A importância do Rímel de Azzy para a representatividade feminina no rap nacional

Capa do EP Rímel, de Azzy. A imagem mostra uma fotografia da artista de ponta cabeça, ao lado de um espelho que mostra seu rosto. A imagem é estilizada em tons de vermelho, laranja e amarelo. Azzy é uma jovem negra de pele clara, tem cabelos alisados escuros e olha para o lado esquerdo da imagem, de perfil, com expressão séria. No canto superior esquerdo, está o nome do EP em amarelo numa fonte de letra de forma, e num tamanho menor, em cima e colorido de branco, está o nome da artista.
“De São Gonçalo para o mundo, você não queria, mas eu vinguei”: na música São Gonçalo, Azzy fala sobre a sua trajetória dentro do rap nacional (Foto: Azzy)

Livia de Figueredo

Dona de um talento singular e autêntico, a rapper Azzy lança um novo EP chamado Rímel. Contando com 5 faixas que destrincham toda sua versatilidade e potencial como artista, o trabalho aborda desde músicas com temática romântica até letras que retratam a realidade feminina dentro das periferias. 

Uma das principais faixas de Rímel é São Gonçalo, que explana grande parte da sua trajetória. A vida da artista foi marcada por um amadurecimento compulsório, visto que, aos 12 anos de idade, Isabela Oliveira foi violentada sexualmente por um parente. Sem saídas e sem o apoio familiar, ela saiu de casa para não ser mais submetida a tamanha violência

Desamparada, sozinha e na ausência de um apoio psicológico e financeiro, o tráfico de drogas foi a solução que a Azzy encontrou para sua própria sobrevivência. No podcast Podpah, a rapper relata como foi ter que traficar até conseguir uma mínima condição de vida, para assim sair do crime e poder se dedicar à Música, que sempre foi sua paixão.

Imagem de Azzy em entrevista ao podcast Podpah. Ao centro, existe uma mesa de madeira, onde Azzy está do lado esquerdo, usando uma blusa de moletom rosa e calça jeans azul. Do outro lado, estão dois entrevistadores. Todos tem microfones à sua frente e atrás da mesa existe uma TV que mostra o logo do podcast. A TV está presa numa parede cinza clara.
“A gente fala e ninguém ouve. A gente grita e ninguém ouve. A gente pede socorro e ninguém escuta”: frase de Azzy no podcast Podpah (Foto: Gabriel Carvalho)

A história de Azzy é semelhante a vivência de milhares de meninas que são violentadas sexualmente, e por consequência de uma sociedade que possui em sua conjuntura raízes discriminatórias e sexistas são invisibilizadas, e ainda tem todos os seus direitos negligenciados pela família e pelo Estado. Nesse cenário de extrema violência, uma válvula de escape que surge como um grito de resistência é se expressar através da Arte. 

Inicialmente, a rapper participava de batalhas de rimas no estado do Rio de Janeiro. Todavia, nem dentro do rap, onde pessoas negras e periféricas conseguem ganhar voz para escancarar uma realidade de estigma que sofrem, a mulher encontra seu espaço. Esse foi o preconceito que Azzy vivenciou na própria pele, quando o seu trabalho era desmerecido por conta do seu gênero, e em suas letras, ela denuncia o machismo dentro do rap nacional: “Até entendo vocês odiarem uma mina rimar melhor do que vocês”.

Nesse quadro persistente de preconceito e pouca representatividade, Azzy, com apenas 20 anos, teve seu rosto estampado em um telão da Times Square, um dos lugares mais conhecidos no mundo. A rapper é uma das brasileiras que compõem o quadro de artistas do projeto EQUAL do Spotify, que tem como objetivo promover a equidade de gêneros. O destaque foi para a música Robocop, que deixa explícita a mensagem sobre a liberdade feminina em Rímel. Outros artistas, como Anitta, Luan Santana, Iza e MC Dricka colaboram com o EQUAL, entretanto, é inegável que a presença de Azzy é essencial para a diversidade cultural, visto que ainda há entraves para a figura feminina dentro do rap.

Imagem de um painel na Times Square, em Nova Iorque, que mostra Azzy como o rosto da campanha EQUAL do Spotify. A imagem é vertical e mostra vários prédios espelhados ao fundo. Ao centro, está o painel que estampa uma fotografia de Azzy.
“Posso dizer, como Isabela e como Azzy, o quão grandioso é estar representando tantas mulheres. Estar na Times não é só sobre mim, é sobre todas nós que sonhamos com o pódio.” (Foto: Afonso Caravaggio)

Esse reconhecimento internacional fez a rapper se transformar numa inspiração para milhões de meninas e mulheres, que hoje podem ver o rap como uma oportunidade de se expressar. Nesse sentido, o EP Rímel conta com uma participação de uma artista emblemática do gênero musical: Cynthia Luz em Luzes de Neon. Na música, a dupla  deixa claro o recado de que as minas são livres para serem, fazerem e ocuparem tudo o que desejam. 

Atualmente, Azzy coleciona na sua carreira participações nacionalmente reconhecidas, como no Poesia Acústica, onde ela colaborou em três edições que tiveram mais de 650 milhões de acessos. Além disso, os dois milhões de seguidores que a rapper conquistou em sua conta pessoal do Instagram confirmam o inquestionável: Azzy é um fenômeno, contribuindo para a representatividade do rap nacional e feminino, que infelizmente ainda hoje encontram obstáculos como a falta de investimento e o machismo. 

Entretanto, com a figura de mulheres como Azzy, a passos pequenos outras meninas e mulheres periféricas são inspiradas a procurar uma realidade diferente da que é oferecida pela sociedade, como os abusos, violências e negligência dos mais diversos setores sociais. E finalmente, podemos nos ver como merecedoras de ocupar todos os espaços, inclusive como dignas a  atingir o pódio através de uma música que surge como um grito das minorias.

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