Juliana Silveira Pollato
Uma década desde que um dos maiores álbuns pop do milênio foi lançado, Born This Way se tornou um sucesso de vendas e um grito de liberdade. Como comemoração, Lady Gaga lançou uma edição especial intitulada Born This Way The Tenth Anniversary, dividida em um disco com as canções originais e outro com seis novas versões do CD, interpretadas por artistas que representam e defendem a comunidade LGBTQIA+.
Desde seu nascimento, Born This Way é um marco memorável. O álbum foi anunciado por Gaga no VMA 2010, sim, naquele mesmo evento em que a Mother Monster teve como um de seus looks da noite o inesquecível vestido de carne e saiu com 8 prêmios das 13 indicações que recebeu. Não havia melhor momento para o anúncio de um novo ciclo em sua carreira, a lenda sempre foi um luxo extravagante!
Se há uma palavra que expressa bem todo o poder da nossa lady é ícone e, além de servir muito conceito e ousadia, Gaga é fortemente engajada em movimentos sociais, neste caso em específico, o movimento LGBTQ+. Nesse segundo disco de versões especiais, o Born This Way Reimagined conta a presença de artistas que pertencem ou são aliados da causa , assim sendo: Kylie Minogue, Big Freedia, The Highwomen, Brittney Spencer, Madeline Edwards, Ben Platt, Years & Years e Orville Peck.
A elétrica Marry The Night foi contemplada pela voz de Kylie Minogue, e The Edge of Glory por Years & Years, que apresentaram sonoridades bem próximas e fiéis às originais. A versão de Kylie ainda trouxe um videoclipe incrível em que todo o brilho dos teletransportou para a estética disco dos anos 70. Já Years & Years, além de não ter lançado um videoclipe para a sua versão, retirou a linha icônica do saxofone feita pelo mestre Clarence Clemons na faixa original.
Ben Platt, que deu vida ao Benji em A Escolha Perfeita, escolheu dar maior sensibilidade, delicadeza, intimidade e drama na versão de Yoü And I, nos entregando uma súplica de amor tão próxima que dá a sensação de que ele está cantando diretamente para a gente. A presença do violino e piano na versão faz um contraste com as batidas e guitarras presentes na original. Duas versões belíssimas, cada qual com sua intenção e seu próprio sabor do amor, assim nos provocam sentimentos diferentes.
A versão de Highway Unicorn (Road To Love), por The Highwomen, Brittney Spencer e Madeline Edwards fica entorno da sonoridade folk-rock que passa a sensação de que a estrada para o amor é de terra, nivelada, com diversas árvores e cabelos ao vento, enquanto cavalga-se um pônei. Em contraponto à versão original que tem uma pegada mais urbana, uma jornada de amor próprio mais frenética e luxuosa durante uma noite de balada, sensação causada por suas batidas, sintetizadores e efeitos na voz.
E Big Freedia, que trabalhou com Beyoncé em Formation, transforma Judas em um fascinante New Orleans Bounce – um gênero do hip hop, com a participação de um coro gospel espetacular, presença de um sax estridente e armadilhas de bateria. Uma roupagem totalmente diferente da original, mas ainda sim super comunicativa, forte e impactante.
Para encerrar o disco de versões especiais, não poderia faltar a releitura da música que carrega o nome do álbum. Orville Peck ficou com a missão de fazer a versão country de Born This Way e entregou serenidade e força com a imposição de distorções vocais em momentos pontuais da música, como por exemplo, quando ele canta que “nascemos para sobreviver”. Simplesmente impecável!
Born This Way Reimagined veio para consolidar a partilha de uma visão desconstruída de preconceitos e preocupada em criar elos de amor, respeito, e resistência, luta que teve seu início há 10 anos com o lançamento de Born This Way por Gaga. Todo esse conjunto do trabalho vem para enfatizar que é fundamental a construção do amor próprio sem nos esquecermos do amor ao próximo. Somos todos seres humanos singulares e especiais por cada característica que nos torna diferentes dos demais. A inserção de versões das músicas originais veio para ressaltar a beleza da diversidade. Viva a diferença. Viva o amor. Viva a resistência.