Rayanne Candido
Em meio a dragões, dramas medievais, distopias futuristas e a realeza britânica, “This is us” consegue alcançar diversas indicações a 70º edição do Emmy com seu segundo ano. Numa temporada focada em perdas e superações, o seriado da NBC aproxima ainda mais seu público tratando das crônicas familiares e criando ali uma mitologia emocionante e empática.
A primeira temporada terminou cheia de lacunas e pontas soltas. É com base nessas brechas que a segunda se desenvolve pois vai respondendo de forma natural as indagações iniciais, principalmente em relação ao mistério que envolvia a morte do personagem Jack que ocorreu ainda na adolescência dos trigêmeos. Considerado o episódio mais esperado e mais temido de toda a trama até então, foi transmitido após a final do campeonato de futebol americano, o Super Bowl e qualquer programa que é transmitido depois do jogo está destinado a ter uma boa audiência. E foi esse caso, com a melhor audiência em seis anos de jogo e de forma emocionante, esclareceu enfim o mistério que foi alimentado desde o início da trama: a morte do patriarca da família.
Apesar da continuidade que essa eventualidade trouxe para o enredo da trama, a segunda temporada de “This is us” não se fixa somente nisso e aposta em outros pilares mostrando que a série consegue se sustentar com as outras personagens e seus enfrentamentos. Nesse ano, toda a força da personagem Rebecca Pearson (Moore) é explorada ao ter que manter sua família unida e equilibrada. A morte de Jack deixa uma aura de tristeza que acompanha os Pearsons ao longo de suas trajetórias, o que faz eles terem que aprender a lidar com a perda e seguir em frente.
Mantendo o foco em Kate, Kevin e Randall a infância e a adolescência do trio são aprofundadas e a cada episódio o público fica mais íntimo dos irmãos. Kate (Metz) é a mais afetada pela falta do pai, sua premissa inicial girava em torno da luta que ela travava com a obesidade. Com um desvio na narrativa, agora a atenção é voltada para sua vida profissional e as desilusões que a acompanham. E também, para sua montanha-russa afetiva com Toby (Chris Sullivan) que ao desenrolar da trama acaba sendo o responsável pela aproximação da namorada com a mãe.
Ao se desvincular de “The Manny”, programa que estrelava, o ator Kevin (Hartley) consegue um papel para atuar em um filme ao lado de Sylvester Stallone e tenta conciliar sua vida profissional e seu relacionamento com Sophie (Alexandra Breckenridge). Além disso, fica perceptível a humanização do personagem, deixando um pouco de lado o escudo criado por ele.
O desenvolvimento de Randall (K. Brown) foi tocante. Apresentado no começo como o mais perfeito dos irmãos, com uma família já formada e emprego dos sonhos agora também é mais sensibilizado e humanizado, apresentando ao público outra face do personagem. Ao decidir adotar uma criança para retribuir o que Jack e Rebecca fizeram por ele, acaba desencadeando uma cadeia de acontecimentos.
A adoção da personagem Deja (Lyric Ross) é de extrema importância para a narrativa, já que a jovem possui um passado problemático e traz mudanças à vida de Randall e toda sua família. A introdução da personagem sensibiliza e faz com que Beth (Susan Kelechi Watson) e as filhas do casal Tess (Eris Baker) e Annie (Faithe Herman) se esforcem para dar a nova integrante o conforto familiar.
A sequência de This is Us, indicada ao Emmy 2018 foi lembrada nas principais categorias. Milo Ventimiglia (Jack) e Sterling K. Brown (ganhou pela mesma indicação edição passada – Randall) disputam pelo prêmio de melhor ator em série de drama. Os atores Ron Cephas-Jones (William H. Hill) e Gerald McRaney (Dr. Nathan Katowski) também concorrem para uma mesma categoria, a de melhor ator convidado.
Sterling K. Brown fez história sendo o primeiro homem negro a vencer o globo de ouro na categoria de melhor ator em série dramática e agradeceu ao criador Dan Fogelman por criar um papel específico para um homem negro em This Is Us. O ator já havia vencido dois Emmys, um pelo papel no drama e outro por sua atuação como o promotor Christopher Darden em “American Crime Story: The People v. O. J. Simpson”.
Com uma fotografia colorida e caprichada, a temporada consegue prender a atenção do público e mantém a fórmula de sucesso melodramática. Em comparação com a primeira temporada, esta foi mais eficiente ao dar espaço a personagens secundários e reforçar a importância dos laços afetivos. Além disso, a trilha sonora consegue dar o toque final e despertar as mais sensíveis emoções.