Mateus Conte
A atriz curitibana Adriana Birolli, conhecida por seus trabalhos nas novelas globais Viver a Vida, Fina Estampa, Império e Totalmente Demais, estreou no interior de São Paulo seu novo espetáculo, NÃO!. A primeira exibição ocorreu na cidade de Barra Bonita, seguida por Botucatu e Lençóis Paulista, sempre com casa cheia. Sem dúvidas, é uma grande honra para os interioranos receber as primeiras apresentações da peça de uma profissional conhecida em todo o país. O monólogo também representa uma realização pessoal para a atriz, que conta com a parceria dos irmãos Carlito Birolli, na trilha sonora original, e Letícia Birolli, no figurino, além do namorado, o fotógrafo Ivan Zettel.
Ao adentrar o teatro, é possível ver projetado ao fundo do palco o monossilábico título do espetáculo, “NÃO”, em letras garrafais. A luz vermelha que emana dos refletores dá a tônica que a obra adota: um texto sobre proibições – neste caso, autoinfligidas –, performando um ótimo uso da psicologia das cores na dramaturgia. Também figura no cenário uma tela de fios pretos emaranhados, tal qual a da brincadeira infantil ‘Cama de Gato’, representando a desordem na vida da protagonista. Completam a cena uma pequena banqueta, uma mesinha e uma tigela repleta de gelo com uma garrafa de champanhe.
A protagonista, interpretada por Birolli, é pressionada por sua família a comemorar seu aniversário, cerimônia que não lhe agrada. Este é o ponto de partida para uma história sobre as dificuldades que muitas pessoas enfrentam ao dizer “não” às mais diversas propostas ao longo da vida, ainda que esta recusa as prejudique de alguma forma. A atriz inicia a peça entrando pelos fundos do teatro e interagindo com a plateia, imediatamente causando uma maior sensação de proximidade com o público – além, é claro, da temática abordada que é comum a todos nós.
Afinal, a carga dramática em torno do primeiro “não” não dito nos leva a uma sequência de “sins” que nos afastam, cada vez mais, dos planos que buscamos realizar ao longo da vida; sonhos estes representados por quadros pendurados na ‘Cama de Gato’ citada anteriormente. “Não” para o amor, para o trabalho, para a família, para os amigos… são muitas as ocasiões em que o medo de desagradar sobrepõe o nosso bem-estar. Estas reflexões são trazidas pela protagonista ao longo da obra, que se torna uma espécie de terapia em grupo com toda a plateia.
Uma importante frase proferida pela protagonista, que vale a menção e de certa forma resume a ideia do roteiro, é “Não é nossa responsabilidade a forma que as pessoas recebem o nosso não”. Apesar das aflições causadas pela indecisão entre escolher o “sim” ou o “não” fazerem parecer se tratar de um espetáculo angustiante e amargurado, a obra é uma deliciosa comédia que permite a própria libertação ao representar os fatos corriqueiros de nosso cotidiano de forma facilmente identificável pelo público.
O ato final retoma o diálogo com a plateia ao sugerir uma enquete, aos moldes do global “Você Decide”, sobre qual atitude a protagonista deveria tomar: o “sim” contrariado ou o primeiro “não” determinado? A peça se encerra sem um final estabelecido, delegando ao espectador a função de se imaginar na cena e tomar sua própria decisão – como bem cantava Chorão, líder da banda de rock Charlie Brown Jr., “Cada escolha, uma renúncia”.