Os melhores discos de Agosto/2016

2016 segue sendo um ano difícil: as grandes expectativas acabam não fazendo jus aos lançamentos do ano – qualitativa e quantitativamente.

Todavia, quem estiver disposto a peneirar entre os mais diversos estilos musicais ainda achará algumas pepitas pelo caminho. Essas foram as nossas, a maioria encontrada aos 45 minutos do segundo tempo do mês de agosto – ufa!

Carly Rae Jepsen – Emotion Side B

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Pop

Com o muito bem produzido Emotion (2015), a cantora canadense não apenas espantou o fantasma do “one hit wonder” como também chamou a atenção da crítica especializada  ao redor do globo. Como comemoração pelo aniversário de um ano do disco, Carly Rae lançou este ep, que em nada deve ao repertório do álbum completo: as oito canções que compõem o trabalho são marcantes e pegajosas, com o glamour oitentista novamente ditando o rumo das coisas e proporcionando um sorriso instantâneo no ouvinte.

A bolachinha só confirma que os pressupostos adornianos cada vez mais caem por terra, e que o pop é, sim, um gênero musical de alta relevância artística e social. Dê o play e saia cantarolando – você merece ao menos esses 27 minutos de diversão em um ano tão fraco. (NV)


Carne Doce – Princesa

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rock psicodélico

Um dos destaques recentes da música nacional com seu debut self-titled lançado em 2014, o Carne Doce está de volta com seu segundo álbum, “Princesa”. Mais longo que o antecessor, com músicas que beiram os 10 minutos de duração, o álbum combina a psicodelia, parte essencial de nossa música revivida em bandas como o Carne e Boogarins, com as letras feministas da vocalista Salma Jô. Cumprindo a difícil tarefa de superar o primeiro disco, “Princesa” é um dos melhores discos até agora em um ano apagado para a música nacional. (MF)


Dinosaur Jr – Give A Glimpse of What Yer Not

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rock alternativo

No âmbito do rock, bandas veteranas tendem a desenvolver uma fórmula para seu som e segui-la indefinidamente ao longo da carreira, sem muitos prejuízos. The Rolling Stones e Motörhead são os exemplos clássicos e constituem casos à parte no cânone roqueiro: o som característico e a fiel base de fãs permitiram que a busca por inovação fosse deixada de lado em detrimento do sucesso confortável.

Se há uma banda no meio alternativo que se encaixa nessa definição, essa banda é o Dinosaur Jr. Apesar dos conflitos internos – principalmente entre o guitarrista e vocalista J Mascis e o baixista Lou Barlow –, o grupo foi capaz de se estabelecer no cenário underground da virada dos anos 80 para os anos 90 com seu som encharcado de distorção, influências explícitas do rock tradicional e uma notável sensibilidade pop. Give a Glimpse of What Yer Not é o décimo primeiro disco da banda, o quarto desde que a formação original se reuniu, e não foge da proposta principal. A guitarra de Mascis segue à frente, junto aos seus vocais tímidos e angustiados, e as melodias continuam acessíveis mesmo se encobertas por feedback. A produção orgânica, com timbres cheios e clima garageiro, lembra a obra-prima You’re Living All Over Me e merece nota. Descompromissado e competente. (GL)


Frank Ocean – Blonde

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r&b

O álbum mais esperado de 2013, 2014, 2015 e 2016 finalmente chegou. Se superar Channel Orange era quase impossível, os quatro anos de espera só aumentaram a responsabilidade de Frank Ocean. Ainda assim, Blonde supera todas as expectativas. Abandonando a grandiosidade de músicas como “Pyramids”, Blonde é extremamente intimista. A produção é tão minimalista que até a bateria é abandonada em boa parte do tempo, abrindo espaço para a performance emocional de Ocean, em um dos discos mais sinceros e intensos da história recente.

