Gabriela Bita
De cachorros que falam a leões hiperrealistas, a Disney tem protagonizado erros e acertos em seus remakes das clássicas histórias animadas. Já tem mais de uma década que a empresa vem expandindo seu catálogo com live-actions de seus sucessos, para a alegria de uns e infelicidade de outros. Em 2019, o estúdio brilhou nas telas com a adaptação de Aladdin, uma das mais fiéis – se não a mais – à animação homônima de 1992.
O jovem ladrão das ruas de Agrabah voltou às telas 27 anos depois de sua primeira aparição, em uma versão atualizada sob direção de Guy Ritchie, mas que não modifica a essência do original de 1992. Se na animação, o garoto desafortunado e a princesa Jasmine conquistaram o público ao cantarem sobre um mundo desconhecido voando em um tapete mágico, o live-action cativa ainda mais o espectador ao trazer essa e outras cenas para a realidade.
A união de Mena Massoud, Naomi Scott e Will Smith no elenco foi um dos pontos que garantiram o sucesso do longa. Os intérpretes de Aladdin, Jasmine e Gênio, respectivamente, conseguiram trazer os personagens do desenho para o mundo real, desde a caracterização até a incorporação dos traços de cada um por meio da atuação, demonstrando o estudo prévio do filme de 1992.
A colorização é muito bem trabalhada e é um acerto como estímulo para conquistar o público e mantê-lo com os olhos na tela durante duas horas. Além da atraente cenografia de Gemma Jackson, os figurinos de Michael Wilkinson carregam as mais diversas cores que caracterizam não só o filme, mas também os personagens. Os tons escuros e fechados de Jafar contrastam com as tonalidades vibrantes utilizadas por Jasmine; as diferentes paletas também são exploradas com o personagem Aladdin enquanto o ladrão, vestindo tons terrosos e opacos, e como Príncipe Ali, adornado em cores claras que remetem à nobreza.
Não é uma tarefa fácil representar um personagem que já existe e possui uma marca entre o público, mas, felizmente, todo o elenco do live-action faz jus às figuras da animação. John August e Guy Ritchie acertaram ao seguir os moldes originais da animação no roteiro do longa, não há pontas soltas em sua concepção e a fidelidade com o nostálgico Aladdin de 1992 agrada as diferentes faixas etárias que contemplam o filme desde sua estreia. Agora, cabe a nós, meros espectadores, esperarmos que a continuação do live-action siga os modelos e a qualidade do irmão mais velho.
Apesar da exatidão entre o longa de 2019 com seu antecessor, alguns pontos inéditos são explorados no mais recente. Naomi Scott faz o público se emocionar ao cantar Speechless como Jasmine. A canção escrita por Benj Pasek e Justin Paul – que ganharam o Oscar de Melhor Canção Original por City of Stars, de La La Land –, além de causar arrepios em quem a escuta, traz ao filme um contexto atual sobre a sociedade e dá à jovem princesa a primeira oportunidade para demonstrar sua força e se tornar uma referência de poder feminino.
Mantendo o título de produção fiel à animação de origem, o live-action traz de volta para a produção de sua trilha sonora o compositor original das canções de Aladdin (1992), Alan Menken. Seguindo a premissa de que ‘em time que está ganhando não se mexe’, Menken realizou poucas mudanças nos arranjos musicais. Arabian Nights, por exemplo, teve algumas alterações em sua letra e tempo de duração. A vencedora do Oscar de 1993, A Whole New World, por sua vez, sofreu apenas uma pequena diferenciação em seu tom ao ser interpretada por Massoud e Scott.
O remake ultrapassa os custos de produção de seus antecessores. Foram necessários US$183 milhões para que toda a riqueza do longa ganhasse vida, enquanto Malévola (2014) e A Bela e a Fera (2017), por exemplo, geraram gastos de US$180 e US$160 milhões cada, respectivamente. É facilmente visível o resultado de tamanho investimento, seja através da própria construção da cidade de Jasmine ou da cena de Aladdin e o gênio na caverna. Os elementos gráficos utilizados pela equipe de efeitos visuais, liderada por Alan Stewart, junto com o trabalho do setor de design de produção, coordenada por Gemma Jackson, fizeram com que o resultado final iluminasse os olhos dos espectadores, por meio da fotografia, arte e cenografia.
Sem poupar esforços para o desenvolvimento do live-action, a Disney conseguiu transportar a magia de seu slogan para a adaptação, o que resultou em um verdadeiro espetáculo visual. O ouro e a riqueza não ficaram apenas na cidade fictícia de Agrabah: apesar de ter sido um dos filmes mais caros da época, Aladdin alcançou a 8ª colocação entre as maiores bilheterias de 2019 e consolidou seu sucesso entre o público.
Apesar do passar dos anos, a produção continua atual, seja em sua parte estética, que permanece agradando o público e sendo referência para outras produções, seja na abordagem de temas que ainda permeiam a sociedade cinco anos depois do lançamento. E é nesse último ponto que se estabelece a importância dos remakes feitos pela Disney, pois, ao trazer um clássico de 32 anos para o contexto do século XXI, é permitido que as histórias que muitas vezes são valorizadas apenas por sua beleza, ou até mesmo considerada para crianças, reflita para as telas o meio social da nova época.