Beatriz Apolari
A Cinco Passos de Você, obra cinematográfica lançada em 2019, completa cinco anos presente na memória afetiva de muitas pessoas. Dirigido por Justin Baldoni, o longa conta a história de dois jovens diagnosticados com fibrose cística que vivem uma história pura, mas dramática, de amor. O livro homônimo que inspira a produção audiovisual é escrito por Rachael Lippincott e Mikki Daughtry, e também foi lançado em 2019.
A película veio seguindo a tendência de romances teen trágicos iniciada por A Culpa É das Estrelas (2014), mas se mostra diferente por abordar a distância física entre os protagonistas, denotada no título, e discutir a necessidade do toque humano. Inclusive, a narrativa se inicia com essa ambientação: o quão importante é o contato com aqueles que amamos.
De cara somos apresentados à Stella Grant (Haley Lu Richardson), uma adolescente perfeccionista de 16 anos com fibrose cística que passa seus dias internada no hospital seguindo uma rotina rígida estipulada por ela mesma: ela faz conteúdo para a internet, desenvolve aplicativos e organiza seu tratamento quase sozinha. Quando ela conhece o excêntrico Will Newman (Cole Sprouse), sua mania de controle entra em colapso.
Will sofre de fibrose cística como ela, mas fora contaminado com uma bactéria altamente contagiosa para aqueles que possuem a síndrome respiratória. Já sem esperanças de viver, ele negligencia o próprio tratamento. Isso deixa Stella inconformada, então eles fazem um acordo: Will deixaria Stella administrar sua rotina e tratamento se ele pudesse desenhá-la. O apelo psicológico nasce do fato de que, mesmo apaixonados, por conta da fibrose e da bactéria, os dois precisam ficar fisicamente afastados, separados por cinco passos de distância.
Diversos foram os curiosos para ver Cole Sprouse, na época galã de Riverdale, interpretando mais um garoto sarcástico e reservado. Neste quesito, não existe nenhuma novidade em sua atuação. É Haley Lu Richardson, a Stella, quem mais cativa. Você chora, se apaixona e se diverte com ela. Ainda, é preciso destacar as atuações de Moises Arias (ex-Hanna Montana) como o também paciente e melhor amigo de Stella, Poe Ramírez, e de Kimberly Hébert Gregory como a enfermeira Barbara.
O filme acerta em mostrar o ambiente hospitalar como muito mais que um prédio carregado de tristeza. As amizades entre funcionários e pacientes e o espírito coletivo de cuidado já trazem essa humanização, mas a direção estreante de Justin Baldoni explora muito bem os espaços físicos do hospital. Quando Stella e Will passeiam separados por um taco de sinuca, por exemplo, podemos conhecer todos os cantos deste lugar que deveria ser melancólico, mas para muitos é como um lar (mesmo que temporário).
Entretanto, os vínculos parentais dos protagonistas são pouquíssimos explorados. Esse é realmente um furo no roteiro. Will fala sobre a preocupação de sua mãe com sua recuperação, porém ela raramente aparece. Stella conta que gostaria de se manter viva por seus pais, contudo ela se encontra com a mãe apenas uma vez e seu pai só aparece quando ela é submetida a um transplante de pulmão. A única menção parental recorrente é de Abby, irmã de Stella que havia falecido anos antes.
A narrativa da paixão entre os pacientes mostra a rebeldia contra o tratamento e tudo aquilo que a doença havia lhes restringido, como a simples ideia de liberdade de amar quem se ama. Dessa forma, mesmo distantes e correndo risco de vida, eles decidem viver esse amor. Ainda, o constante diálogo com a morte manifestado nas complicações da doença, na perda de entes queridos e nos questionamentos sobre o que acontece quando morremos é responsável por manter uma atmosfera sensível e emotiva durante todo o longa.
Assim é construída a beleza do filme. Pode até parecer um romance adolescente sem muitas novidades cinematográficas, mas é muito certeiro no que se propõe: mexer com o coração do público. Em 2019, as pessoas saíam com os olhos marejados das salas de cinema. Em 2024, os espectadores permanecem assistindo à obra por trás de uma lente de lágrimas.