No topo de sua capacidade vocal e lírica, com controle total sobre o projeto e uma grande quantidade de colaboradores estrelados, que vão de Beyoncé à Jonny Greenwood, Ocean lança seu álbum definitivo, revolucionando de maneira quieta e suave toda a música pop e fazendo qualquer espera valer a pena. Merece dezenas de ouvidas, em busca de cada um dos milhares de pequenos detalhes que fazem de Blonde já um dos melhores do ano. (MF)


Inquisition – Bloodshed Across the Empyrean Altar Beyond the Celestial Zenith

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black metal

Um dos projetos mais elogiados de black metal nesta década, o novo trabalho desse duo colombiano chegou sob altas expectativas e não fez feio. O guitarrista e vocalista Dagon ainda permanece como a espinha dorsal da banda, despejando dezenas de riffs eficientes e entregando mais uma performance vocal sólida (a opção em ter abafado um pouco os vocais acabou funcionando). Direto e ainda assim expansivo – desde os títulos épicos -, Bloodshed vem pra reafirmar, mais uma vez, o poder de fogo do Inquisition e justificar os louros por parte da imprensa metálica. (NV)


Thee Oh Sees – A Weird Exits

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rock psicodélico & garageiro

Formado no final dos anos 90 em São Francisco, o Thee Oh Sees teve bons professores e fez a lição de casa. Com uma produtividade invejável – quem lança dois discos em um único ano nesses tempos de hypes aleatórios? –, a banda capitaneada John Dwyer é diferente das outras tantas bandas indie contemporâneas por olhar para os psicodélicos de sua terra natal e mesclá-los ao Pink Floyd da fase Syd Barrett e ao krautrock de Can e Neu!. O resultado é um som vigoroso, espontâneo e divertido.

A capa de A Weird Exits, o lançamento mais recente do Oh Sees, representa bem os 40 minutos do álbum: uma jornada inusitada por corredores alienígenas. Rotular o trabalho não é tarefa das mais fáceis, mas a mistura dá liga. A proposta mais direta da psicodelia californiana está aqui, bem como a atmosfera lisérgica do Floyd sessentista e a sensação de eterno improviso própria do krautrock, a última diretamente referenciada nas faixas instrumentais. Ao vivo as canções devem ganhar outra vida; fica a dica, Lollapalooza Brasil. (GL)


Vince Staples – Prima Donna

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 hip hop

O jovem e já consagrado rapper não para. Após chamar a atenção da crítica com o ep Hell Can Wait (2014) e ganhar o mundo com Summertime 06 (2015), Staples manteve o pé no acelerador e já botou outro trabalho sólido no mercado. O estilo de produção mais cinzento de sua estreia não marca mais presença aqui, e as batidas mais diversificadas (incluindo aí um sample do Outkast) tornam este ep um destaque no gênero este ano.

Compacto e ao mesmo tempo cheio de detalhes, pesado e sempre se mantendo próximo ao ouvinte, conceitual e ainda funcionando bem com as faixas avulsas, Prima Donna é um projeto decidido e correto. E isso, em tempos que primam por álbuns redundantes e repletos de fillers, é um grande acerto.


Young Thug – JEFFERY

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hip-hop

Os melhores momentos de Young Thug são indiscutivelmente os em que aposta em sua excentricidade. Uma variedade de flows e ritmos que o botam em um patamar habitado por Lil Wayne e Kanye West, aliado a um estilo pessoal extremamente único e desafiador.
Depois de algumas mixtapes apostando nos bangers trap que dominam o hip-hop, Thug volta a explorar seu potencial em JEFFERY, disco em que busca sua identidade homenageando seus ídolos, como Floyd Mayweather, Kanye West, Rihanna e o gorila Harambe (RIP).

Com refrões pop e seu flow em nível máximo, a mixtape é das melhores do ano no hip-hop, e a mais acertada de Thugger desde Banger 6. Destaque também para a capa, com o rapper usando um vestido italiano na maior estileira Mortal Kombat. (MF)


V/A – Stranger Things, vol 1&2

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horror synth / soundtrack

Grande sensação das séries nesse ano, Stranger Things tem como ponto forte sua trilha sonora, raro exemplo de score televisivos que se destacam (talvez o único outro seja o trabalho de Angelo Badalamenti, em Twin Peaks). Composta por Kyle e Michael, do grupo S U R V I V E, a trilha bebe do trabalho de John Carpenter nos anos 80 e de um revival retrô, visto na trilha de filmes como Drive e It Follows.

Funciona bem na série, consegue se manter fora dela, em um álbum sólido de música synth, mesmo com mais de 50 faixas. (MF)


 

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