No Céu da Pátria Nesse Instante tem desfecho nublado para o Brasil

Cena do filme No Céu da Pátria Nesse InstanteNa imagem, um homem dirige uma moto, enquanto uma mulher com um colete escrito Justiça Eleitoral nas costas está na garupa. Eles estão de costas e na frente deles, em desfoque, há uma caminhonete com pessoas em cima que vestem camisetas verdes e amarelas, uniformes da seleção de futebol brasileira e usam bandeiras do país. Há também motos com pessoas que vestem o mesmo tipo de roupa. Também é possível ver casas no horizonte. A mulher e o homem estão na faixa dos 40 anos.
O longa foi selecionado para a 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Ocean Films)

Davi Marcelgo

Selecionado no Festival de Brasília e no Festival do Rio, No Céu da Pátria Nesse Instante é um documentário dirigido por Sandra Kogut que também faz parte da seção Mostra Brasil da 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. O filme narra as eleições presidenciais de 2022 que culminam nos ataques de 8 de Janeiro de 2023 contra o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília. Em entrevista para o Canal Brasil, a diretora diz que começou o projeto no final de 2021. O ato dos apoiadores de Bolsonaro é o calcanhar de Aquiles não só da democracia, mas da produção também.

Com duração aproximada de 105 minutos, pelo menos 90 minutos são dedicados ao período de Agosto e Dezembro de 2022, tornando bem raso as impressões à respeito dos ataques, que parecem ser o foco do filme. A abertura são imagens do 8 de Janeiro, mas que só voltam a aparecer no final, prejudicando as ideias porque a partir da montagem e narrativa, nota-se que Kogut quer expressar uma ode à democracia e a felicidade de um Brasil livre de Bolsonaro, no entanto, no meio do caminho, uma ideia oposta colocou em xeque essas convicções. 

Apesar dessa falta de profundidade acerca do ocorrido, No Céu da Pátria Nesse Instante consegue dar a volta por cima e fixar duas mensagens polarizadas, assim como está sendo a realidade brasileira. A penúltima cena é um dos personagens eleitores de Bolsonaro duvidando da legitimidade da urna eleitoral e afirmando que ele e a diretora vivem em países diferentes, pois recebem informações contraditórias. Enquanto isso, o último take e os créditos são bailados pela música Tá Na Hora do Jair Já Ir Embora, comemorando a vitória de Lula e da democracia; apesar de uma significativa quantidade de pessoas mergulhadas em desinformação e manipulação, a esquerda venceu.

Cena do filme No Céu da Pátria Nesse InstanteNa imagem, muitas pessoas vestindo bandeira do Brasil e verde e amarelo estão em volta do exército brasileiro, que tenta impedir o avanço das pessoas. Elas estão filmando com o celular e levantando as mãos. O exército está em pouca quantidade e se protege com escudos.
‘Patriotas’ vandalizaram prédios públicos (Foto: Ocean Films)

O grande truque da diretora, seja em prol da narrativa ou para efeito de humor, é criar paralelos e rimas visuais. A construção dessa ideia de um Brasil dividido, vem aparecendo desde o começo, com um personagem que vende toalhas de Lula e Bolsonaro. Apesar de ser eleitor deste, ele não se importa de vender produtos da oposição, afinal “aqui é CNPJ”. A diretora, inclusive, não poupa o público de saber sua posição política, ela está contra Bolsonaro e a favor de Lula. Enquanto os eleitores de Lula e os mesários são filmados por vários pontos de vista, o outro lado é guiado por apenas uma família.

O filme se concentra nas mulheres e como elas foram protagonistas nesse evento, seja na campanha contra o ex-presidente, na denúncia de boca de urna ou trabalhando como mesárias e instruindo a população a saber votar. Há algumas cenas de comparação, que vem seguida da outra, mostrando a reação dos eleitores durante a contagem de votos e logo após o resultado. A direita se apoiando em Deus, fazendo uma roda de oração e a esquerda alegre, rindo e cantando. Sandra Kogut é bem corajosa e não fica em cima do muro, não há espaço para objetividade e neutralidade quando o assunto é política e Cinema.

No Céu da Pátria Nesse Instante é um bom documentário, mas com ausência de uma conclusão melhor. Kogut não é protagonista e a câmera tem uma posição muito forte de impessoalidade, o que deixa essa Arte subjetiva é a montagem e escolha de narrativa. Não é um ponto ruim, porém, um confronto mais direto com a filmagem ou até mesmo relatos da equipe sobre a dificuldade de realizar o projeto, principalmente quando no meio do caminho acontece o 8 de Janeiro, sem dúvidas, tornaria a experiência mais estimulante e melhor. 

Deixe uma resposta