Muita gente sente uma nostalgia quando ouve: “Água… Terra… Fogo… Ar! Há muito tempo as nações viviam em paz e harmonia, e aí tudo isso mudou quando a nação do fogo atacou. Só o avatar domina os 4 elementos e pode impedi-los, mas, quando o mundo mais precisa dele, ele desaparece.” A animação da Nickelodeon, Avatar: A Lenda de Aang, criada por Michael Dante DiMartino e Bryan Konietzko, teve seu último episódio lançado há 10 anos, encerrando a épica batalha entre o Avatar Aang e o Senhor do Fogo Ozai, com a instauração de uma era de paz e harmonia.
Leonardo Dota Zonaro e Raul Galhego da Silva
O conceito de avatar vem da teogonia bramânica, onde um deus encarna no mundo material para a realização de grandes feitos. O avatar, na definição da animação, é a junção de uma alma humana com um espírito ancestral e poderoso, Raava, sendo o único capaz de dominar todos os quatro elementos (habilidade concedida pelas tartarugas leão e possibilitada por Raava). Sendo o responsável por trazer equilíbrio para o mundo, o espírito do avatar é repassado para um recém-nascido da próxima nação assim que o portador atual morre, na ordem: Tribo da Água, Reino da Terra, Nação do Fogo e Nômades do Ar.
A trama se passa após o genocídio dos Nômades do Ar pela Nação do Fogo em uma caça ao avatar, que teria renascido dentre eles. Após fugir do massacre, Aang, o último dobrador de ar, se perde em uma tempestade e seu estado avatar o congela por 100 anos no mar. Encontrado por Katara e Sokka, que o acompanharão em sua jornada, o garoto precisa aprender rapidamente a dominar os quatro elementos e trazer equilíbrio ao mundo antes que o Senhor do Fogo Ozai vença a guerra.
Hoje o tema da inclusão social está bem evidente em muitos âmbitos e cada vez mais vem sendo incluídos personagens com deficiências nos desenhos animados e na mídia como um todo. Temos exemplos em Como Treinar seu Dragão, franquia de filmes de animação cujo protagonista possui uma prótese no lugar da perna, Intocáveis (2012), filme onde um dos personagens principais é tetraplégico, Hoje eu quero voltar sozinho (2014), longa que retrata a vida de um garoto cego, entre outros. Avatar brilha nesse aspecto, demonstrando 3 personagens importantes com alguma deficiência: Teo, um menino filho de um inventor do Templo do Ar do Norte, possuindo paralisia nas pernas, o que o faz precisar de uma cadeia de rodas para se locomover; o Homem Combustão, que não possui uma das pernas e um dos braços, usando uma prótese para se locomover; e Toph, uma garota cega. Esses três personagens são muito interessantes pela riqueza de detalhes de cada um.
Teo, apesar de não poder dominar nenhum dos quatro elementos, é importante na trama por ajudar a Equipe Avatar a descobrir que seu pai ajudava secretamente na fabricação de tecnologias para a Nação do Fogo. O garoto mora no Templo de Ar do Norte com outros refugiados do Reino da Terra, liderados por seu pai, que fabrica invenções para melhorar a qualidade de vida dos moradores. O próprio Teo chega a ganhar de Aang em um concurso de acrobacias aéreas, apesar de sua deficiência, usando um glider. Ele reaparece em vários momentos ajudando a equipe, como na invasão da Nação do Fogo pilotando um tanque, e em outro momento presenteando o avatar com um novo glider.
O Homem Combustão, por outro lado, é um dos vilões mais difíceis de se lidar de toda a série. Apesar de não ser o mais ágil por causa de sua perna, é extremamente preciso em sua caça, sendo um assassino implacável. Ele é um caçador de recompensas contratado para dar cabo do avatar. É derrotado por Sokka depois de destruir boa parte do Templo de Ar do Oeste.
