Carlos Botelho, Gabriel Ferreira, Jho Brunhara e Leonardo Santana
Foi um mês longo. A briga entre Nicki Minaj e Cardi B já é lendária e Kanye West entrou em parafuso de novo. Em terras tupiniquins, a sensação do momento é o Dilmazap e muita gente se posicionou politicamente — quem preferia ficar em cima do muro não saiu ileso. Fora a volta d’A Fazenda. Musicalmente, setembro não foi tão frutífero. Mas, com tanta coisa acontecendo, quem teve tempo de ouvir música?
Outubro promete.
Aphex Twin – Collapse EP
música eletrônica
Seria Richard David James um alienígena? Um dos músicos mais importantes dos últimos 30 anos, Aphex Twin tem uma discografia que segue consistente mesmo após os 13 anos de hiato. AFX voltou a todo vapor com Syro (2014) e desde então vem mantendo boa produtividade lançando EPs que, se não chegam aos ápices de Selected Ambient Works 85-92 (1992) ou Richard D. James Album (1996), são adições dignas ao seu catálogo.
Collapse EP, o mais novo material do meme preferido dos patrícios, contém incursões pelo footwork, estilo de música eletrônica de Chicago baseado em percussões frenéticas. O elemento casa bem com as tradicionais texturas ambient e andamentos complexos. Amostra de que, quase três décadas depois, Richard ainda tem o que dizer. É só apurar os ouvidos. (GF)
Christine and the Queens – Chris
synthpop
Em seu segundo álbum de estúdio sob o projeto Christine and the Queens, a cantora francesa Hélöise Letissier traz todo um universo particular de experiências ao ouvinte através de uma rica homenagem ao cenário dos anos 80. A sonoridade flerta com o pop e r&b da década perdida e o resultado entregue é um pop-funk quente e ao mesmo tempo extremamente atual, cantado em inglês e francês.
A persona criada para o registo, e que dá nome ao mesmo, é segundo a própria Hélöise uma forma de mostrar que complexidade musical e de temas não está limitada apenas aos homens. Chris é ambiciosa, voraz e sexualmente livre, mostrando uma extensão da própria cantora sobre o que signfica ser uma mulher e as questões intrínsecas de gênero. (CB)
Gal Costa – A Pele do Futuro
mpb
Incrível como Gal Costa conseguiu se renovar através dos anos. Continuando uma carreira longa e cheia de picos criativos, o novo trabalho é um olhar moderno sobre as produções disco do final dos anos 70 e início dos 80 – época em que a cantora usufruía de sucesso absoluto no Brasil. No entanto, a motivação aqui não é a mera nostalgia.
Apaixonante e leve, A Pele do Futuro é atualização da Gal que amamos há 50 anos. A rainha do Brasil ainda tem muito a oferecer. (LS)
Luiza Lian – Azul Moderno
mpb
A cantora paulistana lançou dia 27 de setembro seu terceiro álbum, “Azul Moderno”. Com sonoridade mais orgânica e um pouco distante da macumba eletrônica presente em seu maravilhoso trabalho audiovisual anterior, “Oyá Tempo”, Lian é melódica e ainda muito ligada a umbanda.
A partir de temas relacionados à alma e à carne, o disco caminha entre o prazer, amor, espiritualidade e a consciência.
Algumas canções se fundem com orações cantadas, como “Sou Yabá” e “Santa Bárbara”, em referência aos orixás com quem Luiza se conecta.
Produzido por Charles Tixier e Tim Bernardes, o disco possui 10 faixas e se mostra como um dos melhores da crescente MPB pop brasileira. Sem dúvidas um exemplo de excelência na construção de novas sonoridades. Destaque para “Mil Mulheres”, “Sou Yabá” e a faixa-título. (JB)
Noname – Room 25
rap, neo soul
O segundo registro da rapper de Chicago indica evolução e amadurecimento. De cara, a referência que vem à mente é Erykah Badu. Mas, ainda que Noname beba dessa fonte, seu flow fluído e leve soa fresco e novo. Room 25 é uma novidade bem-vinda.
A brilhante volta da artista independente vem carregada de ironia e história pra contar. Exemplo da faixa de abertura, Self, um recado bem dado pra quem duvidou do poder feminino no rap. O resto da tracklist se divide entre flertes com o jazz e reflexões que ficam para além da música em si. Imperdível. (LS)
Um comentário em “Melhores discos de Setembro/2018”