Rayanne Candido
“Um Lugar Silencioso”, filme de John Krasinski, estreado no Brasil dia 5 de abril, nos faz repensar o valor do silêncio. O suspense, que se passa em um contexto futurista pós-apocalíptico, é em sua extensão um momento clímax de clássicos do terror: qualquer barulho emitido pelos protagonistas pode despertar a fúria de criaturas que estão soltas e são atraídas pela percepção sonora. Se elas te escutam, elas te matam.
A produção tem sido um sucesso de bilheteria, ficando atrás, no Brasil, apenas do polêmico “Nada a Perder”, e nos Estados Unidos, onde teve a segunda melhor abertura do ano, perdendo só para o imbatível “Pantera Negra“. O longa tem sido amplamente comentado nas redes sociais, em que o público relata uma experiência na maioria das vezes positiva.
“Um Lugar Silencioso” é um trabalho extraordinário. Incrível atuação, mas a coisa principal é o silêncio e como ele deixa as lentes da câmera abertas de uma maneira em que poucos filmes conseguiram”.
Stephen King
O enredo gira em torno da família Abbott, que vive isolada em uma fazenda do meio-oeste nos Estados Unidos. Desde o começo do longa, o som é apresentado como um inimigo eminente; qualquer barulho pode ser fatal. A alternativa de sobrevivência foi a adaptação: caminham na ponta dos pés, se comunicam por linguagem de sinais, espalham areia no chão para diminuir os ruídos dos passos, sussurram (quando estritamente seguro), entre outras artimanhas encontradas visando a dispersão das entidades.
Para evitar barulhos desnecessários, os diálogos são escassos – e a atuação se apoia ainda mais nas expressões faciais dos atores. Os protagonistas Lee Abbott (John Krasinski – Jim na versão americana da série The Office) e sua esposa Evelyn Abbott (Emily Blunt – Rachel em A Garota no Trem) atingem uma conexão surreal, e os filhos do casal também desempenharam um envolvimento além do esperado. Isso completa o cenário de desespero, pois o público divide a preocupação constante dos pais em deixar as crianças seguras e, principalmente, ficarem em silêncio.
Krasinski (ator e diretor) consegue manter a essência do longa sem precisar apelar para o gore, porém não deixa os sustos de lado e aposta em sequências contínuas de tensão. Tem proximidade com filmes como Corra! e A bruxa, dois longas que também apostaram na exploração do terror psicológico e que comentam a sociedade e os valores em crise. Já “Um Lugar Silencioso” consegue examinar, a partir de criaturas e um futuro apocalíptico, a raiz de dramas familiares com elevada potência emocional. Em entrevista para o CinemaBlend, Andrew Form, produtor do filme, revelou que uma das maiores fontes de inspiração para Krasinski foi Tubarão, de Steven Spielberg. De fato, o animal aparece poucas vezes no longa e Krasinski demonstrou sua aprendizagem com maestria.
Por mais contraditório que seja, a aptidão da projeção está em sua direção de som. Como a maior parte do filme é em silêncio, e por conta do mutismo quase sem trilha sonora, cada efeito de som é essencial e muito bem percebido. A trilha sonora aqui é trabalhada cirurgicamente para passar emoções e sentimentos, sem antecipar nem entregar os sustos, servindo mais como um apoio emocional às personagens.
A direção de arte e a fotografia aumentam a intensidade do terror e fazem com que o filme não fique entediante; por muitas vezes a câmera foca em um objeto como quem quer dizer ao público que aquilo é ou será importante em algum momento da trama, cada enquadramento tem seu propósito. Apesar de tudo, é o som que faz o filme ser realmente fascinante.
A proposta do longa é inteligente, faz o público repensar cada movimento e cada som, ficando totalmente imerso nessa realidade. A tensão aumenta a cada minuto da trama e um mínimo descuido pode resultar em uma catástrofe. Definitivamente, é um filme que deve ser assistido em silêncio, aspecto que se apresenta indiscutivelmente como personagem dentro da história; sua projeção do início ao fim é a principal causa da angústia proporcionada no suspense, qualquer barulho que o interrompa já traz ansiedade e batidas aceleradas no coração pois o público não sabe o que pode surgir em seguida.
Muito bom, Esta de parabens.