Giovanne Ramos
2016 foi um ano marcado por diversos acontecimentos no K-pop. Enquanto Twice se consolidava com Cheer Up, BTS conquistava o público com Blood, Sweat and Tears e Blackpink estreava com Square One, LOONA dava seus primeiros passos, discretos, mas ambiciosos. O grupo surgiu da ideia da empresa novata Blockberry Creative em parceria com o diretor criativo e produtor musical Jaden Jeong e tinha como proposta um grupo trabalhado antes mesmo de estrear. A cada mês, uma integrante seria promovida ao público com um single solo e conforme o decorrer do tempo, sub-units eram construídas e promovidas com as integrantes já conhecidas até o grupo inteiro finalmente ser revelado com todas as integrantes.
Heejin, a primeira integrante liberada ao público, abriu a jornada que seria conhecida futuramente como loonaverse, onde todas as integrantes com suas respectivas cores e animais representativos se uniriam para um universo maior cheio de teorias próprias. Em seguida, vieram as integrantes HyunJin, HaSeul, YeoJin e ViVi, onde com a exceção de YeoJin – a mais nova do grupo – integrariam a sub-unit LOONA ⅓. Outras duas sub-units viriam a seguir com novas integrantes, LOONA/ ODD EYE CIRCLE com as integrantes Kim Lip, JinSoul e Choerry e finalmente LOONA/yyxy com Yves, Chuu, Go Won e Olivia Hye. O grupo antes da estreia como 12 integrantes, chamou atenção pela qualidade quase cinematográfica dos videoclipes, a variedade de estilo musical de cada solo e álbum das sub-units e as teorias que interliga todos os materiais lançados.
Com um investimento menor do que grupos de empresas maiores, as big 3, as meninas conquistaram o seu espaço e popularidade graças à panfletagem boca-boca dos fãs. Garimpando admiradores a cada lançamento de solo, LOONA se beneficiou muito do movimento stan loona, hashtag que viralizou no meio e em algum momento você já deve ter se deparado pelas redes sociais. Ao contrário de girlgroups que já estrearam com contratos publicitários e grandes investimentos – comum nesse meio -, o primeiro grupo da iniciante Blockberry Creative, conquistou os primeiros patrocínios grandes graças ao barulho do fandom.
Em 2018, após dois anos de espera, o grupo chegou ao mundo com a sua formação completa e dois singles favOriTe e Hi High. Enquanto a primeira ressalta a atitude poderosa do grupo, a segunda mostra o lado divertido com sonoridade chiclete. A combinação se segue dentro do primeiro lançamento [+ +]. Para o relançamento [X X] o grupo tomou rumos diferentes do que foi entregue anteriormente, apostando num r&b mais denso e maduro, junto do single Butterfly, regado de uma batidas eletrônica e sintetizadores. Mostrando ser um grupo que cabe em qualquer conceito oferecido, em 2020, LOONA deixa para trás o som único construído em 4 anos de carreira e se aventura num som mais comercial com o [#], onde contou com toques do produtor Lee Soo Man – proprietário da empresa SM Entertainment e responsável por grupos como TVXQ, SNSD e Red Velvet.
As mudanças foram percebidas logo de cara. Em [#], LOONA abriu mão de Jaden, a principal mente por trás do grupo, e explorou novos produtores. Monotree, produtor responsável por maior parte da discografia do grupo, não apareceu nesse novo trabalho. So What, single do projeto, apesar de sua estrutura fora do convencional, adequou as meninas para uma estética mais mercadológica e semelhante de outros grupos como Itzy e Everglow. Apesar das novas adequações, passa longe de ser um material genérico, mas não agradou a maior parte dos fãs, os orbits.
No dia 16 de setembro, a Blockberry Creative anunciou uma nova volta e um novo material para outubro, começava então os preparativos para a nova era. O projeto até então havia atingido patamares musicais difíceis de serem elevados e de certa maneira mantidos também. A experiência do EP anterior tampouco colaborou, então as expectativas para os novos rumos do grupo estavam em seu ápice. Liberada a lista de músicas e profissionais envolvidos, um nome conhecido chamou atenção: Lee Soo Man. Uma coisa era certa, de alguma maneira o Midnight teria ligação estética e sonora com a aventura anterior. Nas vésperas de lançamento nas lojas e plataformas digitais, o single de [12:00] vazou nas redes junto das b-sides, mas isso não influenciou no desempenho.
A espera foi positiva. As semelhanças de [12:00] com o seu antecessor começam e acabam na faixa Why Not?, que apesar de trazer uma sonoridade próxima de [#], soa mais lapidada e melhor produzida. O trabalho no geral retoma o carisma, o tom natural e extrovertido com que LOONA conquistou o público. Totalmente chiclete, a faixa título por mais estranha possa parecer na primeira reprodução, cativa o ouvinte com os “Di da dam di dam di dam Dam dam dam di dam” e “uh la la awe andwe andwe” extremamente viciantes. Logo na intro, que carrega o mesmo nome, é possível escutarmos uma contagem regressiva e logo a seguir um instrumental remixado que cria uma atmosfera semelhante a uma viagem, estamos entrando em órbita junto do LOONA.
E o que esperar do som nesse novo espaço? Um conjunto sonoro cheio de pontos positivos e praticamente nenhum negativo. Voice é uma das melhores surpresas, uma balada retrô energética e com batidas repetitivas e envolvente. Star, ao final do disco, é a sua versão em inglês, um mimo para os fãs internacionais – onde o grupo possui melhor êxito -. Universe também merece um reconhecimento especial, uma balada onde as integrantes exercem o seu vocal suave unido de um instrumental up-tempo eletrônico, totalmente envolvente. Fall Again, por sua vez, cumpre o papel da música lenta que mostra todo o potencial vocal melódico e harmônico das 12 meninas, junto de um ritmo mais lento, com pegada r&b bem sentimental.
Mas Midnight não é feito de um ritmo só. Como sempre, o grupo explora a sua versatilidade com outros ritmos e gêneros e isso pode ser visto nas faixas Hide & Seek e OOPS!, ambas responsáveis pela parte alto astral da tracklist. Enquanto a primeira cumpre a cota dançante no maior estilo pop e cool, mostrando que apesar de terem evoluído musicalmente para esse álbum, ainda têm em sua essência o estilo divertido e brilhante. OOPS!, por sua vez, expressa a faceta confiante e cheia de atitude do grupo, com um instrumental mais dinâmicos e batidas eletrônicas e a letra com um só fim: o amor próprio.
No geral, Midnight é uma jornada interessante, descompromissada e contagiante. A mensagem de liberdade, autoestima e as teorias diversas que [++], [XX] e [#] carregam, continuam aqui. Mesmo perambulando em diversos conceitos e estilos, o grupo parece estar encontrando a sua identidade musical. Poucos dentro dessa indústria têm a coragem de mudar tanto a cada comeback sem perder a essência, a qualidade e o mais importante, amadurecendo durante a jornada. LOONA está longe de atingir o seu destino final, a órbita parece ser apenas um dos percursos que as artistas nos convida a experienciar, quem sabe o que virá a seguir?