Júlia Paes de Arruda
Taylor Swift pode ter cantado as delícias de se completar 22 anos lá em 2013, mas, no cenário atual, Luísa Sonza vira essa chavinha para vomitar todo o azedume que sentiu ao celebrar tal data. Vítima de um casamento inquieto e alvo de diversos ataques de ódio, a gaúcha mergulhou em suas próprias emoções para tentar digerir todos os comentários ofensivos a seu respeito. Por isso, fomos agraciados com as 14 músicas de DOCE 22, álbum lançado no dia 18 de julho de 2021, em seu aniversário de 23 anos, para louvar o novo ciclo de renovação.
Não é coincidência que o seu segundo trabalho de estúdio se inicie com a majestosa INTERE$$EIRA. A cantora não tem pudor em declarar as ofensas que recebeu no primeiro verso da canção. “Puta, vagabunda e interesseira” foram os comentários mais atribuídos à sua imagem, especialmente depois do término de seu conturbado relacionamento, que era colocado em um pedestal pelos que o acompanhavam pela internet – não faltam referências subliminares para tal evento (entendedores entenderão).
Seguindo nessa mesma linha, nos deparamos com a obra-prima de DOCE 22. Com um lyric video que gerou polêmicas, a artista reforça ainda mais o quanto sua vida pessoal é mais midiática que seu trabalho como cantora. Enquanto seu desfile no tapete vermelho é capturado por poucos fotógrafos, a limousine em que ela está aos beijos com Vitão, seu namorado da época, é acobertada por flashes e pessoas desesperadas por um furo jornalístico – uma nítida alusão às críticas no clipe de Flores. Por mais que o hate tente contrariar, é fato que, em 2021, Luísa Sonza foi definitivamente a MULHER DO ANO XD.
É incontestável dizer que a música mais emocionante do álbum é penhasco. A própria cantora afirmou que destrinchar tudo que estava sentindo para suas amigas Day Limns e Carol Biazin (com as quais também divide os créditos na composição) foi um momento difícil para ela. Essa angústia é nítida em seu lyric video, onde há uma referência à única entrevista televisionada de Clarice Lispector. Luísa se mostra angustiada, atordoada e incomodada com toda a situação, trazendo a melancolia da produção original para os eventos da sua vida pessoal. A belíssima fotografia do clipe se mistura com os versos lamentosos da canção, e somos atingidos no peito como um soco – rápido, mas agonizante: “eu tive que desaprender a gostar tanto de você”.
o conto dos dois mundos (hipocrisia) e também não sei de nada 😀, parceria com Lulu Santos, também caminham nessa direção, complementando o sentido uma da outra. Entretanto, melhor sozinha :-)-: é a que ganha o destaque, especialmente depois do lançamento de uma versão com a eterna Marília Mendonça. É irônico pensar que o título seja esse sendo que a dupla engrandeceu ainda mais o trabalho de Luísa. A união das duas vozes imponentes constrói uma acústica tão gostosa de ouvir, que é difícil não acompanhar o ritmo dos versos simples e da melodia serena. Não é preciso explicar a mensagem por trás de tudo, você entende de cara.
As pessoas que não sabem amar
Elas te obrigam a ser pequena
Elas te obrigam a se desfazer
Do que você é, das suas peças
A se desencaixar de você mesma pra se encaixar
Em um lugar que você nem pertenceE você tem tanta certeza que um dia
O amor dos seus sonhos
Vai finalmente florescer
Que nem se importa de se quebrar um pouquinhoSe é tudo em nome do amor
Por que mesmo assim você não se sente amada?
Sendo DOCE 22 um álbum extremamente íntimo, a gaúcha intercala as melodias com conversas descontraídas durante as músicas. Essa técnica pode ser ouvida com mais facilidade em fugitivos 🙂, faixa que conta com a participação do querido Jão. Esse recurso, além de gerar mais proximidade com a artista, demonstra um lado mais pessoal de Luísa Sonza, longe das câmeras e dos estereótipos.
Em razão disso, ela não abandona seu lado sensual nesta produção. Nem mesmo opiniões machistas a impossibilitaram de lançar ANACONDA *o* ~~~ e CAFÉ DA MANHÃ ;P, hits nas redes sociais pelas danças chiclete e bem coreografadas. Sem esquecer, também, de MODO TURBO junto de Anitta e Pabllo Vittar, com o clipe mais elaborado e mais caro de toda a carreira de Luísa.
DOCE 22 foi lançado, a princípio, sem três faixas: as parcerias de Luísa com Jão, Ludmilla e Mariah Angeliq, as quais foram lançadas posteriormente como singles e com clipes impecáveis. Mesmo com as críticas, essa estratégia de marketing, criada pela própria cantora e sua equipe, alcançou o sucesso, atingindo mais de 4 milhões de reproduções no Spotify nas primeiras 24 horas de sua estreia e marcando a volta da gaúcha para as redes sociais.
Toda a estética do álbum teve a participação de Luísa, que esteve no processo criativo das músicas (produzindo junto de Douglas Moda e Nave) e da direção de todos os lyrics videos, ao lado de Felipe Gomes. Na composição das faixas, também cita-se Vitão, Carol Biazin e Day Limns, que além de serem músicos em ascensão no pop nacional, são amigos próximos da artista e estavam envolvidos direta e indiretamente nos momentos difíceis da cantora. Assim, seu álbum prova que, quem diz que ela não tem talento, está inteiramente enganado.
Todo o amargo que Luísa Sonza viveu nos últimos anos foi revertido em DOCE 22, uma das obras nacionais mais reproduzidas e prestigiadas em 2021. Com toda a sua vida pessoal pautada nas redes sociais, ela respondeu à altura todo esse sufoco e, definitivamente, não há palavras para a grandiosidade desse feito. Com a promessa de uma turnê e o lançamento de sentaDONA (remix) s2, os fãs ficam no aguardo de mais amostras do imensurável potencial da cantora, acompanhando sua evolução artística no cenário da Música nacional.