Milena Pessi
Uma mistura de comédia, romance e muito drama, This Is Us, criada por Dan Fogelman, conta a envolvente e emocionante história da família Pearson e os desafios que encontram ao longo da vida. Logo nos primeiros minutos, a série mostra Rebecca (Mandy Moore), grávida de trigêmeos, comemorando o aniversário de 36 anos de seu marido Jack (Milo Ventimiglia). Mas um imprevisto que mudaria a vida do casal aconteceu: ela estava prestes a dar a luz ao seus filhos antes da hora. O nascimento das duas primeiras crianças ocorreu tranquilamente, já o da terceira não.
Kyle, infelizmente, não resistiu e morreu minutos após o parto. Neste mesmo dia, um menino recém-nascido foi abandonado na estação de bombeiro da cidade pelo seu pai, William que não possuía condições financeiras, mentais ou saúde o suficiente para criá-lo. Seja por sorte ou destino, este bebê foi salvo pelos bombeiros e levado ao hospital onde os Pearsons estavam e acabou achando seu caminho para a família. Jack e Rebecca, seguindo o conselho do Doutor K (Gerald McRaney), médico que trouxe os bebês ao mundo, pegaram o limão mais azedo que a vida os ofereceu e transformaram-no numa bela limonada, ou melhor, em uma linda família. Quatro anos depois da estreia, This Is Us continua excelente.
Não é incomum pensar, após ler um breve resumo, que a criação da Dan Fogelman será mais uma série hollywoodiana apelativa com assunto para apenas uma temporada. Mas logo após o primeiro episódio, o público se envolve com sua maneira emocionante, respeitosa e até mesmo poética de contar a história dos Pearson que, quando os créditos sobem, a vontade é de assistir todos os episódios em um só dia é iminente. Em meio a tantas séries familiares, This Is Us se destaca pela delicadeza, a compaixão em tela que apresenta com a realidade do casal, mas principalmente porque não possui uma linearidade fixa. Ou seja, acompanhamos as fases da família, Jack e Rebecca criando três crianças, o Big Three (apelido dado pelo pai seus filhos) adolescente sendo obrigados a encarar uma grande perda e depois eles adultos, com 36 anos, aprendendo a lidar com a vida.
Kevin, o filho mais velho dos Pearson, sempre foi uma criança (Parker Bates) extrovertida e conforme foi crescendo encontrou sua paixão no futebol. Acreditando ter encontrado seu destino mas, quando adolescente (Logan Shroyer), machucou o joelho e foi obrigado a abandonar seu sonho de se tornar atleta e procurar felicidade em outra carreira. Kevin encontrou sua vocação nas artes, e se tornou ator.
Durante um longo tempo, ele ficou em negação por saber que nunca mais poderia jogar e a bebida foi seu refúgio, sendo este o início de seu vício. Com ele já adulto (Justin Hartley), This Is Us mostra as dificuldades que Kevin encontrou no mundo do cinema até a sua ascensão como o astro da sitcom Nanny, onde interpreta um babá fútil e apelativo à piadas baratas. Durante as três primeiras temporadas, o público conhece Kevin de uma maneira rasa se comparado com os irmãos mas, na quarta, felizmente ele possui mais tempo em tela e prova ser muito mais do que apenas um ator com um vício, o personagem de Justin ganha, felizmente, mais camadas e complexidade.
A segunda filha do casal, Kate, desde criança (Mackenzie Hancsicsak) luta contra o peso. Na escola é deixada de lado e sofre muito bullying por não seguir o padrão estético visto como o certo na sociedade: ser magra. Este julgamento que recebeu quando pequena a acompanhou por toda a sua vida e afetou a maneira como vê a si mesma, o seu amor próprio, a sua autoestima. Assim como a mãe, a música era a grande paixão na vida de Kate, sua voz é suave, mas com o poder de fazer multidões parar para ouvi-la. Este era seu grande sonho: cantar. Mas por causa de um trauma de sua adolescência, versão interpretada por Hannah Zeile, e os julgamentos que a seguiam por causa da sua aparência, deixou para trás.
Ao tornar-se adulta, decide que a melhor solução é trabalhar em si mesma, ou seja, ser saudável, correr atrás de seu sonho e passar pelo longo e diário processo de autoaceitação, juntando se a um grupo de apoio, onde encontra o seu grande amor, e aquele com quem construiria uma família: Toby (Chris Sullivan). Quando ele aparece na tela, é difícil não se apaixonar pelos seus atos grandiosos e românticos. Mas não se engane, esta não é uma história na qual o mocinho salva a princesa em perigo, pelo contrário. Kate (Chrissy Metz) é a grande heroína de sua própria trama, trabalhando diariamente em sua saúde e amor próprio, além de transformar um passado cheio de dor em futuro com muito amor e sonhos.
