Adriano Arrigo, Matheus Fernandes, Nilo Vieira
Infelizmente, mas um mês sem boas notícias por estas bandas. Enquanto alguns aproveitaram o período de férias, nós continuamos no batente. Nesse tempo, a fatídica morte de Chester Bennington (ícone da infância e pré-adolescência de todos aqui) caiu como uma bomba e é quase sintomático que a seleção tenha sido menor. Enfim, segue abaixo a nossa trilha mensal.
Broken Social Scene – Hug of Thunder
indie rock
Um dos nomes mais subestimados do indie da década passada está de volta. Em seu primeiro álbum em sete anos, o coletivo canadense (cuja formação inclui a cantora Feist) não repete a grandiosidade do petardo You Forgot It In People (2002), mas nem por isso deixa de soar empolgante.
Em tempos onde nomes como Strokes e Arctic Monkeys cada vez mais perdem o frescor em prol das ambições anêmicas de seus líderes, o Broken Social Scene ainda pensa como conjunto. O resultado são canções intimistas, onde as colaborações de cada um dos 17 membros oficiais fazem a diferença. Uma ode à amizade na era virtual, é o disco que o Arcade Fire poderia ter lançado este mês. (NV)
Converge – I Can Tell You About Pain
hardcore, metal moderno
São apenas 10 minutos de música, mas já basta: enfim material novo do Converge! Cinco anos após o ótimo All We Love We Leave Behind (2012), os ícones do metalcore mostram que não perderam a forma em nenhum aspecto – vide a bela capa (cortesia do vocalista Jacob Bannon) e o clipe para a faixa-título.
Entre riffs crust e atmosferas sludge no melhor estilo Neurosis, o EP não só cumpre a função de relembrar a relevância da banda no cenário atual como atiça os ânimos para o vindouro disco completo, a sair ainda este ano. (NV)
JAY-Z – 4:44
hip hop
Quase 15 anos depois de seu Black Album, o último trabalho de respeito, o rapper/ empresário/ marido da Beyoncé volta ao topo de seu jogo com 4:44, seu 13º disco de estúdio (como destacado na capa do mesmo).
Em 36 minutos divididos em 10 faixas concisas, o rapper aborda seus conflitos com Kanye, as acusações expostas em Lemonade e a sexualidade de sua mãe em rimas que se não estão entre as melhores da carreira, são suas melhores em décadas. Sustentando tudo isso, a produção oldschool de seu parceiro No ID. Outro destaque do trabalho é o clipe “Story of OJ”, onde o rapper subverte os cartoons racistas do último século. (MF)
Migos – C U L T U R E
trap
Ok, mea culpa: como se trata de um slow burner, este não entrou na seleção de seu mês de lançamento (um longínquo janeiro) e, desde então, não sobrou espaço. Antes tarde do que nunca, correto?
Se CULTURE não é o disco definitivo do trap de Atlanta, ao menos é o grande disco do gênero em 2017. Com uma combinação certeira de camadas etéreas em midtempo, adlibs serelepes, harmonizações de Quavo com autotune e flow em staccato, o trio consolida a carreira e o status do gênero – agora respeitado e elogiado pela crítica. Diferente do que afirmou Childish Gambino, os Migos talvez não sejam os Beatles desta geração. Mas todo o burburinho em volta deste álbum não é à toa: cabe ao ouvinte insistir além de “Bad And Boujee” – faça o pela cultura. (NV)
Nídia – Nídia É Má, Nídia é Fudida
kuduro, funk carioca
Não foi só o Zeca Camargo que caiu no encanto de Nídia esse mês. De identidade forte, o disco de estreia da portuguesa de 20 anos fã de Nicki Minaj é uma mistura singular de kuduro, alinhada ao dancehall e funk carioca.
O disco de Nidia, então, é um retrato real e popular da cena eletrônica urbana de Lisboa sem parecer prepotente ao denuncia a situação das estruturas sociais portuguesa. “Mulher Profissional”, “Puro Tarraxo”, “I miss My Guetto” são só alguns destaques de um disco quee é quase impossível de pular alguma faixa que são, infelizmente, muito curtas. Nada que comprometa a produção, pelo contrário. Nídia é Má, Nídia é Fudida mostra a capacidade frenética da portuguesa em demolir muito com pouco. (AA)
Porter Ricks – Anguilla Electrica
Dub techno
A atmosfera opressiva que o duo alemão Porter Ricks cria em Anguilla Electrica não está, de forma alguma, representada nas cores da capa de um disco que saiu em um hiato de 20 anos.
Anguilla Electrica é baseada em texturas escuras e monocromáticas, uma peça que gira em torno samples com vozes distorcidos, loops obscuros e beats que parecem feitos debaixo d’água com engenharia prestes a enferrujar.
Não à toa, o disco obriga a imersão. Seu design complexo de texturas precisas são condensadas em 6 faixas não muito fáceis. É necessário atenção por parte do mergulhador que optar por experienciar seu sofisticado naufrágio sinistro. (AA)
Tyler, The Creator – Flower Boy
hip hop, suaveira foda
Entre polêmicas líricas, persona cartunesca e clipes bizarros, o líder do Odd Future se tornou rapidamente um dos nomes mais representativos do hip hop na era da Internet. No entanto, seus álbuns sempre pecaram pela inconsistência, alternando entre bangers como “Yonkers” e fillers descartáveis.
Em (Scum Fuck?) Flower Boy, a figura muda. Com 46 minutos precisos, a típica agressividade de Tyler abre espaço para sua faceta mais reflexiva, com versos abordando sua (possível) homossexualidade. O instrumental parece ser uma resposta ao Blonde do companheiro Frank Ocean, com sintetizadores r&b ditando o ritmo. Homogêneo e ainda viciante, deve se firmar entre os melhores discos de 2017; e também como o melhor registro de Tyler até o momento. (NV)