Vitória Borges
Desde sua estreia em 2004, The L Word estabeleceu-se como um marco na representação LBGTQIA+ na Televisão. A série, que durou até o ano de 2009, conta a história de um grupo de amigas lésbicas e bissexuais que vivem na cidade de Los Angeles. O seriado tem dramas quentes, provocativos e repleto de diálogos inteligentes e personagens ricamente desenhados.
Aclamada por alguns e odiada por outros, The L Word: Generation Q (no original) nasce como uma continuação do seriado icônico. A obra, lançada quase 15 anos após a primeira, retoma sua narrativa e retorna com personagens excepcionais como Bette Porter (Jennifer Beals), Alice Pieszecki (Leisha Hailey) e Shane McCutcheon (Katherine Moennig).
Apesar de focar na vida das três melhores amigas, a produção conta também com a participação de rostos novos, que contribuem como uma cápsula do tempo no desenvolvimento da trama. Além disso, as figuras familiares já conhecidas pelo público atuam como uma ponte entre a série original e a nova geração de personagens – assim como o famoso Quadro de Pieszecki –, proporcionando certa continuidade que agrada tanto os fãs antigos quanto os novos telespectadores do seriado.
Combinando com o enredo da série de 2004, em The L Word: Geração Q, a temática não é diferente. Amores e vivências do mundo sáfico são muito bem estruturadas e expostas durante as únicas três temporadas. Dessa vez, a produção da obra, comandada pela nova showrunner Marja-Lewis Ryan, também foca em questões que abordam conteúdos atuais e muito debatidos na comunidade LGBTQIA+.
A letra ‘Q’ do título da nova série se refere à palavra queer, presente na sigla ‘LGBTQIA+’ e que reflete a fluidez sexual da atual geração. A ampliação de personagens, com diferentes identidades de gênero e orientações sexuais, espelha um certo compromisso com a inclusão e legitimidade de todos os membros da comunidade. Além de promover novas perspectivas de mundo mais de uma década depois.
Durante a primeira temporada da produção, as figuras novas são apresentadas de maneira fluida e coesa: Dani (Arianne Mandi) e Sophia (Rosanny Zayas) são um casal de lésbicas que moram com Micah (Leo Sheng); Finley (Jacqueline Toboni) é melhor amiga de Sophia e trabalha na equipe do programa de TV de Alice; além disso, temos a mais nova namorada de Pieszecki, Nat (Stephanie Allyne) que, ‘de brinde’, vem com sua ex-esposa Gigi (Sepedih Moafi). Crises, sexo e muito álcool são a resposta para o desfeixo dessa temporada, que fisga a atenção do espectador do ínicio ao fim, deixando-o com um ‘gostinho’ de quero mais.
Entre brigas e intrigas, a segunda parte de The L Word: Geração Q gira em torno de dois ‘trisais’ diferentes. De um lado, encontramos Finley, Dani e Sophia e, do outro, Alice, Nat e Gigi. Abordando as reviravoltas e as consequências que suas ações podem acarretar, a temporada é movimentada por tomadas de decisões difíceis e complicações emocionais das personagens. Após fracassar em sua campanha eleitoral, Bette, por outro lado, lida com questões familiares e românticas, tentando encontrar um novo propósito para sua vida. Já Shane, lida com os desafios de administrar um bar e conciliar seu relacionamento com Quiara (Lex Scott Davis).
Outro assunto que também é muito bem discutido na segunda temporada do seriado está na relação de Angie (Jordan Hull), filha de Bette e Tina (Laurel Holloman), ao descobrir e perceber que tem sentimentos amorosos por sua melhor amiga Jordi – interpretada pela excelente Sophie Giannamore. Essa descoberta deixa o coração ‘quentinho’ pois se trata de um romance tão puro e natural que pode fazer o público se sentir amado ao perceber que está tudo bem ser LGBTQIA+, principalmente quando você se descobre durante a adolescência.
Cancelada em sua terceira temporada, a despedida repentina da série surpreendeu parte de seus admiradores. A trama, que nos deixou com diversos assuntos ainda em aberto, teve seu último episódio lançado em 2022. Durante a fase final da produção, antigos relacionamentos chegaram ao fim e novos amores também foram surgindo. O desfecho, que se passa um ano após a chegada da segunda temporada, mantém o famoso espírito inovador e inclusivo de The L Word: Geração Q, trazendo consigo a bagagem sobre os encontros, nuances e os desafios que permeiam a comunidade queer.
Apesar dos pesares, felizmente, temos um ponto positivo acerca da temporada final da trama: o relacionamento entre Bette e Tina, que cambaleou por anos com altos e baixos, e finalmente teve seu final feliz. Nas últimas cenas da produção, vemos as duas personagens se casando e vivendo seu romance da maneira mais bonita e harmoniosa possível, assim como deveria ter sido desde o início da primeira obra da franquia.
Compreender que a clássica The L Word pavimentou o caminho para que futuras produções sáficas fossem ser realizadas é, de longe, impossível de negar. O revival que, agora, é produzido para a geração ‘Q’, proporciona uma plataforma muito poderosa para a comunidade queer. Celebrando a diversidade e a inclusão, a trama comprova a visibilidade autêntica da população LGBTQIA+ na mídia, destacando vozes, personalidades e histórias vivenciadas por pessoas do ‘vale’.
De maneira geral, The L Word: Geração Q mantém o DNA da série original ao conseguir mesclar drama, romance e humor equilibrado. O reboot não é apenas a continuação de um seriado que marcou gerações, mas sim um projeto que aborda diversos assuntos presentes hoje em dia no ‘mundinho’ LGBTQIA+. Ao explorar essas temáticas, a obra mantém sua relevância cultural e social deixada pela antiga franquia e dá continuidade ao seu legado.