Se Kevin é a estrela, e Kate o coração e a voz, Randall, o bebê encontrado em uma estação de bombeiros, é o gênio da casa dos Pearsons. Desde criança (Lonnie Chaves), foi considerado o mais dedicado e inteligente da sala, no qual foi transferido, a partir de recomendações de seus professores, para uma escola de alunos superdotados. Durante o seu crescimento, a curiosidade de entender a sua cultura, a sua ancestralidade e, principalmente, o que significava ser negro em uma família branca aumentou. Um professor em sua pré-adolescência foi o responsável por mostrar ao garoto a representatividade negra.
É inspirador ver Randall aprendendo sobre a sua própria história e a sua ancestralidade. Quando adolescente (Niles Fitch), não foi surpresa para a família a aprovação do jovem em diversas faculdades. O objetivo do garoto era Howard, mas por diversos acontecimentos a grande escolhida foi Carnegie Mellon University, lugar onde conheceu Beth, o grande amor de sua vida. Aos 36 anos, ele está casado com sua primeira paixão e possui duas filhas: Tess e Anne. Randall (Sterling K. Brown) enfrenta diariamente o racismo enraizado na sociedade, além de sua ansiedade e os desafios de criar duas meninas.
As três primeiras temporadas de This Is Us possuem um grande foco na história de Jack, seu passado, seus traumas, vícios, sua relação com Rebecca e seus filhos. Além de mostrar, da maneira mais emocionante e envolvente possível, a vida de Kate, Randall e Kevin. No quarto ano da série, os personagens coadjuvantes ao pai ganham uma camada a mais, se tornam mais complexos e ainda mais interessantes, além da apresentação de novos rostos e do uso de flash forwards (o futuro).
Nick, o irmão mais novo de Jack, que a família sempre pensou estar morto desde a Guerra do Vietnã, retorna e cria uma peculiar relação com o sobrinho mais velho. As dificuldades que Beth e seu marido enfrentam como casal e em relação com a sua nova filha Deja. A gravidez de Kate, o processo em criar um filho com deficiência visual e um relacionamento abusivo do passado. Tess descobrindo crescendo e tentando entender a sua sexualidade e o processo de aceitação. Kevin enfrentando o seu problema com o álcool e tentando realizar o seu sonho de formar uma família. E a estrela de Sterling K. Brown interpretando Randall em busca de seu sonho de tornar-se deputado.
Desde seu lançamento em 2016, a série de Dan Fogelman sempre foi indicada ao Emmy, e esse não poderia ser diferente. Na edição de 2020, porém, em menor quantidade em comparação com os outros anos. Com indicações em Ator Principal (Sterling K. Brown), Melhor Trilha Sonora Original (Memorized), Ator Convidado (Ron Cephas Jones), Atriz Convidada (Phylicia Rashad) e Melhor Cabelo, todas na categoria de Drama. A quantidade de nomeações pode ter sido menor, mas a qualidade continua impecável e fazendo pessoas ao redor do mundo se apaixonarem cada vez mais pela família Pearson.
O talentoso ator que dá vida ao amado Randall Pearson além de, neste ano, receber a sua quarta indicação na premiação Emmy como Melhor Ator Principal, categoria que venceu em 2017, também foi indicado à Melhor Ator Coadjuvante por seu papel na terceira temporada de The Marvelous Mrs. Maisel. Na criação de Amy Sherman-Palladino, K. Brown interpreta o severo, sistemático e, às vezes, simpático Reggie, agente do cantor Shy Baldwin, e responsável por dar a grande chance de chegar ao estrelato à comediante Midge Maisel. Não seria surpresa alguma se Brown voltar para casa com dois Emmys, já que todo trabalho que se propõe a fazer possui como único resultado a perfeição.
A grande importância e sucesso de This Is Us não se dá apenas por causa da superprodução, roteiro criativo, trilha sonora impecável ou atuação de tirar o fôlego, mas sim porque as pessoas se veem representadas na televisão, as suas histórias estão sendo contadas, e da maneira mais real possível. A quinta temporada promete um maior entendimento sobre o passado de Rebecca e qual será seu destino em frente ao Alzheimer e respostas para algumas questões deixadas no último episódio transmitido. This Is Us, em mais uma temporada, continua transformando os limões mais azedos que a vida pode oferecer em uma linda limonada e fazendo o público se apaixonar pela vida.