A melhor forma de resistir é permanecer: a força de Paris Is Burning para a comunidade LGBTQIAPN+

 

a drag queen negra, Pepper LaBeija, desfila em um salão. Ela está vestindo um suntuoso vestido com lantejoulas douradas e mangas bufantes. Além disso, ela também utiliza luvas pretas até os cotovelos, óculos escuros, batom vermelho e um chapéu com penas verde-escuras e amarelas.. Ao redor de Pepper, estão alguns homens que, espalhados pelo salão, admiram o desfile. O local está tomado por mesas e cadeiras e, ao fundo, há portas de vidro. A parte superior das paredes é vermelha com detalhes prata e uma cabeça de animal é empregada na decoração.
Pepper LaBeija era a mãe da House of LaBeija na época das gravações de Paris Is Burning (Foto: Miramax Films)

Esther Chahin

“É como atravessar o espelho para o País das Maravilhas. Você entra nos bailes e sente-se 100% bem em ser gay. Não é assim no mundo, e deveria ser”

 – Paris is Burning

Madonna, Ryan Murphy, RuPaul e diversos outros nomes influentes da cultura pop inspiraram-se na mesma fonte para criação de alguns de seus trabalhos. Estamos falando da cultura Ballroom, que dominou a cena afro-descendente, latina e LGBTQIAPN+ da periferia nova-iorquina em meados da década de 1980. As diversas categorias que compunham os bailes e parte das narrativas sensíveis dos membros da comunidade queer à época são expostas no documentário Paris Is Burning. Lançada em 1991, a obra foi produzida e dirigida pela cineasta Jennie Livingston, obtendo seu reconhecimento com prêmios como Teddy Award, no Festival de Berlim, e de Melhor Documentário, no Festival de Sundance.

Continue lendo “A melhor forma de resistir é permanecer: a força de Paris Is Burning para a comunidade LGBTQIAPN+”

Do começo ao fim, há vida: a cultura Ballroom do nascimento ao presente

A capa é uma colagem de várias fotos de Mothers, figuras lendárias e muito respeitadas na cena da Ballroom por serem fundadoras de casas que acolhiam outras pessoas. A esquerda, Crystal LaBeija, uma pessoa negra, em um vestido vermelho com acessórios combinando e cabelo castanho volumoso e bem arrumado. Ao lado, em um recorte em preto e branco, está Angie Xtravaganza, com um elegante vestido, desfilando em uma das passarelas da Ballroom. Ao centro acima, uma parte da capa do documentário “Paris is Burning”. Logo abaixo, uma foto de Pepper LaBeija, uma pessoa também negra, em uma ball, com roupas douradas brilhantes e muita elegância. No topo direito está Paris Dupree, uma pessoa branca de cabelos loiros e olhos claros, usando uma boina e roupas pretas brilhantes que, na foto, está em uma pose de Voguing. Abaixo, Willi Ninja, um homem negro e um dos maiores nomes do Voguing de todos os tempos, considerado por muitos como o fundador do estilo amplamente conhecido, que na foto está parado em uma pose até meio contorcionsita, usando um boné azul e uma camisa parcialmente aberta.
Sendo um símbolo de resistência, falar sobre e dar os devidos créditos a Ballroom por suas contribuições é mais do que um resgate histórico: é um ato político (Arte: Aryadne Xavier)

Aryadne Xavier

“Você pensou que eu deitaria e morreria?/Oh não, eu não. Eu vou sobreviver/Enquanto eu souber como amar/Eu sei que permanecerei viva/Eu tenho minha vida toda para viver/Eu tenho meu amor todo para dar e/Eu vou sobreviver, eu vou sobreviver” 

– I Will Survive (Gloria Gaynor)

O ser humano pode não nascer programado para certos comportamentos, mas os aprende tão cedo que pode sentir, em seu íntimo, que as coisas apenas são dessa maneira. O desejo de pertencer, resquício fundamental do desenvolvimento em grupos, é tão latente que se transforma em uma vontade dupla de ser aquilo que é aceitável ou ao menos parecer ser. Lançada ao mundo pela primeira vez há 130 anos, a revista Vogue imprime o que seu próprio nome diz. Registrando e, talvez, ajudando a ditar o que está em alta, a publicação estadunidense foi, por incontáveis vezes, inacessível a uma parcela da população, que podia apenas se projetar nela, como um sonho. 

Tal projeção se via em uma sombra, refletindo aquilo que brilhava, mas o objetivo nunca foi copiar fielmente. Ao imitar as poses das modelos da Vogue em uma espécie de duelo, o grupo que participava das balls se apropriou daqueles movimentos, criando algo único. O Voguing se tornou algo muito além da revista, mesmo que seus nomes ainda possam ser assimilados. Esse ato de reconstruir, verbo que sempre fez parte dessa cultura, foi o que reinventou e revolucionou o que é ser uma pessoa da comunidade LGBTQIA+ em sua época de fundação, trazendo identidade, força e conexão até o presente.

Continue lendo “Do começo ao fim, há vida: a cultura Ballroom do nascimento ao presente”