Os melhores discos de Junho/2016

Matheus Fernandes e Nilo Vieira

Apesar de alguns aguardados lançamentos mainstream terem sido, no mínimo, decepcionantes, junho ainda teve sua cota de bons álbuns. Artistas underground dos mais diversos gêneros movimentaram o mundo da música com seus discos, que fazem parte de nossa lista.


Blood Orange – Freetown Sound

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R&B

Depois de passar pelo dance-punk com a banda Test Icicles, e pelo indie folk, em Lightspeed Champion, o britânico Dev Hynes lança seu terceiro álbum sob a alcunha Blood Orange, onde une gêneros como o funk, o synthpop e o r&b, emulando a sonoridade típica de nomes como Prince.

Aqui o cantor propõe uma reflexão sobre questões raciais e de orientação sexual: o próprio título do disco faz referência à capital de Serra Leoa, país natal de seu pai. Canções como “Hands Up” abordam temas como a violência contra jovens negros, com frases como “Keep your hood off when you’re walking”. O escritor Ta-Nehisi Coates retoma o tema em seu monólogo em “Love Ya”, onde discute a importância que questões simples, como escolher roupas, tomam quando se é parte de uma minoria. No lado mais pop do álbum, se destacam também as participações de Nelly Furtado, Carly Rae Jepsen e da cantora Debbie Harry, do grupo oitentista Blondie. (MF)


 


Clipping. – Wriggle

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Hip-hop experimental

Combinando rimas em velocidade impressionante e instrumentais vindos do harsh noise ou da musique concrete, o Clipping é um dos grupos que mais mexem com os limites do hip-hop, ao lado de gente como Death Grips. Tudo sobre a banda impressiona: seus discos saem pela Sub Pop, mesma gravadora de Nirvana e Fleet Foxes, e o vocalista, Daveed Diggs, é um ator premiado da Broadway pelo musical Hamilton.

Nos 20 minutos do EP os samples vão de 15 armas diferentes atiradas pela banda, no G-Funk de “Shooter” à banda de power eletronics Whitehouse, na faixa título, aumentando a expectativa pelo próximo full length do grupo que transforma tudo em hip-hop. (MF)

 


 

Mitski – Puberty 2

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Indie Rock

Mitski Miyawaki nasceu no Japão e passou por uma série de países antes de se estabelecer em Nova Iorque, experiência que aparece em músicas como “Your Best American Girl”, onde analisa a sua vontade e incapacidade de se adequar a cultura americana. Em “Puberty 2” tudo é intensamente honesto e confessional, tratando os dilemas da vida na fase dos 20 e poucos anos, a segunda puberdade do título, como as expectativas da sociedade, relacionamentos ruins e lidar com a depressão.

Tudo isso é feito com guitarras noventistas e vocais próprios do dream pop, em um álbum que reminisce outro clássico confessional feminino, esse de 1993, o “Exile in Guyville” de Liz Phair. (MF)


Nails – You Will Never Be One Of Us

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Grindcore, Powerviolence

Desde o disco de estreia em 2010, o grupo estadunidense vem sendo apontado como um dos grandes nomes do gênero nessa década. E não é pra menos: a violência que o Nails consegue transmitir em álbuns de curtíssima duração – este aqui é o mais longo da carreira, e ainda são apenas vinte e um minutos de música – é de fazer qualquer aficionado por música pesada chorar de alegria.

Aqui, a fórmula competente que deu fama à banda permanece intacta. Riffs de guitarra marcantes, timbres sujos herdados do crust punk, linhas de bateria fuzilantes – tudo azeitado com a urgência do powerviolence, que impede quaisquer rodeios ou masturbações instrumentais. No entanto, ainda há espaço para surpresas: a faixa que encerra o disco, “They Come Crawling Back”, flerta com o sludge metal e finaliza as atividades com oito minutos de porrada sonora. Adorável. (NV)

 


 

Swans – The Glowing Man

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Post-rock, Rock experimental

O hoje sexteto já tem mais de três décadas de trajetória, mas mesmo assim não é exagero apontá-los como uma das bandas mais relevantes dessa década. Os álbuns lançados pelo Swans após o retorno às atividades expandiram os limites da própria banda e foram cruciais para tirar o então estagnado post-rock (gênero onde a banda foi seminal) da zona de conforto que o infestava desde a segunda metade dos anos 2000.

Apesar de ser menos surpreendente que seus dois antecessores, The Glowing Man ainda reserva diversas pérolas para os que se aventurarem em suas quase duas horas de duração. De ambientações repletas de texturas que remetem diretamente a Soundtracks for the Blind (para muitos, a obra-prima do grupo) a épicos de vinte minutos inspirados no krautrock, nada aqui soa banal ou gratuito. Uma despedida muito digna para a formação atual da banda – resta a esperança de que o líder Michael Gira mantenha o alto nível em suas próximas empreitadas. (NV)


 

Terra Tenebrosa – The Reverses

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Metal avant-garde

O terceiro álbum desse bizarro trio sueco vem para confirmá-los, mais uma vez, como uma abominação (no bom sentido!) no cenário metálico contemporâneo. A música segue difícil de ser rotulada – estão ali os vocais gélidos do black metal, drones e ritmos martelados do industrial e a atmosfera lamacenta do sludge, dentre outros elementos -, e o clima de desconforto toma conta das caixas de som durante toda a audição.

Curioso notar que, apesar de ter os mesmos quarenta e sete minutos dos outros dois trabalhos do grupo (não duvido que haja alguma razão macabra por trás da coincidência), The Reverses soa bem mais direto que seus irmãos mais velhos – sem, todavia, facilitar as coisas. Para os fãs do horror sonoro, aqui está um prato cheio.


 

Whitney – Light Upon the Lake

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Indie Pop

Formado das ruínas do Smith Westerns e do Unknown Mortal Orchestra, o Whitney já nasce como essencial da blogosfera indie. O som une a sensibilidade lírica de Girls com as guitarras “jangly” herdadas dos Smiths que aparecem em seus contemporâneos Real Estate e Mac DeMarco e um toque de Country e Soul.
Ainda que essa mistura não seja inovadora ou transgrida o status quo indie, Light Upon the Lake é um dos melhores debuts do ano, ou pelo menos o mais confortável. Destaque para a incrível opener “No Woman” e para “No Matter Where we Go”, que lembra o folk de Neil Young. (MF)

 


YG – Still Brazy

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G-Funk, Hip-hop

Em 2016, completam-se 20 anos tanto do auge como da morte de um dos maiores rappers da costa oeste dos EUA, 2Pac. Desse modo, Still Brazy pode tanto ser encarado como um belo tributo ao falecido como uma continuidade dos discursos políticos do hip-hop mainstream (também da costa oeste, Kendrick Lamar foi fator central pra essa retomada dos valores 2pac-quianos em 2015). Nos dois casos, o álbum cumpre com êxito a proposta.

Nas bases, os sintetizadores pegajosos e batidas marcantes que deram tom à diversos álbuns clássicos da região na década de 90 são a regra, ao passo em que as letras abordam a violência policial, racismo e o cenário tenso da política nos EUA (“FDT” – sigla para Fuck Donald Trump – certamente deixaria Tupac orgulhoso de seu legado). As dezessete faixas fluem redondinhas, e o disco ainda leva o mérito de não soar didático ou caricato. (NV)

 

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