênticas. Apesar de diferenças no enredo e a omissão de alguns detalhes, não há interferência que cause maiores prejuízos, mantendo a mesma essência tanto no cinema quanto na literatura. Como afirmado por John em uma coletiva de imprensa, “existem algumas diferenças. A coisa mais importante para mim é que o filme passa o mesmo sentimento que o livro”.
A trama inicia quando Quentin Jacobsen (Nat Wolff), nutre um amor platônico por sua vizinha Margo Roth Spiegelman (Cara Delevingne). Os dois possuem personalidades opostas, sendo que a de Quentin é fortemente trabalhada durante todo o filme, aproximando a atuação dele com o público. Em contrapartida, a personalidade da garota passa despercebida, deixando uma falha na ligação da personagem com o espectador. Ainda assim, apesar desta falha, o público é instigado a assistir, visto que Margo não é apenas uma garota comum como denotado no início do filme, e que explica um pouco seu desaparecimento. “Margo sempre adorou um mistério, e com tudo que aconteceu depois, nunca consegui deixar de pensar que talvez tenha gostado tanto de mistérios que acabou se tornando um”.
O filme inicialmente parece clichê, por ter um recorte temporal muito definido, e corriqueiro em outros romances já consagrados. O período de passagem do ensino médio para a faculdade, na fase final da escola. Na trama, esse intervalo acaba se tornando promissor, pois abrange as várias possibilidades que cada um dos personagens podem escolher em relação ao futuro de sua vida. Apesar de ter um recorte usual em filmes românticos para adolescentes, Cidades de Papel é diferenciado e chamativo por possuir um gatilho além do desaparecimento da garota, as referências e pistas deixadas para trás. Este elemento de persuasão em busca da garota é bem trabalhado, o que torna o filme uma particularidade no seu meio.
A partir do desaparecimento e da busca iniciada, é possível perceber que a amizade é aflorada. Os amigos de Quentin, – um tanto quanto bem humorados – Radar (Justice Smith) e Ben (Austin Abrams), o acompanham nesta trajetória de forma integral, reforçando o companheirismo e dando um toque descontraído ao filme. Além da ligação entre os amigos, outras relações amorosas ocorrem de forma simultânea com as garotas do colégio Angela (Jaz Sinclair) e Lacey (Halston Sage). Esses envolvimentos apresentam as diferenças com que cada relação ocorre, trazendo ao público memórias da época escolar, fazendo com que o espectador se identifique mais ainda.
É necessário destacar que o número de personagens é reduzido aos seis principais, deixando uma sensação de repetição constante durante o filme. Em contrapartida, a produção compensa esse número reduzido com um aprofundamento das relações entre eles, explorando um ambiente além de Margo e Quentin, e não deixando a narrativa cansativa. Apesar de Cidades de Papel já estar completando cinco anos, continua proporcionando momentos emocionantes, de reflexões, e nos ensinando o quão importante é uma amizade independente de qual seja a proposta e sua expectativa, e também que a vida e a busca pela felicidade não deve ser resumida a um amor.
Muito bem escrito!! Parabéns 3