Toph cresceu em uma família rica e é uma das personagens principais da trama. Por ser cega, seus pais, por vergonha e medo, deixavam-na trancada em casa, de modo que as pessoas da cidade não sabiam de sua existência. A garota então cresce em um ambiente muito repressivo, que vai contra sua personalidade forte, dura e explosiva. Secretamente foge de casa na idade de 6 anos e encontra duas toupeiras-texugo, os dominadores originais de terra, que lhe ensinam essa dominação. Ela se identifica muito com esses animais por eles também serem cegos e usarem tal dobra para “enxergar”. Mantendo isso em segredo de seus pais, aos 12 anos foge de casa para se juntar à Equipe Avatar.
O fato de ser cega não prejudica a garota, que toma a cena quase toda vez que aparece, salvando a todos. Sua deficiência na verdade lhe confere uma vantagem: enquanto os outros deixam-se distrair pela visão, ela se concentra em detalhes menores e aprende a aprimorar seus outros sentidos, sendo capaz de “ver” através das vibrações do solo. Toph se torna uma das personagens mais poderosas de toda a saga, sendo considerada uma das dominadoras de terra mais poderosas do desenho, sendo ainda a primeira dobradora de metal de que se tem notícia, fundadora de uma escola desta dobra e professora de dois avatares.
Por fim, não podemos nos esquecer de falar do protagonista! Aang, o avatar, foi criado como um nômade do ar, aprendendo a vida toda que deveria agir não violentamente. Durante o desenvolvimento da série vemos o impacto que o genocídio de toda sua nação e cultura tiveram no garoto e a forma como ele vê que todos os problemas do mundo foram gerados e ampliados pela guerra iniciada pela Nação do Fogo. Além disso, em sua jornada, se depara com um empecilho que o persegue por mais que tente se livrar: para que a guerra termine, o Senhor do Fogo teria de morrer.
O garoto então se vê em conflito. Todos os seus ideais teriam de ser ignorados para retornar o equilíbrio do mundo. A todos que recorre, a resposta é sempre a mesma, até mesmo quando se comunica com suas vidas passadas: a morte de Ozai seria inevitável. Após uma conversa com uma tartaruga leão, que não lhe traz respostas diretas e imediatas, Aang vai para a batalha e, quando finalmente está prestes a encerrar a guerra pela morte de seu oponente, ele hesita, pois sabe que toda vida é valiosa e, por mais perverso que Ozai fosse, não deveria o avatar acabar com sua vida. Nesse momento ele faz algo inédito até então e retira a dominação do Senhor do Fogo, fazendo-o deixar de ser uma ameaça e vencendo a guerra, não apenas no sentido físico, mas também no sentido espiritual e ideal, trazendo a paz pela paz e não pela guerra, imposição ou pelo derramamento de sangue.
Avatar: A Lenda de Aang passa mensagens poderosas ao público: algumas vezes o caminho mais óbvio, mais fácil e o que todos indicam como sendo o certo pode simplesmente não ser a melhor opção, estando esta dentro de si, de seus ideais e de sua força interior. Nunca devemos subestimar alguém por suas limitações físicas, pois quem define nossas próprias limitações somos nós mesmos e quando quebramos essa barreira somos capazes de coisas que até então eram impossíveis.
Tendo revisto a série a pouco (terminei há 2 dias) e tendo tudo bem fresco na memória, posso dizer sem sombra de dúvidas que Avatar: A Lenda de Aang esta no meu top 5 de animações e merece virar um cult.
Demorei algum tempo para vê-la por preconceito, parecia meio infantil para o meu gosto, mas esta longe disso. Ela é sim muito leve e divertida em vários aspectos, mas não se engane tem muitas camadas, filosofia e beleza no meio!
Tem uma das mudanças de personagens mais marcantes para mim, episódios memoráveis como o do Guru do Aang, Os dias perdidos do Appa (dá uma apertadinha no peito) e o Zuko Sozinho (uma ode aos filmes de Western Macarrônicos e o Estranho sem Nome, show!), fora que tem uma dublagem ESPETACULAR (não agrado muito muito de dublagens, mas neste caso vale a pena)!
Se posso citar algum problema, fica apenas em alguns episódios filers, que não avançam muito a historia principal, mas a medida que você vai assistindo e gostando até estes episódios são divertidíssimos.
Se tiver de bobeira, abra a mente e assista ali antes de dormir ou no horário do almoço (media de 25min por episódio, passa rapidinho), e vai ter uma bela surpresa.