Adriano Arrigo, Gabriel Leite Ferreira, Matheus Fernandes e Nilo Vieira
Em sintonia com as comemorações LGBTQ+, a curadoria de junho está bem mais colorida em relação ao mês anterior. Não que os álbuns sejam todos serelepes e upbeat – afinal, como a foto acima sugere, o niilismo também é cada dia mais universal -, mas a paleta está bastante diversificada. Temos opções de trilha para dançar loucamente e/ou para curtir com seu amorzinho no frio, como você pode conferir abaixo.
Calvin Harris – Funk Wav Bounces Vol. 1
synth funk
Em seu quinto álbum, o produtor escocês sai do eletropop genérico em direção ao funk e a disco, seguindo a tendência marcada por Daft Punk e Bruno Mars. O resultado é o disco mais sólido de sua carreira, impulsionado pela mudança dos convidados, aqui pertencentes em sua maioria ao universo do hip-hop e do r&b, como Future, Snoop Dogg e Travis Scott. O destaque porém é o sempre genial Frank Ocean, acompanhado pelo trio Migos na banger Slide. (MF)
DJ Sports – Modern Species
ambient house, jungle
Modern Species é uma curta e eficiente viagem por algum lugar fértil da cabeça do dinamarquês Milán Zaks, também conhecido por DJ Sports.
São verdadeiros ecossistemas eletrônicos construídos de forma singela e não explícita. É necessário, então, ouvi-lo atentamente para não deixar seus breves ruídos passarem despercebidos, como os assovios eletrônicos que chamam a serenidade de “Reluctant Memory”.
Mas seus minimalismos não são sufocantes ao ponto de deixar Sports abandonar faixas agitadas. Ao som do drum’n’ bass de “World A” e nas batidas forasteiras de “Fertilent Crescent”, Modern Species é um trabalho completo, sem se deixar levar por excessos conceituais. (AA)
Don L – Roteiro pra Aïnouz, vol. 3
rap
Cearense radicado na capital São Paulo, Don L não tem papas na língua. Em entrevista de 2014 a Rolling Stone, afirma taxativamente que o que interessa é o dinheiro e cita o gigante Kanye West como inspiração. Falta a estrutura econômica de Yeezy, mas a autoestima elevada já é garantida.
Roteiro pra Aïnouz, vol. 3 exemplifica bem essa característica. Alternando versos contemplativos e hedonistas, aliado a um flow certeiro e produção em sintonia com as tendências do rap norte-americano, Don L entrega um disco consistente em sua narrativa compacta (são apenas 35 minutos). Em tempos de Costa Gold, Haikaiss e derivados, vale muito o play. (GL)
Fleet Foxes – Crack-Up
folk
Ao constatar o vazamento do disco na internet, Robin Pecknold (líder desta patota indie de Seattle) postou em seu Instagram: “se for ouvir, tenha certeza de ouvir alto, de preferência dirigindo em algum lugar legal, talvez ao pôr do sol“. Justo, visto que a espinha dorsal do sucessor de Helplessness Blues (2011) está na sensação de continuidade.
Terceiro álbum do Fleet Foxes, Crack-Up traz a instrumentação rústica do grupo em estruturas mais complexas, marcadas tanto pela beleza quanto por rupturas inesperadas. A instrumentação é riquíssima, e os vocais continuam entre os melhores do estilo na atualidade – entusiastas de Joni Mitchell e Neil Young certamente apreciarão. Em um projeto que sugere contemplação e movimento ao mesmo tempo, temos aqui mais uma bela adição a uma discografia já impecável. (NV)
Laurel Halo – Dust
art pop, ambient
Em seu primeiro disco em quatro anos, a aclamada produtora do selo Hyberdub desafia o ouvinte com uma sonoridade detalhada, mas altamente abstrata. Entre batidas de techno e texturas pouco convencionais até para um rótulo “elevado” como o art pop, as faixas exigem atenção – mas são recompensadoras. (NV)
Lorde – Melodrama
art pop, synthpop
Quatro anos após o festejado Pure Heroine, Lorde finalmente retorna à praça com um segundo disco. A capa soturna, quase sombria, de Melodrama já demonstra um amadurecimento notável. É que Lorde passou por muita coisa desde 2013. A precoce fama mundial – ela tinha apenas 17 anos quando estreou –, a saída da casa dos pais e o fim de um relacionamento marcaram o fim de sua adolescência. A maioridade, enfim, chegou.
“Green Light”, o carro chefe do álbum, trabalha esse sentimento transicional tanto na letra autoafirmativa quanto no instrumental. Sai o minimalismo sóbrio de Pure Heroine, entra a produção grandiosa e versátil assinada por Jack Antonoff. Em comparação com o debut, Melodrama possui letras mais impactantes e produção mais arrojada, além de funcionar melhor como álbum. Talvez tenham faltado composições grudentas tais quais “Tennis Court”, “Team” ou “Royals”, mas o poder de faixas como “Homemade Dynamite” e “Liability” é inegável. Volte logo, Lorde! (GL)
Vince Staples – Big Fish Theory
hip hop, BANGERS
Em seu quarto projeto em quatro anos, o jovem rapper californiano surpreende: este é seu melhor registro, e a nova guinada sonora foi (quase) repentina. Aos moldes do divisivo Yeezus (2013), de Kanye West, a produção é minimalista, da embalagem do produto físico às batidas eletrônicas pesadas que regem o disco.
Se este álbum não possui carros-chefes tão potentes como “Blood on the Leaves”, ao menos ganha no quesito regularidade. É um dos plays mais compactos do ano, cuja aparente “secura” inicial inspira mais e mais revisões até que você esteja reagindo ao disco no pique do youtuber Big Quint. Com produções grudentas de Bon Iver e Sophie aliadas a participações certeiras de Kendrick Lamar e Juicy J, é presença certa nas listas de melhores de 2017. (NV)
UMFANG – Symbolic Use of Light
technofeminism
“Quero que as pessoas saibam que a música eletrônica é acessível e que eu me ensinei e que você também pode aprender”, diz Emma Olson a cabeça por detrás do nome Umfang. A DJ é parte da excelente safra de música eletrônica deste ano. Porém, Symbolic Use Of Light está muito mais apegado as batidas em loop do que a enxurrada conceitual que a música eletrônica costuma ser.
Seu LP de estreia é, então, puro amor ao techno. Na decupagem feita em “Where Is She”, e “Wigless Victory” a garota de Detroit mostra precisamente porquê amamos o estilo: uma base descomplicada que está apta a receber camadas para torna-se um produto final refinado e dançante.
No mais, Umfang também é a DJ é residente do evento Technofeminism que, segundo ela, é um espaço para as mulheres explorarem novas ideias em volta do techno. Em seu LP, sua pretensão não é só alcançada, mas como também pavimenta a estrada que há entre as mulheres e a música eletrônica. (AA)
Young Thug – Beautiful Thugger Girls
hip hop, country
Seguindo os passos de sua inspiração Lil Wayne, o versátil Young Thug faz seu álbum de música cantada, sem os tradicionais versos de hip-hop. Felizmente, devido ao seu talento vocal, o disco está mais para 808s & Heartbreaks, do Yeezy do que para o desastroso Rebirth, do já citado Weezy.
O rapper (no caso, cantor) continua expandindo sua já gigantesca paleta musical no disco, produzido por Drake. Thugger passa pelo country, em “Family Don’t Matter” e até pelo indie folk em “Me or Us”, sample inusitado de “First Day of My Life”, do ícone da sensibilidade dos anos 2000, Bright Eyes. (MF)