César Cabral
Sergio Pizzorno, compositor, guitarrista e às vezes vocalista do Kasabian, resolveu retomar um pouco do som característico da banda em seu início de carreira. “eu queria tentar e escrever um bom álbum de guitarra”, disse em entrevista ao jornal britânico ‘The Independent’.
O Kasabian parece não ter medo de quebrar expectativas. Com seu mais novo lançamento, For Crying Out Loud, a banda mais uma vez rompe, quase que por completo, com a melodia do disco predecessor. Para quem esperava que o álbum anterior, 48:13 (2014), marcaria a entrada da banda em uma onda psicodélica, se enganou. Apesar de que esse pode ser o divisor de águas do grupo – já com seus 20 anos de carreira – entre o frio e o quente. O 48:13 fez o psicodélico e o dançante tomarem o lugar do rock sóbrio e desalento de Velociraptor! (2011) – um som em que a banda se aprofundava lentamente desde os discos primordiais.
For Crying Out Loud, lançado em 05 de maio, cumpre em meios-termos com as palavras de Pizzorno: a guitarra foi priorizada e o sintetizador perdeu o seu protagonismo, mas não foi entregue ao esquecimento. A pegada do disco é feita para agradar a primeira base de fãs e conquistar novos – a guitarra e bateria primordial antes de 2014 com a efusividade do segundo álbum (Empire, 2006).
É um álbum que nasceu para ser e conquistar o mainstream, tem características pop. O primeiro single divulgado, ainda em março, “You’re In Love With A Psycho” foi a prévia do que viria a ser o novo disco. Ele parte para a linha mais alegre do indie rock misturado com um pouco de eletrônica, mantendo, assim, o espírito do querer dançar, mesmo que a passos tímidos no quarto. É a homeostasia de riffs pesados com o entusiasmo das letras e da voz de Tom Meighan. É a combinação que vicia e te prende no ‘repetir’ do player de música, o que pode fazer enjoar facilmente – eis uma das essências do popular. E como tudo na vida tem sua excessão à regra, Pizzorno – que vez ou outra também canta munido de seu violão em acordes simples – diminui um pouco o ritmo “disco” do álbum em “All Through the Night” mostrando que uma música mais calma não é um “outsider” no álbum.
É o sossego da euforia musical, porém não se torna depressiva – não foge do animus do CD, não causando assim nenhum estranhamento ou quebra de clímax. Em outras palavras, a melodia se mantêm, conforme afirmou o guitarrista e compositor: “Nada que não devesse estar ali entraria no álbum”.
“Bless This Acid House” parece ser a galinha dos ovos de ouro de For Crying Out Loud, pois é a faixa com ritmo mais contagiante dentre todas. É expansiva com a melodia, otimista: “You’re thinking it’s all over/ I swear they’re never gonna break you/ Gotta hold on tight/ Still life just waiting for the weekend” e aconselhadora com frases cliché: “This town is easy to forget/ Don’t take the world upon your shoulder”. O prato cheio para a aceitação da média e um bom ranking de músicas mais escutadas, ao menos, pelos britânicos. A música pode ser muito bem definida como o ápice do êxtase do álbum, quiçá da própria banda, e até mesmo o ritmo mais pop deles.
De duas, uma: Ou o Kasabian seguirá rumo ao mainstream com sua pegada happy rock (tendência iniciada por 48:13, que culminará em uma nova fase do grupo) ou então voltará ao ritmo sóbrio pré-2014 fazendo de For Crying Out Loud e 48:13, dois álbuns marcantes e experimentais da banda, cujo ritmo foi descontinuado posteriormente.
For Crying Out Loud é a junção dos estilos antigos – sonoridade – com a ousadia do 48:13 – a vibração. Todavia isso não faz do álbum algo ruim, a ser desconsiderado por quem já ouve a banda ou a ser evitado como primeiro álbum a ser escutado para o desconhecedor de Kasabian. Porém, um lado a ser destacado dessa mudança é os “fãs de um único álbum”, pois os novos ouvintes da banda captados pelo recém-lançado disco podem não gostar dos antecessores.
Mesmo assim é um disco para ser escutado sem compromisso e pretensões. Cumpriu com sua finalidade e marca a imersão ao mundo pop em que gregos e troianos são agradados facilmente.