Arthur Caires
De tempos em tempos, surge uma história de romance adolescente que se passa em um verão calorento e que envolve duas pessoas que acabaram de se conhecer. Um formato clássico sempre bem-vindo e que, se bem executado, pode facilmente entrar na lista de obras reconfortantes que revisitamos com carinho. O filme Aristóteles e Dante Descobrem os Segredos do Universo almeja esse status e, de certa forma, quase chega lá, mas perde seu propósito no meio do caminho.
Baseado no livro homônimo de 2012, escrito por Benjamin Alire Sáenz, o longa foi lançado em 2023 e dirigido por Aitch Alberto, que buscou reproduzir a narrativa das linhas para as telas. A trama acompanha dois jovens mexicano-americanos na cidade texana de El Paso: Aristóteles Mendoza, um garoto introvertido que luta para se encaixar, e o livre e espirituoso Dante Quintana, que chega à cidade para passar o verão com sua família. Em meio a temas de identidade, raízes e amizade, a produção oferece uma reflexão sobre crescimento e aceitação.
Ao contrário do livro, que apresenta uma narrativa mais pessimista sob a perspectiva de Ari, o filme opta por uma atmosfera acolhedora e vibrante. A ambientação da década de 1980 e da cultura mexicana é retratada de forma eficiente, fugindo de estereótipos e valorizando esse elemento crucial da história. A Fotografia, feita por Akis Konstantakopoulos, embora não seja espetacular, cumpre seu papel e apresenta alguns momentos marcantes. O único ponto fraco, do aspecto cinematográfico, reside na composição de Donna Lisa para alguns figurinos que, apesar de remeterem à época, transmitem uma visão atual e caricata do que as pessoas realmente vestiam.
O roteiro, que foi adaptado pela própria Aitch Alberto e o autor Benjamin Alire Sáenz, tem como destaque a expansão do papel de Tia Ophelia (Marlene Forte) que, no livro, era apenas mencionada. A tia favorita de Ari, vivendo isolada devido à reprovação dos outros familiares sobre sua parceira romântica, ganha maior relevância na história. Sua participação se torna fundamental para o desenvolvimento do personagem principal e sua jornada de autoaceitação. Outro ponto positivo da adaptação é a forma como a mudança de cidade vivida por Dante é representada através da leitura de cartas. Apesar de ser um momento que sua presença fica reduzida, as cenas paralelas com a vida de seu melhor amigo são muito bem construídas.
Contudo, um dos principais motivos pelo qual Aristotle and Dante Discover the Secrets of the Universe não consegue se destacar é a sua duração. Para uma comédia romântica despretensiosa, 96 minutos podem ser suficientes. No entanto, para uma história profunda com personagens complexos, a falta de desenvolvimento prejudica a experiência. As cenas, rasas e rápidas, falham em se conectar, especialmente nos momentos de tensão, como a cena do acidente de carro. A diretora, conhecida pelos seus curta-metragens, opta por deixar muitos detalhes subentendidos, acessíveis apenas àqueles que leram o livro.
Um ponto crucial que a adaptação deixa de explorar em sua totalidade é a questão do irmão de Aristóteles, preso por assassinar uma travesti. As poucas memórias que o protagonista tem do irmão despertam sua curiosidade, mas seus pais, Liliana Mendoza (Verónica Falcón) e Jaime Mendoza (Eugenio Derbez), não tocam no assunto. No filme, essa temática é tratada de forma superficial, o que é decepcionante, especialmente considerando as polêmicas envolvendo pronomes que cercam o autor e a identidade transexual da cineasta. Da mesma forma, a epidemia de Aids, que no livro gera um maior debate, é resumida a uma mera menção no noticiário da Televisão.
Max Pelayo e Reese Gonzales, que interpretam Aristóteles e Dante respectivamente, fizeram um ótimo trabalho em representar as principais características e essência dos dois personagens. Ari, por trás da fachada de ‘valentão’, esconde inseguranças e receios, enquanto Dante é mais receptível e extrovertido, fazendo com que suas diferenças se complementem. A química entre os dois como amigos é intocável, como se ninguém os entendesse tão bem quanto o outro, especialmente o sentimento de se sentir um pocho – uma forma pejorativa de se referir a um mexicano que se tornou ‘americanizado’. Porém, à medida que a obra avança e a atração romântica floresce, a intimidade inicial se esvai, prejudicada pela falta de desenvolvimento gradual nas cenas anteriores.
Em um mar de blockbusters que sexualizam e adultizam a adolescência, Aristóteles e Dante Descobrem os Segredos do Universo ousa navegar um universo cristalino, preservando a inocência e os encantos dessa fase tão singular. Primeiros amores, descobertas da própria identidade e amizades genuínas permeiam a vivência de Ari e Dante. Para se consagrar como um clássico atemporal, faltou ao longa um farol, uma mensagem final ou uma bússola moral que guiasse os espectadores por essa jornada. Bastariam alguns minutos a mais para eternizar essa história nos nossos corações.