Gabriela Bita
Para os fãs de Wes Anderson, A Incrível História de Henry Sugar é um espetáculo completo. Já para aqueles que não o admiram, pode ser um pouco difícil apreciar a obra, na qual as características que marcam o estilo de Anderson são maximizadas. Adaptado do conto do escritor britânico Roald Dahl, o curta-metragem é o primeiro de uma série de quatro produções – A Incrível História de Henry Sugar, O Cisne, O Caçador de Ratos e Veneno – realizadas pelo diretor em parceria com a Netflix.
Ao trazer a literatura para as telas, Anderson conta, com uma fidelidade impressionante, a história de Henry Sugar (Benedict Cumberbatch), um homem rico que, após encontrar um extraordinário livro, parte em uma jornada de autoconhecimento e transformação. O manuscrito lido por Sugar relata a história de Imdad Khan (Ben Kingsley), um ilusionista capaz de enxergar com os olhos vendados e que, curiosamente, é originalmente inspirado em uma personalidade real: o mágico paquistanês Kuda Bux, falecido em 1981.
A maneira como Anderson desenvolve seu roteiro é instigante e faz com que o produto audiovisual se assemelhe a uma peça teatral encenada em frente às câmeras. A todo momento, os atores quebram a quarta parede e falam diretamente com o público, além da narração acontecer como se eles estivessem em uma sessão de leitura compartilhada com as pessoas do outro lado das lentes, lendo as páginas da história para todos. Somada ao visual característico do diretor, com cores vibrantes e enquadramentos específicos, a abordagem resulta em uma obra dinâmica e que permite que os telespectadores se sintam incluídos nos acontecimentos.
Por sua vez, Benedict Cumberbatch é a adição perfeita para o elenco. O ator aparenta compreender com excelência a mentalidade do cineasta, entregando uma performance que difere, positivamente, de seus diversos outros trabalhos e cativa o público. Além de Cumberbatch, temos a presença também de um veterano no universo de Anderson: Dev Patel como Dr. Chatterjee, em mais uma brilhante e divertida atuação. Patel já pode ser considerado presença obrigatória nos filmes do diretor e faz jus a posição.
Concorrendo na categoria Melhor Curta-Metragem Live-Action do Oscar de 2024, a produção é a melhor chance de Anderson levar sua primeira estatueta para casa. O diretor acumula sete indicações na premiação ao longo dos anos – incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original por O Grande Hotel Budapeste – e, apesar das perdas anteriores, alimenta a esperança dos fãs por ser um forte competidor na categoria dos curtas. O cineasta é acompanhado na nomeação por Steven Rales, produtor que esteve presente na maior parte de seus filmes.
Para além de toda a beleza visual, A Incrível História de Henry Sugar é uma obra que desenvolve e nos faz pensar em questões sobre a capacidade humana, o significado e propósito da vida e de quem somos. Wes Anderson volta para o mundo das adaptações de forma certeira e, apesar de se manter em uma posição confortável trabalhando com o mesmo autor de seu anterior sucesso, O Fantástico Sr. Raposo, a direção e roteirização do curta estabelecem – em apenas 40 minutos – um patamar mais elevado às suas produções. Ainda que o estilo utilizado para produzi-lo não agrade uma parcela do público, a obra é um grande acréscimo tanto para a filmografia do cineasta quanto para o repertório dos cinéfilos de plantão.